Cola cum Fróis

Escrevo pela necessidade de me livrar das palavras | @_dudufrois

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Das adversidades que lhe fazem enxergar


"A minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas pra mim: silêncio e solidão."
Cecília Meirelles



E nasceu uma criança. Outra dessas aí que nascem aos montes todos os dias. Nasceu com saúde, vigor e muito escândalo. Pinta de gordinha. Talvez não estivesse lá se sentindo muito a vontade quando nasceu. E assim, sem muita vontade, é que ela foi crescendo. Do colo quente ao chão frio. Do leite materno ao Tyrol gelado. Dos pacotes de Pamper´s às roupinhas de marcas em promoção. Sem qualquer escolha, ela crescia e descobria um mundo novo.

Quando a menina saiu pra rua sozinha pela primeira vez, se sentiu livre como nunca. Se viu na pele do seu cachorrinho de estimação quando escapava pelo vão do portão e despontava a correr chacoalhando os pelos, pra cima e pra baixo. Queria ser grande que nem os outros. Queria andar pra lá e pra cá, sem rumo, tal qual os adultos. Na rua a guria ficava atenta a todo tipo de gente que desse na vista. Observava seus passos. Ouvia suas frases, mesmo que não compreendesse a maioria delas. Acompanhava seus atos. No fundo, ela tentava desvendar o pensamento alheio. Ainda não entendia muito bem esse negócio de pessoas.

Já caminhando pelo bairro com certa autonomia, a moça começava agora a guardar rostos e nomes. E alguns trejeitos também. Atenta que só, estava lá quando viu o time da várzea comemorar a vitória ali no campinho do bairro. E também viu quando rolou uma baita pagodeira no bar do Pinguim. Mas a moleca gostava mesmo era de ver gente indo e vindo. Chegando e saindo. De mo-vi-men-to! Não desgrudava os olhinhos da avenida principal. Queria até conhecer a tal da rodoviária, que vira apenas pela telinha da televisão, fascinada.

Como a quebrada da garota era mesmo um tanto movimentada; ela, como toda boa criança, tomara gosto pela rua. E foi na rua que presenciou as sonoras discussões da D. Beti com Seu Célio. Saía até garrafa quebrada. Viu também as frequentes brigas entre moleques mais velhos, assim que acabava o futebol na quadrinha. Já na calçada, num canto escuro, enquanto trepava na árvore, ela viu dois homens grandes e maus romperem o silêncio da noite, vindos em uma moto barulhenta, ainda de capacete, atirarem no primo do Juquinha. E da mureta de sua casa, assustada, a moçoila assistiu quando levaram a bicicleta que seu pai ganhara no bingo, sem ao menos poder correr atrás.

...

A pequena até parou de brincar na rua durante uns dias. Só que não aguentou. Mesmo com tanta coisa errada, embora houvesse quem discordasse disso, ela sabia que a rua teu espaço também. E saiu fora. Se jogou pra brincar na ruas do mundão de novo. Mas agora ela não ia ser só uma menininha. Ela não via mais tudo com a inocência e o brilho no olhar de antes. Não. A jovem olhava a cada um com enorme desconfiança. Olhava nos olhos, sem medo. Quem não a conhecia dizia logo que era puro desprezo, arrogância de gentinha mimada.

Ao contrário dos outros, tinha pé atrás com quem andasse bem vestido, engravatado. Questionava professor, inspetor e diretor; sem medo. Muito sorriso no rosto, pra ela, não tinha erro, era falsidade. Até do irmãozinho mais novo ela desacreditava. E olha que ele não tinha nem oito aninhos. Segundo ela, o moleque aprendera a mentir com a televisão ligada. A tagarela, agora, muito mais ouvia do que abria a boca. Ela não duvidava do que um ser humano pode fazer.

E assim, ao invés de uma visão lustrosa e perfeita da vida, ela passou a enxergar mal. Propositalmente mal. Passou a ver só o feio, o sujo, o marginalizado. Passou a gostar de ver o que ninguém gosta, afinal não se contentava em falar por falar. Em rir por rir. Em olhar só por olhar. Era como se a guria tivesse dificuldades de admirar o que é belo no mundão.

Solitária, a rapariga se declarava contraditória o suficiente para procurar defeitos nos outros. Só que os outros, não. Viam nela um poço de ruindade. Uma mini Geni, no auge de uma desinocência rebelde. Desconfiavam da menina curiosa, inconveniente, que não sabia amar. Não que ela não tivesse amigos. Até juntava bastante gente ao seu redor, principalmente na rua. Só que no fundo, ela corria só. Firme, e só. Conforme se deparava com tal rejeição, tal maldade, sua visão ia captando cada vez mais as contradições de uma rua falsa e desigual. Sua visão agora era turva. Absolutamente rabiscada. E isso a amadureceu de vez. Pra ela, o inferno sempre fora aqui.

...

Ela era, então, pequena só no tamanho, porque já conhecia bem onde vivia. Atitude de gente maior. Cara de mau e um olhar, simultaneamente, sereno e intimidador. Sabia bem o que aconteceu. E tinha ideia do que estava acontecendo. Essa visão comprometida é que lhe deu esse tom cético. Tinha plena noção inclusive de que, acontecesse o que acontecer, pouca coisa ia mudar. A donzela tinha era dificuldades em ver o superficial, o que as pessoas viam junto a ela. Sobre ela. E assim, ela... Ela passou a enxergar além de tudo isso. Com esforço, botou profundidade no olhar. Como se visse até mais longe, dialogasse com as estrelas.

Por viver no mundo da lua, sua rua passou a ser a Via Láctea. E assim ela seguiu crescendo. Não no tamanho, não na ganância, muito menos na vaidade. Cresceu apenas na idade, porque sua alma, inquieta que só, sempre será de moleca. Observadora silenciosa, continuou se misturando com os outros, de visão perfeitamente normal. Se camuflando na multidão. Óculos, pra ela, não adiantavam. A não ser os escuros, em que sentia-se na calada da noite em pleno fulgor da luz solar. Não que isso concertasse sua visão pessimista de um mundo péssimo. Era apenas mais discreta.

