
Desde a primeira faixa o disco já mostra sua cara. Abordando temas do cotidiano de um jovem de pouco mais de 20 anos, Emicida escreveu sobre si mesmo, sobre sua vida, sobre amor e diversas outros temas que se encaixaram muito bem em suas letras. São batidas criativas, com letras fundamentadas e nem tanta grana para a produção. O cd veio no encarte feito com papel pardo e todo impresso artesanalmente, inclusive o disco. Apesar de ser feito independentemente fez muito sucesso, conquistando admiradores e fãs pelo brasil. Comentarei sobre cada música da mix tape:
01 - (Intro) É Necessário voltar ao começo - Melhor introdução impossível! O cd já inicia com uma pancada. Com uma levada devagar e um instrumental bem suave, o mc acompanha as batidas também com uma voz suave. A letra sintetiza desde a ganância até o medo, falando sobre o cotidiano de um modo diferente. Uma letra muito abrangente, e que diz muita coisa que merece ser ouvida, termina com a frase que a batiza: "é necessário voltar ao começo".
02 - E.M.I.C.I.D.A (adoooro) - A segunda faixa fala do próprio Emicida, de um jeito um tanto quanto marrento/irreverente. Mostrando seu flow em meio a uma base bem empolgante, e com um bom refrão, a canção se tornou um dos primeiros sucessos da carreira do autor.
03 - Sozim - Outra música sobre o compositor, que no entanto vem na contramão da anterior. Traz consigo o sentimento de solidão de um jovem em meio a uma cidade cheia de pessoas. Uma faixa bem introspectiva e sincera, e ao mesmo tempo muito leve. Algo difícil de se ver na cena do Rap.
04 - Rotina - E seguindo na linha de canções sobre si mesmo, Emicida canta agora uma simples e curta. De maneira dinâmica, o poeta narra sua rotina de artista independente, trafegando seus pensamentos entre dias e a noites.
05 - Pra mim... (Isso é Viver) - Abordando agora as simplicidades que dão valor a vida, o artista apresenta outra música bem leve. Com rimas curtas e um instrumental agradável, a faixa não se estende muito.
06 - Ainda Ontem - Com uma pegada de samba na levada e no beat, Emicida canta ao lado de Rashid e Projota. Cada um escreve e canta sobre o freestyle, o estilo de improvisar no Rap, que os três rappers praticam com certa facilidade. Evandro Fióti canta no refrão da canção.
07- Pra Não Ter Tempo Ruim - Assim, mudando drasticamente a linha das músicas, esta chega ao ouvinte como um clamor do autor pelo quão desigual e preconceituoso o mundo está. A canção soa como um grito de libertação, enaltecido pela belíssima voz de Mariana Timbó que compõe o fundo (dizendo "a rua é nóis") e o refrão. Arrepiante combinação.
08 - Só Isso - Mais uma vez quebrando a sequência, Emicida apresenta uma das mais singelas canções do disco. Extremamente aprazível, o poeta brinca com as palavras e com as situações por ele construídas. Cita diversos grandes nomes da música nacional em cima de um instrumental marcado pelo ponteio doce de um violão. Bem simples, e ao mesmo tempo com uma letra bastante instruída. Destaque para a frase retratada antes do início da faixa.
09 - Vô Buscar Minha Fulô - A primeira das românticas. Mostra uma inocente rotina de um casal apaixonado. Também de pequena duração, parece vir para introduzir a faixa seguinte.
10 - Ela Diz - Cantado de maneira vagarosa, esse rap acentua a parte romântica do artista. Outra letra simples, porém esta se mostra muito mais meiga que as demais. Antecedida por "Vou Buscar Minha Fulô", dá a impressão de que o apaixonado da canção anterior se fascinou ainda mais pela mulher, e compôs uma das obras mais ilustres do disco.
11 - Por Deus Por Favor - Sabiamente sampleada da canção de mesmo nome de Nelson Sargento, porém a de Emicida parece ter um enredo ainda mais lúgubre. Narra de um modo austero e desnorteado, em terceira pessoa, um acidente de carro em que a vítima principal teria se tornado cadeirante.
12 - Preciso (Melô do Mundiko) - Seguindo na linha das canções sobre as coisas simples da vida, esta parece não tratar sobre a de Emicida. O eu-lírico conta sua história de amor, passando da paternidade á construção de um lar. Sempre intercedida pelo refrão repetitivo e introspectivo.
13 - A Cada Vento - Talvez a mais melodiosa do álbum. Uma musica idealista e esperançosa, com uma levada inspirada no reggae. Bem otimista, deixando de lado um pouco o sofrimento do rap. Como destaque, no refrão da faixa ouvimos a bela voz de Paulo.
14 - Sei Lá... - A com o ar mais leve das canções. Traz junto toda a musicalidade de Rael da Rima, que se encaixa muito bem na música toda. Com um instrumental bem suave, a letra trata de amor. Em especial de um fim de relacionamento.
