Cola cum Fróis

Escrevo pela necessidade de me livrar das palavras | @_dudufrois

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

E a campeã do carnaval é...

De fora, talvez eu tenha tido esse ano uma visão além do habitual a respeito dos desfiles das escolas paulistanas. Vi um carnaval da tevê, de forma até um pouco fragmentada, mas estou hoje com a mesma sensação dos outros carnavais de arquibancada: uma mistura de ansiedade pelas notas que virão com a certeza de um carnaval muito bom, superando inclusive minhas expectativas que andavam em baixa pra 2015. Esse ano não fui a nenhuma final de samba. Fui a dois ou três ensaios. Não fui a ensaio técnico. Me senti do alto de meus 8 anos, quando eu acompanhava o carnaval somente quando abria-se a transmissão depois do sempre tão longo Globo Repórter.

Vi uma Mancha abrir os desfiles solta, alegre, brincando o carnaval falando do time que deu origem a escola, o Palmeiras. A comissão de frente era aos moldes antigos, quebrando essa padronização atual de um tripé mais uma dancinha na frente. O samba era gostoso, com dois refrões de fácil memorização. A Puro Balanço segurou a onda, dando ritmo às simples e belas alegorias e fantasias, exaltando sempre o verde.

Aí eu vi a Tucuruvi ampliar a paleta de cores da Mancha, também vindo bem leve. O samba de enredo sobre as marchinhas que marcaram época foi muito bem costurado, entre recortes de letra e melodia já conhecidos pelo povo. A história do carnaval se misturou com as marchinhas relembradas e isso me lembrou aquele desfile bonito da escola em 2001. A batucada embalou tudo isso e foi, junto com a comissão de frente super carnavalizada, o destaque do Zaca.

A vez então era da Tom Maior transmitir a adrenalina que é um desfile de carnaval posto na avenida após um ano de trabalho, na própria avenida. E foi além. Passou por esportes radicais, corridas, amores... Aliás, a comissão de frente deu um show a parte de interpretação cênica, divertidíssima e executada sem exageros. Muito amor. O samba, especialmente do "Vai coração..." até o refrão principal, deu um belo tom melodioso ao desfile que ficou maior.

Chegou Dragões com pinta de campeã, logo impressionando na beleza real das alegorias e fantasias. A comissão de frente também impressionou, não só pela grandiosidade, mas por uma abordagem bem criativa do enredo-viajante da escola. A bateria mostrou outra cara com diversos breques que desenhavam bonito em cima do samba. Samba esse que Daniel Colete elevou o nível fazendo a escola toda brincar na passarela.

E a passarela realmente incendiou...

Em seguida eu vi Rosas de Ouro passar bastante luxuosa também. O enredo era ainda mais imaginário, proporcionando um desfile colorido e repleto de inovações. Desabrochou na avenida uma escola alegre que cantou do começo ao fim um samba mais cadenciado. A bateria acompanhou isso tudo, trazendo suas frigideiras "de ouro" para incrementar a cozinha.

Depois, Águia de Ouro trouxe o Japão em forma de enredo para o Anhembi. Tentando sair do comum apresentado nos desfiles de carnaval sobre o país oriental, a escola se mostrou muito colorida e estilizada. A batucada da Pompéia mostrou que também é de ouro, fazendo aquele swing gostoso que sua levada tem. Mas o destaque desse voo alçado foi a própria comunidade da escola que cantou firme o samba complicado.

Por último na noite de sexta, Nenê de Vila Matilde apresentou Moçambique numa pegada diferente. O belo samba, que trazia certa nostalgia na melodia do seu refrão principal, foi de longe o melhor da noite. Deixou a escola leve e cadenciada, ainda mais com a Bateria de Bamba sustentando tudo isso. A águia mostrou-se altaneira sobrevoando um baobá que, juntamente com a comissão de frente, abriu a escola de forma imponente.

Quem esperou pra te ver... não se arrependeu!