A jovem só queria passar despercebido. Enxergava distante, pensava longe... Passou a escrever poesias, sem sequer tornar-se poetiza.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Rolê no centrão de Florianóplix

Ainda não devidamente enraizado mas já a vontade para falar de lugar, narrei minhas impressões cá nestas terras manezinhas. Não fui só, junto a mim estavam também outros estudiosos.

Tendo a escadaria da grandiosa Catedral Metropolitana de Florianópolis como ponto de encontro para a saída de campo duma disciplina que eu tô cursando, já voltei a mente pra influência histórica da religião católica sobre a formação das cidades brasileiras. Só que além de receber missas, casamentos e celebrações religiosas; e se tornar um ponto turístico, a catedral também virou uma espécie de marco social onde as pessoas se encontram, vão para o local para verem e serem vistas; marcam encontros, atos, protestos e até mesmo aulas de antropologia.

Catedral Metropolitana de Florinópolis 


Talvez pela grandiosidade da obra arquitetônica, as suas escadarias se tornaram referência geográfica da capital catarinense. Assim como a Praça XV, que se localiza logo em frente da igreja. Cenário da passagem apressada diária de milhares de pessoas, o local também é ocupado e, portanto, possui suas características particulares de público. Por lá é comum encontrar o espaço das barraquinhas de comida e artesanato, mais próximo à catedral; o espaço dos idosos que passam o dia jogando baralho e dominó, também próximos à igreja; o espaço dos moradores de rua, mais espalhados ao longo da praça, que se misturam com turistas e trabalhadores do centro que vão se refugiar ali; e os diversos tipos sociais que se encontram e se integram em meio ao centro histórico de uma cidade de quase meio milhão de habitantes. O espaço de cada um desses grupos sociais não é demarcado visualmente, mas habita o consciente coletivo de cada conhecedor do local.


antiga Casa de Câmara e Cadeia


Caminhando então pelos lados da Casa de Câmara e da Cadeia antiga, que hoje estão em reforma, a população vai se diversificando em cores e idades. Por se tratar de horário comercial, e aquela região abrigar muitos escritórios, o vai e vem de pedestres e carros é intenso pelas ruas estreitas. A localização dos chamados cursinhos pré-vestibular contribui para o fluxo. Porém, a vida ao longos dessas ruas dura conforme o horário comercial. Após o expediente a região vai ficando vazia, já que não existem grandes condomínios residenciais, e os prédios, mais antigos, não têm, em sua maioria, estacionamento e mais do que dez andares. O interessante é saber que uma ruela em especial da região ganha sobrevida à noite devido a concentração de bares: é a Travessa Ratclif. Ela atrai sobretudo jovens e pessoas que saíram do trabalho e vão para lá fazer o chamado “happy-hour”. Além disso, o local também é frequente palco cultural de sarais e apresentações regionais, dentre elas uma tradicional roda de samba da ilha.


Travessa Ratclif


Do outro lado da praça podemos notar com nitidez a diferença entre o passado histórico - e sua busca pela preservação - e a contemporaneidade. Nos prédios enxergamos antigas construções, com os traços da arquitetura europeia que colonizou a cidade. No entanto, nos mesmos prédios, na parte do solo, no qual é feito o contato direto com a população que por lá circula, vemos a apropriação atual do comércio de grandes franquias de lojas sobre o patrimônio histórico. Ou seja, num enquadramento distante, quase que panorâmico o centro da cidade aparece como que em sintonia com as raízes culturais de sua colonização. Entretanto, ao aproximar o olhar para a visão de um consumidor comum - seja ele morador ou turista - o que vemos não são mais elaboradas construções; e sim banners, anúncios, letreiros e placas de ofertas das diversas lojas ali instaladas.


o novo Mercado Público


Chegando ao agora reformado mercado público podemos nos dar conta de maneira mais clara da situação referida. Restaurado conforme sua construção original o mercado está pintado e com aparência nova. Adentrando o local, já podemos encontrar fast-foods, além de bares e restaurantes de maior requinte. Isso seleciona de tal forma o espaço dando a impressão de quase um shopping com ares coloniais. Ou seja, a estrutura mantida; só que o que é comercializado se altera de acordo com a demanda do mercado, desta vez o financeiro.


Rua Vidal Ramos


Shopping realmente é a rua Vidal Ramos, o chamado shopping a céu aberto. Tendência também importada de fora, ela se tornou uma espécie de Open Mall ao abrigar lojas com pouco mais requinte do que as outras, espalhadas pelo centro de Florianópolis. Seu público é ainda mais selecionado, de acordo com o preço do que é vendido. Toda largura da rua é pensada para que o consumo ocorra, que nem em shopping. Carros andam devagar numa passagem estreita. Pedestres circulam com folga e com ampla visão da entrada das lojas. A iluminação é mais elaborada, e banquinhos, como que em uma praça de alimentação, integram o detalhado cenário da Vidal.


feirinha do Largo da Alfândega


Voltando para o terminal de ônibus trombamos a feirinha da Alfândega, que é onde a circulação de pessoas é mais intensa, diversificamos ao máximo o nosso contato com as pessoas. Entregadores de panfletos são comuns. Seu conteúdo vai de puteiros à cursos de capacitação profissional. Abordagens por ali também são frequentes. Distrações, muitas vezes com o celular, em meio a aglomeração, podem interromper o intenso fluxo contínuo. Desde ambulantes até vendedores de chips das maiores operadoras de celular. O comércio de pequenos acessórios artesanais também é numeroso e é feito em sua maioria por estrangeiros.

De resto, é o andamento do contingente natural da cidade de Florianópolis. Engravatados quase que se esbarram em andarilhos. Estudantes bem-humorados contracenam com turistas curiosos... As estreitas ruas do centro histórico são barulhentas por isso. Conversas, pessoalmente e no celular, anúncios e o barulho de passos se entrelaçam, deixando quase que imperceptível o som dos carros não-tão distantes. Música as vezes faz parte do som ambiente, onde artistas vão fazer da calçada apertada de cada dia de trabalho o seu palco.

domingo, 30 de agosto de 2015

Procrastinai-vos!

