Cola cum Fróis

Escrevo pela necessidade de me livrar das palavras | @_dudufrois

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Um paulista vai a Ressacada

Empolgado com mais um título estadual do meu Peixe, eis que resolvo ir ver meu time jogar. Eram muitas coincidências que eu não podia deixar passar. A primeira é que a nossa estreia no campeonato brasileiro seria aqui em Florianópolis, na Ressacada, contra o Avaí. A segunda é que eu estava com o domingo livre de trabalhos ou outros rolês impeditivos. A terceira é que a chuva que ameaçava vir não veio. Não pensei muito. Botei a toca e fui.

Aprendi a chegar na Ressacada, de ônibus, é claro; e que afinal não fica muito longe. Só há um problema na locomoção: o acesso ao estádio. Ao que parece, todo jogo do Avaí é assim. Só há uma (pequena) via - leia-se rua - que liga o estádio e o aeroporto ao restante da ilha. E tudo pára. Apesar disso, cheguei lá, junto aos numerosos - e empolgados com a vitória no meio de semana - torcedores avaianos, sem maiores problemas. Mas, calma lá, se não tem algum contratempo na caminhada, eu não tô envolvido.

Dessa vez foi a tal da meia entrada. Levei a documentação toda que eu tinha em casa pra não pagar sessenta reais num mísero jogo de brasileirão. Carteirinha, atestado de matrícula, bilhete de estudante... E não é que recusaram? Fodeu. Eu só tinha trinta e tantos mangos. Não ia rolar comprar ali. Não havia nem uma alma boa querendo vender ingresso na porta também. O jogo não ia encher mesmo...

Aí, lembrei-me do cartão de crédito, que me serve quase apenas pra padaria e pro mercado de mês. Mas aqui é Florianópolis, jogadô! Não tem essa de vendedor de cerveja e churrasquinho na porta do estádio ter maquininha de cartão. Tá maluco, paulista? Não, só queria ver o jogo. Só queria não perder o domingo. E achei padaria, barzinho e mercearia pelas redondezas do estádio. Parecia que eu ia conseguir "sacar". Essas horas não tinha olhar feio de torcida organizada adversária prum rapaz de moletom alvinegro que me parasse. Eu ia ver aquele jogo, meu.

E não é que os manezinhos não quiseram fazer aquele esqueminha de passar uma breja por trinta e poucos pila no cartão e pegar o resto da grana no caixa. Nem aquele outro de pagar a conta alheia no cartão pro sujeito me entregar a quantia que eu preciso. Nada. A única solução em comum apontada por todos eles foi de ir caminhando até o aeroporto. Pelo menos me indicaram o caminho sem erro.

Como o nome sugere, aeroporto aparenta ser um local isolado, distante das casas ao entorno do estádio. Além disso, a cara que cada cidadão fazia quando eu perguntava se o trajeto era longo não era nem um pouco convidativa. Mas fazer o quê? Já estamos aqui, né. E fui, em meio às casinhas de quintal com gramado verdinho ao estilo do estádio. O ambiente era de interior. Conforme fui indo em frente, me esqueci que estava no meio duma capital brasileira. Casas simples. Pessoas simples. Alguns animais. O clima de proximidade contrastava com as ruas vazias, mesmo em dia de jogo, e com um grande campo, ainda mais verde, ali em frente.

Cheguei mesmo a me conformar que o aeroporto era longe. Até pensei se aquele jogo valia todo esse sacrifício. Se eu não iria perder o primeiro tempo. Em tantas coisas que eu podia fazer com sessenta reais. Eis que, de repente, quebrando todo bucolismo, passa um avião da Gol, gigantesco, em baixíssima velocidade por detrás do campo que ali estava. O campo na verdade já era o aeroporto. Facilmente confundido com uma fazenda, aquele lugar me motivou novamente a seguir em busca do dinheiro que me faltava.

Enfim cheguei ao caixa. Peguei uma cerveja no caminho pra aliviar a ida e encorajar a volta. Ou sei lá, talvez eu queria só um motivo pra beber. E fiz novamente a mesma trilha. Era realmente um pouco distante do estádio, mas não ao ponto de me fazer perder algo da partida. Pudera, cheguei um pouco mais cedo, talvez por não conhecer o ambiente. Comprei o ingresso com dor no bolso, e entrei. Opa, não, antes, latinha não pode, moço. Ah é, tem mais essa. Não se vende mais breja em jogo. Mas pera lá, quem patrocina o campeonato? Quem patrocina a emissora de tevê que transmite os jogos? Aliás, quem patrocina o próprio clube que está agora me proibindo de beber lá dentro? A vida é contraditória até no futebol, meu caro.


Nem Santos, Nem Avaí.


Foi um a um. Jogo feio. Jogo típico do brasileirão atual. Sem lances belos. Sem emoção. Sem vibração. Sem vontade. Dos dois lados. Nem parecia o mesmo time que jogara semana passada. Quem sabe eu peguei um dia ruim de futebol. Quem sabe o futebol não viva dias bons. Quem sabe o dia a dia do futebol não seja mais pra mim. Quem sabe quase setenta paus gastos com os amigos ou a família não desse outro rumo pra esse história de domingo. Daí eu não teria escrito esse texto, né. Quem sabe...


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