Inaugurando a segunda noite, vindo como campeã do grupo de acesso do ano anterior, a Vila Maria lapidou seus diamantes no Anhembi. A joia principal deste desfile foi, sem dúvidas, a batucada Cadência da Vila, que entrou num andamento seguro e pra trás, fez breque em cima do samba difícil, e terminou a apresentação no mesmo ritmo gostoso. Digna de dez e estandarte. 

Depois foi a vez de chegar Gaviões. Começou logo surpreendendo com a comissão de frente que brincava de embaralhar, construir castelo de cartas, fazer coreografia e acrobacia. Talvez, a melhor do carnaval. O desfile seguiu empolgante, abrilhantado pela beleza das fantasias da escola. Porém, o destaque mesmo ficou com a bateria Ritmão, que veio bem mais cadenciada do que o de costume, mas que não perdeu sua tradição de breques executados no samba. Do baralho.

Aí a tri campeã Mocidade Alegre entrou em cena como favorita. A morada cantou Marília Pêra, passando pelos diversos trabalhos da atriz no teatro e televisão. Sua comunidade, como de costume, deu aula de harmonia e samba no pé. Outro ponto alto da apresentação foram as belas fantasias, incrementadas com maquiagens e adereços, fazendo um verdadeiro carnaval no visual.

É muita ginga no terreiro do samba.

Império veio em seguida sonhando em ganhar o carnaval outra vez. E trouxe sonhadores consigo. Era um puta enredo, que foi abordado muito bem. Mas num desfile onde há a Barcelona do Samba, não dá pra ter outro destaque. De reggae a kuduro, a batucada veio fera desde afinação ao andamento. Outro quesito nota dez da Casa Verde foi o primeiro casal de mestre e sala e porta bandeira, que bailou de verdade. Os componentes desfilaram leves e evoluíram conforme uma escola que briga por vaga lá em cima.

Então surgiu na passarela os Acadêmicos do Tatuapé, querendo provar que a escola já está madura pra voltar nas campeãs. A azul e branco trouxe o ouro como tema e deu show de organização e acabamento. O único erro foi no ritmo de desfile de seus componentes, que pode custar caro à escola em meio a um carnaval tão acirrado. Por segundos a escola não conseguiu fechar no tempo sua apresentação. O samba, com aquele timaço de canto, cresceu bastante.

E sacudindo as arquibancadas como de costume, o Vai-Vai chegou com o melhor samba do carnaval. Uma poesia que retrata as obras que marcaram a vida de uma das maiores cantoras da música popular brasileira, Elis Regina. Com direito a "larê larê" de Maria, Maria; a escola conseguiu empolgar, além do público, seus componentes também. A Pegada de Macaco ajudou muito nisso, com sua tradicional levada acelerada a bateria mostrou que quer voltar a ser nota máxima nesse carnaval. Só pela melodia de seu samba de enredo a saracura já mereceria desfilar outra vez.

E fechando com chave de chuva, a X-9 chegou chegando. Aliterações idiotas à parte, a escola da Zona Norte mostrou um belo desfile no visual e no emocional. O enredo foi desenvolvido de forma alegre e bem-humorada, fazendo até relembrar uma X lá do começo da década passada. Não choveu e a escola não errou. Perfeito para se encerrar um carnaval paulistano tão bonito.

Banho só se for de axé. Ou de samba.

E é isso, em alguns minutos inicia-se a apuração e, toda essa espera se transformará em alegria ou frustração, conforme o resultado das notas e o gosto de cada um. Aposto forte em Dragões, Rosas, Gaviões, Mocidade e Vai-Vai esse ano. Além de Tucuruvi, Águia, Nenê, Império e X-9 que também desfilaram muito bem. Independente da agremiação que comemorar o caneco com chopp a vontade hoje, que ela tenha a humildade de reconhecer que a disputa está apertada como nunca, e que o que decide onde será a festa de logo mais são detalhes que as vezes só o jurado enxerga daquela torre branca horrorosa. O certo é que ano que vem estaremos aqui de novo, com o mesmo sentimento de que não deveria ter acabado o carnaval. Fazer o que, é gostoso porque é efêmero.

Nenhum comentário:

Postar um comentário