Certa vez me perguntaram o que significava o verbo "procrastinar". Palavra de pronúncia difícil, de sonoridade forte, recheada por 'erres'... Não me lembro agora se tentei explica-la ou se a conjuguei; mas pude consolidar minha tese antiga de que esse verbo é singelamente importante em minha vida.

Afinal, o que é procrastinar senão adiar uma brisa. Sim, uma brisa que tivera outrora, talvez um lapso, e as vezes até um afazer importante que ainda está por fazer; mas que agora, neste exato momento, você não pode desenvolve-la. Força maior, né?

As vezes sua mente simplesmente não tá sintonizada ao cronograma super-apertado de cada dia. As vezes seu corpo é que não tá na disposição de se entregar a tamanha atividade. Procrastinemos, então, porra. Sem medo! Deixemos para depois, prum domingo chuvoso, sei lá. Talvez essa brisa nem tenha sido tão relevante assim...

Mas se for, teremos, enfim, maior tempo pra ela. Pode-se amadurece-la nas divagações e projeções. E, convenhamos, se for um brisa boa, ela vai voltar, quem sabe em hora ainda mais propícia.

Quem sabe ela até volta em tempos de super-lua!

sábado, 8 de agosto de 2015

Fui dar um rolê... e voltei

Acho que porque andava exausto da lúgubre rotina hospital-farmácia-cama que se estabelecera no último mês, passei a refletir sobre cada rolê que não fui, que gostaria de ter ido, ou que até fui, mas que faltara algo. Sensação de perda, sabe? De que talvez ande aproveitando mal a vida. E foi aí que eu disse sim! A Jesus? Não, aos rolês...

Rolê, ou rolé: gíria paulista, ou carioca, com pinta de estrangeirismo francês, de pelo menos umas três décadas; a expressão, comum entre os jovens, tem grande abrangência no cotidiano das pessoas que habitam o ambiente urbano. Podendo significar uma locomoção de longa distância ou duração, um passeio a dois, uma saída entre amigos, uma viagem solitária e até mesmo a combinação entre eles.

No meu caso, adicionou-se ao contexto o adjetivo "noturno". Aceitei de tudo. Do tranquilo show do Ira! ao show lotado de Fernando & Sorocaba. De barzinho gourmet, cheio de boy, a uma volta descompromissada na praça Roosevelt, cheia de morador de rua. Dum puteiro fedorento a cheirosa apresentação dos Racionais MC's. E por aí foi... sem restrições ou preconceitos. Assim estou faz umas dez luas, muito belas por sinal. A cara era não ficar uma noite sem fazer nada, já que eu estava de merecidíssimas férias, diga-se de passagem, e um bocado de saúde.

Não sei se por distração ou por puro espírito de aventura, eu e tantos outros mortais urbanos lançam-se diariamente, com o perdão da redundância, aos rolês nossos de cada dia. Talvez queiramos apenas vivenciar novas histórias, porque ninguém aguenta mais ouvir as velhas. Ou conhecer novas pessoas, porque os antigos amigos também fizeram novas amizades. Ou até mesmo conhecer novos lugares, onde o que quer que aconteça já é novo aos nossos olhos. Enfim, a chance de florescer um sorriso que valha o deslocamento é grande e o flerte com o imprevisível dá ao rolê um charme de filme noir.


Essaí tocou num dos rolê...

Não que o rolê seja só um refúgio do rodo cotidiano, uma distração momentânea e vazia. Mais que isso. É também uma forma de diálogo e reflexão com a rua, com a cidade, com as pessoas que delas fazem parte ou que por elas passam. E por que não uma reflexão consigo mesmo? Pra quem se sente preso ao passar o dia em casa, um jet é liberdade. O pião é mais do que necessário pra lembrar que a gente tá vivão. Ou seja, rolê é vida!

E mesmo que o rolê não saia como o planejado, que seja aquele famoso rolê errado, terá, no mínimo, como se retirar um aprendizado dali, senão acompanhado de um bom causo pra contar. Rolê perdido é só se você quiser, meu amigo, mesmo que robem tua brisa. E, a não ser que tenhas um precioso motivo, não, não era melhor ter ficado em casa.


"sai invejoso, dá uma arruda aí pá mim!"

Parafraseando o Emicida, que aliás lançou outro disco classe A agora, "jamais volte pra sua quebrada de mãos e mente vazias".





segunda-feira, 11 de maio de 2015

Um paulista vai a Ressacada

Empolgado com mais um título estadual do meu Peixe, eis que resolvo ir ver meu time jogar. Eram muitas coincidências que eu não podia deixar passar. A primeira é que a nossa estreia no campeonato brasileiro seria aqui em Florianópolis, na Ressacada, contra o Avaí. A segunda é que eu estava com o domingo livre de trabalhos ou outros rolês impeditivos. A terceira é que a chuva que ameaçava vir não veio. Não pensei muito. Botei a toca e fui.

Aprendi a chegar na Ressacada, de ônibus, é claro; e que afinal não fica muito longe. Só há um problema na locomoção: o acesso ao estádio. Ao que parece, todo jogo do Avaí é assim. Só há uma (pequena) via - leia-se rua - que liga o estádio e o aeroporto ao restante da ilha. E tudo pára. Apesar disso, cheguei lá, junto aos numerosos - e empolgados com a vitória no meio de semana - torcedores avaianos, sem maiores problemas. Mas, calma lá, se não tem algum contratempo na caminhada, eu não tô envolvido.

Dessa vez foi a tal da meia entrada. Levei a documentação toda que eu tinha em casa pra não pagar sessenta reais num mísero jogo de brasileirão. Carteirinha, atestado de matrícula, bilhete de estudante... E não é que recusaram? Fodeu. Eu só tinha trinta e tantos mangos. Não ia rolar comprar ali. Não havia nem uma alma boa querendo vender ingresso na porta também. O jogo não ia encher mesmo...

