Machado de Assis consegue neste livro uma perfeita reflexão sincera da personagem central da obra: Brás-Cubas. O livro seria como uma autobiografia, muito bem humorada diga-se de passagem. Um humor ora irônico, ora sarcástico. Brás conta francamente como foi sua vida, desde seu início. Ou melhor, desde seu final. Porque o romance se inicia a partir da morte do rapaz. Outra característica da obra, é a forma que é narrada. Não segue a sequência lógica, chamada não-linear. Há diversas voltas e reflexões nos capítulos. São constantes também as interações de Brás-Cubas com o leitor.
Brás narra sua infância, seu primeiro amor, a ida á Portugal para estudar, a faculdade, a família, entre outros; sempre com muita franqueza e um humor sutil. O eu-lírico sabe, e inclusive deixa claro, que sua vida não teve grandes marcos. Brás conta também sobre outros amores, alguns amigos e os familiares mais próximos. Há diversos capítulos sobre o caso que mantinha com Virgília, esta casada com seu amigo, e as formas que o casal arranjava para se encontrar. Sobre Quincas Borba, que fora seu amigo desde pequeno, depois se tornou angustiante miserável vagando pelas ruas cariocas, e retornou novamente como um rapaz culto defendendo uma nova filosofia, mais tarde aderida por Cubas. E outros dedicados a sua irmã e Cotrim, que divergiam opiniões com Brás-Cubas sobre a herança deixada pelo pai, mas que retornaram mais tarde tentando induzir Cubas a se casar. Por mais que seus familiares fossem favoráveis, Cubas jamais casou e jamais teve um filho. Também não foi bem sucedido profissionalmente, não realizou sua ideia de produzir um emplasto para a cura da melancolia humana e não se tornou ministro.

Pois então o que faria interessante e conceituado um livro que narra a vida de um burguês sem graça do século XIX? A grande intertextualidade que Machado coloca nas páginas, sempre fazendo referências ou alusões a grandes obras da arte, cultura ou história do mundo até então. Ou a forma como o romance é escrito, com idas e vindas, tomadas e retomadas, diálogos com quem lê. Quem sabe o ponto de vista crítico sobre uma sociedade hipócrita no Rio de Janeiro, principalmente entre a classe mais rica. Talvez a quantidade de capítulos, sempre curtos, e o foco presente em cada um deles. Ou então por todos estes motivos, e mais outros. Enfim, o que se tem certeza é que Machado de Assis exprimiu através de sua pena e tinta esta que é uma das maiores obras literárias fantásticas da língua portuguesa. E acho que o autor no fundo, desejaria que quem o lê-se tome conhecimento do quão miserável nossa sociedade era, e ainda é. Para não seguir o caminho mesquinho de quem não viveu, viveu, viveu... e não acrescentou nada.
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