O filme é muitíssimo bem montado. Jim Jarmuch realizou quase que uma antropologia cultural. Misturou uma máfia, com a realidade das ruas americanas e ainda inseriu a cultura japonesa no meio. A história narra a caminhada de Ghost Dog (Forest Whitaker), um assassino de aluguel que é contratado pela máfia local de New Jersey. Dog foi salvo por Louie (Jhon Tormey), um dos mafiosos, e assim deve sua vida a ele. Ghost Dog vive na laje de um prédio da cidade, cercado de pombas, com as quais mantém uma relação próxima; e segue os preceitos do Hagakure, espécie de código dos samurais do antigo Japão. Ao longo da trama, várias citações do Hagakure aparecem entre as cenas, todas contextualizadas com o que ocorre no filme. Assim ao matar outro homem á mando da máfia, acaba cometendo falha ao matá-lo na frente da filha, revoltando quem lhe mandara a esta missão.

Os mafiosos, que nem são tão mafiosos assim, passam a perseguir Dog. Numa das melhores cenas do filme, em que os 4 mafiosos estão reunidos numa mesa e Loiue os revela quem havia cometido esta falha, pode-se ver que esta máfia é bem mais uma sátira aos grupos de criminosos. Os integrantes do grupo então, após tentarem o matar sem sucesso, ateiam fogo na moradia de Dog, extinguindo praticamente todas as pombas que ali viviam. Ao chegar lá e ver a triste imagem, Dog se desola e cultiva a vingança aos mafiosos que lhe fizeram esta atrocidade. Começa assim a saga do rapaz de matar um por um dos criminosos, poupando apenas Louie que o salvara anteriormente.
As cenas são bem interessantes, e muitas vezes até curiosas. Entre os personagens secundários, merecem destaque: o sorveteiro melhor amigo de Dog que só fala francês, e é muito bem-humorado; a filha do homem que Dog matou, e que se trata de uma estranha figura silenciosa e fissurada por desenhos animados; e a menina que inicia um diálogo sobre livros com Dog na praça, recebe dele uma edição do Hagakure, e torna-se sua amiga. Outro personagem curioso é o mafioso fã de Public Enemy, que pouco antes de morrer começa a interpretar no banheiro a música do grupo feito Flavor Flav. Uma cena hilária! O modo com que Ghost Dog age é digno de cinema mesmo. Sempre com sua maleta repleta de armas e aparelhos que o auxiliam em roubos de carros por exemplo, ele segue á procura de um por um dos mafiosos. Além do mais, Dog era conhecido em sua área e não falava com muita gente, porém sempre foi respeitado. Frio, sutil e racional.

O roteiro mostra-se muito bem feito. Apesar de um pouco violento, é ao mesmo tempo de uma poesia ímpar. O seleto grupo de bons atores também merecem reconhecimento. Acompanhados de trilha sonora e fotografia excelente, méritos de RZA e Robby Feuller respectivamente. Eles, em conjunto, passam ao espectador a sensação sombria da personagem principal, e que acompanha todo o filme. Ghost Dog era um assassino com cara de mau, que porém ao mesmo tempo era uma pessoa doce e companheira aos mais próximos. O final do drama é só um desfecho para a história muito bem contada, que chega a emocionar. Até que para quem não tem um bom inglês, eu acredito que consegui compreender bem o longa metragem. Fica aqui meus parabéns a toda a produção desta obra de arte, e minha convicção de que é sempre bom saciar a curiosidade.
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