Aí, lembrei-me do cartão de crédito, que me serve quase apenas pra padaria e pro mercado de mês. Mas aqui é Florianópolis, jogadô! Não tem essa de vendedor de cerveja e churrasquinho na porta do estádio ter maquininha de cartão. Tá maluco, paulista? Não, só queria ver o jogo. Só queria não perder o domingo. E achei padaria, barzinho e mercearia pelas redondezas do estádio. Parecia que eu ia conseguir "sacar". Essas horas não tinha olhar feio de torcida organizada adversária prum rapaz de moletom alvinegro que me parasse. Eu ia ver aquele jogo, meu.

E não é que os manezinhos não quiseram fazer aquele esqueminha de passar uma breja por trinta e poucos pila no cartão e pegar o resto da grana no caixa. Nem aquele outro de pagar a conta alheia no cartão pro sujeito me entregar a quantia que eu preciso. Nada. A única solução em comum apontada por todos eles foi de ir caminhando até o aeroporto. Pelo menos me indicaram o caminho sem erro.

Como o nome sugere, aeroporto aparenta ser um local isolado, distante das casas ao entorno do estádio. Além disso, a cara que cada cidadão fazia quando eu perguntava se o trajeto era longo não era nem um pouco convidativa. Mas fazer o quê? Já estamos aqui, né. E fui, em meio às casinhas de quintal com gramado verdinho ao estilo do estádio. O ambiente era de interior. Conforme fui indo em frente, me esqueci que estava no meio duma capital brasileira. Casas simples. Pessoas simples. Alguns animais. O clima de proximidade contrastava com as ruas vazias, mesmo em dia de jogo, e com um grande campo, ainda mais verde, ali em frente.

Cheguei mesmo a me conformar que o aeroporto era longe. Até pensei se aquele jogo valia todo esse sacrifício. Se eu não iria perder o primeiro tempo. Em tantas coisas que eu podia fazer com sessenta reais. Eis que, de repente, quebrando todo bucolismo, passa um avião da Gol, gigantesco, em baixíssima velocidade por detrás do campo que ali estava. O campo na verdade já era o aeroporto. Facilmente confundido com uma fazenda, aquele lugar me motivou novamente a seguir em busca do dinheiro que me faltava.

Enfim cheguei ao caixa. Peguei uma cerveja no caminho pra aliviar a ida e encorajar a volta. Ou sei lá, talvez eu queria só um motivo pra beber. E fiz novamente a mesma trilha. Era realmente um pouco distante do estádio, mas não ao ponto de me fazer perder algo da partida. Pudera, cheguei um pouco mais cedo, talvez por não conhecer o ambiente. Comprei o ingresso com dor no bolso, e entrei. Opa, não, antes, latinha não pode, moço. Ah é, tem mais essa. Não se vende mais breja em jogo. Mas pera lá, quem patrocina o campeonato? Quem patrocina a emissora de tevê que transmite os jogos? Aliás, quem patrocina o próprio clube que está agora me proibindo de beber lá dentro? A vida é contraditória até no futebol, meu caro.


Nem Santos, Nem Avaí.


Foi um a um. Jogo feio. Jogo típico do brasileirão atual. Sem lances belos. Sem emoção. Sem vibração. Sem vontade. Dos dois lados. Nem parecia o mesmo time que jogara semana passada. Quem sabe eu peguei um dia ruim de futebol. Quem sabe o futebol não viva dias bons. Quem sabe o dia a dia do futebol não seja mais pra mim. Quem sabe quase setenta paus gastos com os amigos ou a família não desse outro rumo pra esse história de domingo. Daí eu não teria escrito esse texto, né. Quem sabe...


terça-feira, 21 de abril de 2015

Minha Vida de acordo com Emicida



Diretamente do facebook: ''Usando nomes de músicas apenas de um artista ou grupo, tente habilmente responder a essas perguntas. Você não pode usar a banda que eu usei.''  

Adaptações à parte...

- Tio, essa rima é minha vida!

Quem é você? Sabe... "Aí, sabe, eu sou daqueles caras esquisitos, com a barba por fazer. Que coleciona disco. Usa roupa velha. Vive sem dinheiro. E quando vem a pé cumprimenta o bairro inteiro. Não gosta muito de computador, mas tem que aprender a mexer seja como for..." 

Como se descreveria? "...ser soldado sem bandeira nenhuma, desconfiar dos dois lados sem temer coisa alguma, nasceu no meio da guerra então se acostuma."

Como se sente? "...não sou daqui, não me sinto parte integrante da obra. Eu me vejo como um estranho em um ninho de cobra. É foda. meu pensamento é mais podre que o que resta da feira. Escrevo. Gravo. Na esperança de que alguém os queira. Não vou sorrir só pra fazer uma social. Me tornar um verdadeiro falso pros falsos, isso é real."

Onde vive atualmente? "Um gado na churrasqueira, um sonzinho e mais nada. Tendeu? Tendeu, tiu? I Love Quebrada!"

Se pudesse ir a qualquer lugar, onde iria? "...beira de piscina, fia. Esteira e jornal do dia. Chinelo. Singelo. Lupa. Corro pro colo e vem pro pai. Upa! Ê, pra mim isso é viver. Sombra de palmeira, truta. Suco de fruta natural. Desfruta de um clima tropical e vem, amor. Olha, tem um ninho de beija-flor..."
  
Qual sua forma de transporte preferido? "...pra frente, vou com a paciência de quem junta latinha. Focado no que tenho, não no que vou ter ou tinha." 

Quem é sua melhor amiga? "...deixo a lua brilhar. Sigo sem rumo. Sem roda. Deixo o momento levar. Entre urbanóides insanos eu elevo meu ser. A rua é nóis. É nunca vai deixar de ser."

Você e seu melhor amigo são o que? "...não dá pra decifrar, é incerto. E eu fico tentando advinhar quem vai tá aqui na próxima semana. Gargalhando pra sufocar as agonias suburbanas."

Qual é o clima? "Num é só ver e julgar. Tem que colar. Tem que ser pra se misturar. Aí vai ver que é nóis..."

Se sua vida fosse um programa de TV, como seria chamado? Samba do Fim do Mundo: "Somos a contraindicação do carnaval. Nagô do tambor digital. Fênix da cinza de quarta. Total. O MST da rede social."

