Cola cum Fróis

Escrevo pela necessidade de me livrar das palavras | @_dudufrois

domingo, 11 de novembro de 2012

Memórias Póstumas de Brás-Cubas

Vamos ao meu primeiro romance machadiano. Obra de reconhecimento dentro e fora do país, Memórias Póstumas de Brás-Cubas, se torna um livro intrigante e de fácil leitura, devido a seus curtos capítulos e o constante diálogo do narrador com o leitor. No caso, o narrador é o próprio Brás-Cubas, que após a morte resolve escrever um livro com as memórias de sua vida, que não foi lá muito agitada.

Machado de Assis consegue neste livro uma perfeita reflexão sincera da personagem central da obra: Brás-Cubas. O livro seria como uma autobiografia, muito bem humorada diga-se de passagem. Um humor ora irônico, ora sarcástico. Brás conta francamente como foi sua vida, desde seu início. Ou melhor, desde seu final. Porque o romance se inicia a partir da morte do rapaz. Outra característica da obra, é a forma que é narrada. Não segue a sequência lógica, chamada não-linear. Há diversas voltas e reflexões nos capítulos. São constantes também as interações de Brás-Cubas com o leitor.

Brás narra sua infância, seu primeiro amor, a ida á Portugal para estudar, a faculdade, a família, entre outros; sempre com muita franqueza e um humor sutil. O eu-lírico sabe, e inclusive deixa claro, que sua vida não teve grandes marcos. Brás conta também sobre outros amores, alguns amigos e os familiares mais próximos. Há diversos capítulos sobre o caso que mantinha com Virgília, esta casada com seu amigo, e as formas que o casal arranjava para se encontrar. Sobre Quincas Borba, que fora seu amigo desde pequeno, depois se tornou angustiante miserável vagando pelas ruas cariocas, e retornou novamente como um rapaz culto defendendo uma nova filosofia, mais tarde aderida por Cubas. E outros dedicados a sua irmã e Cotrim, que divergiam opiniões com Brás-Cubas sobre a herança deixada pelo pai, mas que retornaram mais tarde tentando induzir Cubas a se casar. Por mais que seus familiares fossem favoráveis, Cubas jamais casou e jamais teve um filho. Também não foi bem sucedido profissionalmente, não realizou sua ideia de produzir um emplasto para a cura da melancolia humana e não se tornou ministro.


Pois então o que faria interessante e conceituado um livro que narra a vida de um burguês sem graça do século XIX? A grande intertextualidade que Machado coloca nas páginas, sempre fazendo referências ou alusões a grandes obras da arte, cultura ou história do mundo até então. Ou a forma como o romance é escrito, com idas e vindas, tomadas e retomadas, diálogos com quem lê. Quem sabe o ponto de vista crítico sobre uma sociedade hipócrita no Rio de Janeiro, principalmente entre a classe mais rica. Talvez a quantidade de capítulos, sempre curtos, e o foco presente em cada um deles. Ou então por todos estes motivos, e mais outros. Enfim, o que se tem certeza é que Machado de Assis exprimiu através de sua pena e tinta esta que é uma das maiores obras literárias fantásticas da língua portuguesa. E acho que o autor no fundo, desejaria que quem o lê-se tome conhecimento do quão miserável nossa sociedade era, e ainda é. Para não seguir o caminho mesquinho de quem não viveu, viveu, viveu... e não acrescentou nada.

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