15 - Cidadão - E novamente mudando da água pro vinho, a música desabafa o depoimento de quem habita a parte periférica da cidade. De pouca duração, mas que diz muita coisa. Sem refrão, só pedrada atrás de pedrada. E que no fim justifica o nome da faixa.
16 - Soldado Sem Bandeira - Uma das melhores bases da mixtape. Uma das melhores letras da mixtape. Apesar de poder ter sido melhor desenvolvida em termos de gravação, Emicida eleva a canção a outro patamar. Coloca os moradores das favelas no meio da guerra urbana, sem ter lado, sem lutar por ninguém. Mostra como esse confronto é comum na periferia. O sofrimento de quem é obrigado a conviver com os dois lados. Sem dúvidas vale play and replay.
17 - Vai Ser Rimando - A faixa já inspirou nome de um dos maiores sites de hip-hop atualmente. E fala do hip-hop também, mas principalmente do rap. De como esse estilo de música está presente na vida do autor. Das rimas e versos de Emicida, e de como o mc não irá desistir de expressar o que sente através de suas letras.
18 - Um, Dois, Três, Quatro - Com um flow fora de série, Emicida rima palavras em inglês, com português, com gírias, envolvendo as notas musicais no meio e termina com uma frase de efeito. Tudo isso para engrandecer o disco. E deu certo!
19 - Fica Mais Um Pouco Amor - A última de temática amorosa. Desta vez um amor que passou feito brisa. Dizendo que foi bom, porém passou. Música de malandro nato, com uma levada super gostosa.
20 - Outras Palavras - Uma das minhas preferidas. Caetano Veloso deve ter ficado orgulhoso de sua música servir de inspiração para essa obra-prima. Um instrumental ainda mais bem construído que a original de Caetano (que já é muito bonito). A letra consegue envolver diversas palavras, inclusive em inglês, numa velocidade impressionante. E sintetiza a vida de viagens constantes de quem vive de shows pelo país. Rael da Rima aparece de novo na mixtape, dando uma sonoridade ímpar; num som que é ímpar.
21 - Hey Rap! - Outra faixa para série de minhas preferidas. Para quem ama o Rap esta canção é de tocar o coração, encher os olhos de lágrimas e arrepiar qualquer vagabundo. Conta a história de quem vive o movimento hip-hop desde seu início, mas notou as mudanças de hoje. Cita diversas influências de discos, grupos, mc's, b-boys, entre outros. É a faixa que exalta a cultura hip-hop, e com uma dessas não tem como dizer que o gênero está em crise. Pra ser ouvida em último volume! E de preferência com uns mano no graffiti, outros no break, uns no mic e mais uns nos scrach...
22 - Essa É Pra Vc Primo... - Outro desabafo do Emicida. Esse vai para Dj Primo, seu amigo. Contando a revolta de um moleque ao perder seu parceiro, traz a tona o tema da morte no disco.Ao se atentar aos versos da canção, é possível sentir a emoção que essa música carrega. Um rap digno de aplausos! E que fecha uma trilogia de faixas que, na minha opinião, é o ponto mais alto da mixtape.
23 - Triunfo - O grande hit do rapper. Lançado como clipe antes na internet, levou Emicida ao reconhecimento. A música engrandece a vitória de cada um que luta, e conquista o almejado com o próprio suor. Com um jeitão mais orgulhoso, o autor conta em seus versos algumas de suas experiências. Um instrumental muito bem produzido como um todo. Deixando claro que "A Rua É Nóis, Nóis!".
24 - Eu Tô Bem - Com um som mais irreverente, mais solto, o cantor exalta as belezas da vida. Bem mais otimista do que em outras canções, mesmo citando ainda a pobreza. É uma música mais alegre, pra relaxar. Pra quem está, ou quer ficar "bem". Talvez tanta leveza nesse som fosse para compensar o próximo...
25 - Ooorra... (A Que Deu Nome a Mixtape) - E o gran finale fica por conta da faixa que batizou o cd. Mais uma de arrepiar. Conta a história do mc; que perdeu o pai cedo, cresceu na pobreza da periferia só com a mãe e os irmãos, quase submeteu tendência de ir pro crime e foi salvo pelo rap. Traz no refrão a parte mais tocante, que conta algumas experiências do autor. Orra, que som foda! Que história foda!
Resumindo, o rapper consegue mesclar composições de diversos temas, sem decair na qualidade. E mesmo com pouca grana, conseguiu fazer barulho na cidade de São Paulo, e no Brasil. Pra Quem Já Mordeu Cachorro Por Comida Até Que Eu Cheguei Longe impulsionou a carreira de Emicida, e o fez crescer muito profissionalmente. Uma mixtape para ser ouvida e re-ouvida diversas vezes. E que mesmo na capinha de papel, vou guardá-la como um tesouro em meu quarto.

Como diz a folhinha que acompanha o disco no encarte, o poder está na rua: A rua é nóis! Minha alma agradece. Valeu Emicida!
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