O que é vida para você:? "Ritmo doido, já nem percebo lugares. Só me sinto mais seguro ao reconhecer alguns olhares. Tá firmão, com os irmão. Suave. Sossegadão. Uma rima. Um salve."

Como é sua vida amorosa? "...preparei pra gente, ó. Deita no sofá. Vem cá. Não se sente só. Isso é ruim de encontrar. Vou querer pra sempre, ó"

Qual seu medo? "Gente sem visão. Sem amor. Com o olho do tamanho de um hambúrguer no progresso do trabalhador."

Qual é o melhor conselho que você tem a dar? "O povo tem que cobrar com os parabelo porque a justiça deles só vai em cima de quem usa chinelo e é vítima. Agressão de farda é legítima. Barracos no chão enquanto chove. Meus heróis também morreram de overdose. De violência. Sob coturnos de quem dita decência. Aí. Homens de farda são maus. Era do caos. Frio como halls. Engatilham e plaw. Carniceiros ganham prêmios na terra onde bebês respiram gás lacrimogênio." 

O quê gostaria de ter? "...meu exército marchando pelas ruas de terra pra tirar medalha dos canalha sem aura boa. E o triunfo memo pra nóis é o sorriso da coroa. Nóis quer mulher, sim. Quer um dim, também. Quer ver tudo os neguinho lá, vivendo bem." 

Qual seria o pensamento do dia?  "Pois quem é fica e ajuda a erguer outro carnaval. Mas quem não é antes da quarta já tá dizendo tchau..."

Qual seu lema? "Papel, caneta e coração..."

Qual seu sonho? "...um mundo pra gente fazer. Um mundo não acabado. Um mundo filho nosso, com a nossa cara..."  
Sou milionário do sonho!


- Que o galo já tá cantando de novo as seis da manhã...

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Um mês de jornalismo

Foi na primeira segunda-feira de março, na manhã seguinte a uma festa de integração do curso, que tive minha primeira aula de jornalismo. Talvez com um pouco de ressaca, entrei numa sala cheia, procurei uma cadeira vazia, ouvi um professor falar lá na frente, vi alguns alunos anotarem algo... quase igual ao (tão chato, mas que hoje dá saudadezinhas) ensino médio. Quase. Ao longo dos dias seguintes vi que a aula costuma passar mais depressa. Que os debates em sala não são delimitados por um professor mandão. Que os trabalhos exigem tempo, leitura e um trocado pra impressão. Que a bibliografia pedida é tão enorme que, nem se eu quisesse ler tudo e tivesse tempo disponível pra isso eu conseguiria.

Os colegas de curso, e de faculdade como um todo, são mais abertos. Mente aberta. Coração talvez. Acho que a maturidade traz isso. Não que os assuntos das conversas seja mais cult, longe disso até. Mas a forma de dialogar é diferente. Outra coisa expandida aqui é o universo cultural. A diversidade de movimentos políticos e sociais, festas, bandas tocando pelo campus, rodas de violão, rodas de capoeira, feirinhas, atividades esportivas ou culturais. Não é só uma galera alternativa. Mas uma grande alternativa pra galera que tem o mínimo de questionamento sobre a realidade em que vive, e a disposição de alterá-la.

Em quatro semanas de curso já fiz(emos): uma reportagem em vídeo sobre a dificuldade dos estudantes em adquirir bolsas, dois boletins esportivos na rádio sobre as rodadas do futebol brasileiro, uma boa conversa seguida de entrada ao vivo na Rádio Guarujá, uma entrevista com um diretor de teatro e que será transformada mais tarde numa notícia, algumas pautas aleatórias e até cheguei a trocar uma ideia com o Sombra, por telefone! Um jornalismo na prática. Muito diferente do que eu imaginava que seria nesses primeiros dias. Algo do tipo: ler e dissertar sobre dois livros por semana. Apesar de certa liberdade nas leituras, estou direto lá na Biblioteca pegando algo que me chame atenção. Sem relação com as aulas, porém curiosamente os dois melhores livros que li até agora foram escritos por jornalistas: "Cidade Partida - Zuenir Ventura" "De Pernas pro Ar - Eduardo Galeano". Ou seja, apesar de achar algumas aulinhas de Artes Gráficas e Foto um porre, cada vez me vejo mais dentro desse rótulo profissional. E menos no tal mercado de trabalho.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

E a campeã do carnaval é...

De fora, talvez eu tenha tido esse ano uma visão além do habitual a respeito dos desfiles das escolas paulistanas. Vi um carnaval da tevê, de forma até um pouco fragmentada, mas estou hoje com a mesma sensação dos outros carnavais de arquibancada: uma mistura de ansiedade pelas notas que virão com a certeza de um carnaval muito bom, superando inclusive minhas expectativas que andavam em baixa pra 2015. Esse ano não fui a nenhuma final de samba. Fui a dois ou três ensaios. Não fui a ensaio técnico. Me senti do alto de meus 8 anos, quando eu acompanhava o carnaval somente quando abria-se a transmissão depois do sempre tão longo Globo Repórter.

Vi uma Mancha abrir os desfiles solta, alegre, brincando o carnaval falando do time que deu origem a escola, o Palmeiras. A comissão de frente era aos moldes antigos, quebrando essa padronização atual de um tripé mais uma dancinha na frente. O samba era gostoso, com dois refrões de fácil memorização. A Puro Balanço segurou a onda, dando ritmo às simples e belas alegorias e fantasias, exaltando sempre o verde.

Aí eu vi a Tucuruvi ampliar a paleta de cores da Mancha, também vindo bem leve. O samba de enredo sobre as marchinhas que marcaram época foi muito bem costurado, entre recortes de letra e melodia já conhecidos pelo povo. A história do carnaval se misturou com as marchinhas relembradas e isso me lembrou aquele desfile bonito da escola em 2001. A batucada embalou tudo isso e foi, junto com a comissão de frente super carnavalizada, o destaque do Zaca.

A vez então era da Tom Maior transmitir a adrenalina que é um desfile de carnaval posto na avenida após um ano de trabalho, na própria avenida. E foi além. Passou por esportes radicais, corridas, amores... Aliás, a comissão de frente deu um show a parte de interpretação cênica, divertidíssima e executada sem exageros. Muito amor. O samba, especialmente do "Vai coração..." até o refrão principal, deu um belo tom melodioso ao desfile que ficou maior.

Chegou Dragões com pinta de campeã, logo impressionando na beleza real das alegorias e fantasias. A comissão de frente também impressionou, não só pela grandiosidade, mas por uma abordagem bem criativa do enredo-viajante da escola. A bateria mostrou outra cara com diversos breques que desenhavam bonito em cima do samba. Samba esse que Daniel Colete elevou o nível fazendo a escola toda brincar na passarela.

E a passarela realmente incendiou...

Em seguida eu vi Rosas de Ouro passar bastante luxuosa também. O enredo era ainda mais imaginário, proporcionando um desfile colorido e repleto de inovações. Desabrochou na avenida uma escola alegre que cantou do começo ao fim um samba mais cadenciado. A bateria acompanhou isso tudo, trazendo suas frigideiras "de ouro" para incrementar a cozinha.

Depois, Águia de Ouro trouxe o Japão em forma de enredo para o Anhembi. Tentando sair do comum apresentado nos desfiles de carnaval sobre o país oriental, a escola se mostrou muito colorida e estilizada. A batucada da Pompéia mostrou que também é de ouro, fazendo aquele swing gostoso que sua levada tem. Mas o destaque desse voo alçado foi a própria comunidade da escola que cantou firme o samba complicado.

Por último na noite de sexta, Nenê de Vila Matilde apresentou Moçambique numa pegada diferente. O belo samba, que trazia certa nostalgia na melodia do seu refrão principal, foi de longe o melhor da noite. Deixou a escola leve e cadenciada, ainda mais com a Bateria de Bamba sustentando tudo isso. A águia mostrou-se altaneira sobrevoando um baobá que, juntamente com a comissão de frente, abriu a escola de forma imponente.

Quem esperou pra te ver... não se arrependeu!

Inaugurando a segunda noite, vindo como campeã do grupo de acesso do ano anterior, a Vila Maria lapidou seus diamantes no Anhembi. A joia principal deste desfile foi, sem dúvidas, a batucada Cadência da Vila, que entrou num andamento seguro e pra trás, fez breque em cima do samba difícil, e terminou a apresentação no mesmo ritmo gostoso. Digna de dez e estandarte. 

Depois foi a vez de chegar Gaviões. Começou logo surpreendendo com a comissão de frente que brincava de embaralhar, construir castelo de cartas, fazer coreografia e acrobacia. Talvez, a melhor do carnaval. O desfile seguiu empolgante, abrilhantado pela beleza das fantasias da escola. Porém, o destaque mesmo ficou com a bateria Ritmão, que veio bem mais cadenciada do que o de costume, mas que não perdeu sua tradição de breques executados no samba. Do baralho.

Aí a tri campeã Mocidade Alegre entrou em cena como favorita. A morada cantou Marília Pêra, passando pelos diversos trabalhos da atriz no teatro e televisão. Sua comunidade, como de costume, deu aula de harmonia e samba no pé. Outro ponto alto da apresentação foram as belas fantasias, incrementadas com maquiagens e adereços, fazendo um verdadeiro carnaval no visual.

É muita ginga no terreiro do samba.

Império veio em seguida sonhando em ganhar o carnaval outra vez. E trouxe sonhadores consigo. Era um puta enredo, que foi abordado muito bem. Mas num desfile onde há a Barcelona do Samba, não dá pra ter outro destaque. De reggae a kuduro, a batucada veio fera desde afinação ao andamento. Outro quesito nota dez da Casa Verde foi o primeiro casal de mestre e sala e porta bandeira, que bailou de verdade. Os componentes desfilaram leves e evoluíram conforme uma escola que briga por vaga lá em cima.

Então surgiu na passarela os Acadêmicos do Tatuapé, querendo provar que a escola já está madura pra voltar nas campeãs. A azul e branco trouxe o ouro como tema e deu show de organização e acabamento. O único erro foi no ritmo de desfile de seus componentes, que pode custar caro à escola em meio a um carnaval tão acirrado. Por segundos a escola não conseguiu fechar no tempo sua apresentação. O samba, com aquele timaço de canto, cresceu bastante.

E sacudindo as arquibancadas como de costume, o Vai-Vai chegou com o melhor samba do carnaval. Uma poesia que retrata as obras que marcaram a vida de uma das maiores cantoras da música popular brasileira, Elis Regina. Com direito a "larê larê" de Maria, Maria; a escola conseguiu empolgar, além do público, seus componentes também. A Pegada de Macaco ajudou muito nisso, com sua tradicional levada acelerada a bateria mostrou que quer voltar a ser nota máxima nesse carnaval. Só pela melodia de seu samba de enredo a saracura já mereceria desfilar outra vez.

E fechando com chave de chuva, a X-9 chegou chegando. Aliterações idiotas à parte, a escola da Zona Norte mostrou um belo desfile no visual e no emocional. O enredo foi desenvolvido de forma alegre e bem-humorada, fazendo até relembrar uma X lá do começo da década passada. Não choveu e a escola não errou. Perfeito para se encerrar um carnaval paulistano tão bonito.

Banho só se for de axé. Ou de samba.

E é isso, em alguns minutos inicia-se a apuração e, toda essa espera se transformará em alegria ou frustração, conforme o resultado das notas e o gosto de cada um. Aposto forte em Dragões, Rosas, Gaviões, Mocidade e Vai-Vai esse ano. Além de Tucuruvi, Águia, Nenê, Império e X-9 que também desfilaram muito bem. Independente da agremiação que comemorar o caneco com chopp a vontade hoje, que ela tenha a humildade de reconhecer que a disputa está apertada como nunca, e que o que decide onde será a festa de logo mais são detalhes que as vezes só o jurado enxerga daquela torre branca horrorosa. O certo é que ano que vem estaremos aqui de novo, com o mesmo sentimento de que não deveria ter acabado o carnaval. Fazer o que, é gostoso porque é efêmero.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Pré-Carnaval 015

Inaugurando meus posts em terras florianopolitanas eu não poderia começar falando de outra coisa: CAR-NA-VAL! Carnaval que aliás se inicia hoje, mas que nessa temporada ficou um pouco mais distante de mim por conta do cursinho, da faculdade, dos sambas ruins... essas coisas.

Logo mais adentrará o Anhembi a Mancha Verde, fazendo uma homenagem justa aos 100 anos do Palmeiras - no ano em que o clube completa 101 -, a escola traz um sambinha legal, mas que não empolga. Assim como o homenageado ano passado no Brasileirão, briga pra se manter. Em seguida virá a Tucuruvi falando de marchinhas carnavalescas, um tema importante num carnaval cada vez mais eletronizado. O samba ficou muito bom, alegre, irreverente e facinho de decorar. Tom Maior fala de adrenalina e propõe um desfile inovador, saindo da mesmice dos enredos carnavalescos. Seu samba de enredo tem pontos altos, porém não se sobressai. Aí vem Dragões da Real, destaque na concentração do sambódramo com seus belos carros alegóricos, a escola vem acreditando no título pra esse carnaval. O ponto fraco é o samba, bem padrão. E por falar em samba padrão, a Rosas de Ouro é a próxima, com enredo sobre encantos a escola da Freguesia do Ó também é bem elogiada na concentração e aparenta ser a favorita do dia. Aí vem a Águia de Ouro pra tentar me desmentir. O samba é melhorzinho do que o da co-irmã de sobrenome dourado. O tema é duvidoso, o comércio entre Brasil e Japão, no entanto a batucada da Pompéia tem tudo pra ser novamente destaque. Por fim virá Nenê de Vila Matilde com o melhor samba da noite (e talvez o melhor enredo, vamos ver) pra mostrar que a Zona Leste volta a brigar por título.

No sábado quem abre é a Vila Maria falando de diamantes e, com talvez o pior samba de SP, a escola tenta se confirmar no grupo especial tendo a Cadência da Vila como ferramenta principal pra isso. Seguida da Gaviões que desfilará repleta de cartas e jogos apostando num sambinha interessante pra fazer um carnaval do baralho. Em seguida vem a tri-campeã Mocidade Alegre trazendo Marília Pera para tentar o tetra. Acho que não rola, mas o samba é bom sim. Aí a Casa Verde chega sonhando com o título também, que há nove anos não conquista por sinal, tendo um enredo muito amplo e com possibilidades pra se viajar legal. Destaque pro refrão do meio que é curto e simples, mas que fica foda com a Barcelona mandando um reggae. Depois é a vez do Tatuapé falar de ouro com um samba mais ou menos, que embica pra mais com a interpretação de Wander e Vaguinho. O desafio da escola da leste é manter o alto nível do desfile do carnaval passado, missão difícil. Logo após vem Vai-Vai trazendo simplesmente Elis Regina, simplesmente o melhor samba do carnaval! Um poema do começo ao fim. Com levada pra cima, marca da escola, e uma melodia emocionante a Saracura chega como favorita só por conta dos ensaios que fez. E pra encerrar o Grupo Especial a X-9 chama a chuva pro seu desfile. Espero que se dessa vez chover na avenida a comunidade não desanime como no ano passado. O samba é médio, subindo de nível no refrão do meio na voz do Royce.

No Grupo de Acesso o nível dos enredos melhoram um pouco. Os sambas nem tanto. Destaco o da Peruche, com uma pegada de enredo afro antigo, e o da Leandro sobre Mandela. Em termos de desfiles vale a pena se liga no meu Camisa e na Pérola Negra. Mas claro que Imperador, Colorado, Morro e Independente podem surpreender domingo.

Difícil não se emocionar

Fazendo a ponte aérea, o Rio de Janeiro abre seu carnaval com a Viradouro voltando ao Especial. Niterói ousou e fez um bem bolado com dois sambas de Luiz Carlos da Villa. O resultado no cd é muito positivo, vamos ver na avenida agora. A Mangueira traz as mulheres para seu carnaval, num samba bem bonito, ao estilo Estação Primeira, a expectativa é de um carnaval melhor ao do ano passado. Tem que respeitar! Aí, a tal da reformulada Mocidade entrará na Sapucaí. O enredo traz a pergunta "o que você faria se te restasse um dia?". É ousado e eu acho que combina bem com a Padre Miguel. Mas o samba fica devendo bastante pra quem quiser disputar algo lá em cima. A Vila também tenta mostrar-se diferente do ano passado. Com música clássica e Villa-Lobos no meio a escola teria sucesso se chegasse próxima do nível de desfile que sua co-irmã que irá desfilar antes teve em 98. O samba é bom, mas é ofuscado pelos demais. Quinto a desfilar, o Salgueiro tentará mostrar porque se diz injustiçado no carnaval passado. O samba, falando da comida mineira, fica bem aquém daquele "canta Salgueiro", mas não chega a ser ruim. Também é ofuscado pelo nível da safra deste carnaval. Pra fechar o domingo carioca a Grande Rio busca novamente seu primeiro título. Seu samba é bom e o enredo é muito semelhante ao da Gaviões. Ponto alto é o refrão principal, todo malandreado.

A tradicional segunda-feira de carnaval carioca tem a São Clemente como pontapé inicial. Com um samba menos irreverente e mais homenageador, a escola vem de Fernando Pamplona num enredo curioso a lá Rosa Magalhães. Pode pintar uma surpresa aí. A nova Portela chega como uma das favoritas azul e branca de segunda. Com um Rio surreal a águia vem com uma proposta muito boa de desfile e um samba do nível de seus últimos anos. Talvez o melhor do carnaval RJ 2015. Só quem bate de frente é a Beija-Flor. Com um samba afro sobre Guiné Equatorial a escola pode se reencontrar após o desastroso desfile de 2014. Num estilo valente, oposto do hino portelense, o samba é igualmente nota 10. O desafio ficará pra Ilha, desfilar após duas escolas de peso. Aí que mora a aposta insulana. Num samba extremamente irreverente e carnavalesco a tricolor pode virar sensação deste carnaval com o "gostosa! Fiu, fiu" de seu refrão. A bateria 40 graus também influencia nisso. Uma beleza! Aí é a vez da Imperatriz cumprir um desafio de mostrar que não é uma escola fria. O samba é quente, com dois refrões que fogem do comum. Isso deve dar certo. Além, claro, de ter a igualdade racial como tema, o que geralmente dá bons desfiles. Aí a atual campeã Tijuca, nem tão badalada assim, encerrará a festa. Com algumas mudanças pra este carnaval, a essência permanece a mesma. Inclusive a tradição recente de ter o pior samba do ano, que mesmo assim não chega a ser ruim como alguns de SP. O enredo tem a pegada suíça, e seja lá o que isso signifique, a Pura Cadência vem fazendo a sua parte nos ensaios. A briga tá muito boa!

No acesso, ouvi pouco os sambas. E gostei do que escutei. Enredos maravilhosos. Sem exceções. Fico feliz em saber que as escolas da chamada Série A vêm batalhando firme pra subir de grupo. Que as outras escolas aprendam com eles.

E lá vem ela... não pra deslumbrar a passarela, mas toda prosa!

E como estou em Santa Catarina, por que não falar do carnaval daqui? Aliás, irei assisti-lo hoje, amanhã e terça, já que não tenho saco (e nem tevê) pra assistir na Globo. Não conheço quase nada do carnaval daqui. E estou bem curioso. Hoje quem abre o grupo de acesso é a Palhoça Terra Querida falando da dualidade do bem e mal. Tema bem rodado no eixo Rio-SP. Depois, será a vez da Nação Guarani com uma pegada gaúcha e um samba melhor. Aí virá Império Vermelho e Branco com Sexta-Feira de tema. A quarta é a Acadêmicos do Sul da Ilha, falando do pintor Victor Meirelles
com um samba que parece ser muito bonito. Em seguida, Amigos do Caramuru com a boemia num samba legal, em primeira pessoa, promete um bom desfile. Por fim, Futsamba Josefense pinta o 7, ao estilo Vai-Vai 2002. 

Amanhã, no grupo principal, quem abre é a ascendente Dascuia sobre energia e os quatro elementos. Aí a União da Ilha da Magia propõe um inovador enredo sobre o surf, trazendo também um samba bem bonito e empolgante, além de uma bateria de primeira. Consulado é a próxima num tema sobre o carvão. A Copa Lord vem logo em seguida falando sobre filmes marcantes. O desfile tem tudo pra ser de forte identificação popular. A atual campeã, Protegidos da Princesa, traz um enredo local num samba bom de três refrões, talvez o melhor. Mesmo sem conhecer o carnaval daqui a fundo é fácil apontá-la como uma das favoritas. E enfim a vice Coloninha encerra o carnaval com Yemanjá num desfile que promete emocionar quem é de axé. 

A expectativa é grande. Devo escrever mais pra frente sobre o carnaval de Floripa, que é o qual assistirei ao vivo. Masssssss, se bater muita saudade, deverá aparecer texto também sobre SP ou RJ. Cravo um carnaval de espetáculo em Sampa e de chão no Rio. Espero que não haja as injustiças do ano passado. 

É isso. Saia da internet e bom carnaval!

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Partíno...

É com certa saudade antecipada, e com bocado de tosse também, que termino de fazer minhas malas. Tô indo embora de novo. Desta vez pra fora deste estado tucano. Desta vez pra um lugar que eu nem conheço.

Pois é, finalmente, após 8 anos de ensino fundamental, 3 de ensino médio, 1 de cursinho, posso dizer que estou indo estudar algo que faça algum sentido pra mim. Enfim sentar pra aprender algo que eu goste, que possa ser útil a mim, que me faça menos inútil aos outros. Ou não. Se foda. Vou do mesmo jeito. Não é só estudar. É me adaptar a um lugar novo, a uma cultura - isso aí, sem aspas mesmo - diferente, a uma gente que eu não conheço ainda. Vou nessa aí. Quero viver sem obrigações. Sem cumprir nada que não me desperte interesse. Aliás, quero é ver se isso é realmente possível, porque até agora isso não me foi. Vou tirar a prova se sou tão responsável quanto me julgo.

Aproveitei janeiro para estender as "férias" de dezembro. Vagabundear no melhor estilo. Engordei. Dormindo tarde, as vezes bem mal por sinal, acordando mais tarde ainda. Aguardei os resultados dos vestibulares que decidiriam meu 2015. VES-TI-BU-LAR! - ai, como eu odeio essa palavra... Só de saber que não irei mais ouvir falar dela já me faz ter um motivo a menos para não sorrir. Então, acabei passando em alguns, em outros não. Comemorei um pouco. Tive dúvidas, muitas dúvidas. Ainda as tenho. Mas vou seguir meu coração. Tentei me aproximar de amigos que ano passado estavam distantes. Desfazer-me de coisas. Baixar música do YouTube. Me apegar a pessoas. E vi que o tempo transforma muita coisa que a gente chama de amizade. Tentei também ouvir os sambas do carnaval. Me decepcionei outra vez.

É pra isso que existem as mudanças. Pra que você não se acostume com uma rotina desagradável e possa sempre ter aquele planejamento, lá no mundo das ideias, de que alterando o cenário da peça o roteiro e os atores acabam sendo diferentes também. Sei lá. O Brasil-são é tão grande e eu aqui preso em SP. Sem perspectiva de água. De ar limpo. De carnaval bom (e barato). Ah, tô fora. Se a melhor coisa é poder viajar e se livrar do estresse de São Paulo, por que não fazer da vida uma longa viagem com algumas voltas e escalas estratégicas? Hein?

Se não der eu volto. Se der, volto também. Não sou de desistir fácil desse planejamento de uma vida inconstante. Só pra constar, aos amigos - só os verdadêro - que quiserem me visitar em Florianópolis, minha nova casa estará sempre aberta, basta trazer cerveja!

Até algum dia.