Cola cum Fróis

Escrevo pela necessidade de me livrar das palavras | @_dudufrois

sábado, 17 de novembro de 2012

Brás, Bexiga e Barra Funda

No ensino fundamental a escola indicou este livro, e eu não li. Ia ter teste, ou algo assim, e de última hora fui atrás do resumo na internet. Resultado: li o resumo, e não entendi porra nenhuma. E não ia entender mesmo. Este livro não se pode resumir. Aliás, não sei se podemos nem chamá-lo de livro; pois se trata de um conjunto de histórias que têm em comum apenas o fato de se passarem numa São Paulo do início do Século XX, e de envolverem italianos (ou descendentes) que chegaram e se instalaram nesta terra tão próspera.

Agora passeando pela biblioteca, trombei este livro por acaso e levei-o para casa. Numa noite chuvosa resolvi lê-lo. E acabei-o por completo antes da meia-noite. É um livro muito gostoso de ser lido. São histórias curtas, com um vocabulário mezzo Brasil mezzo Itália. Histórias que vão desde os imigrantes mais ricos, aos mais pobres; que vieram morar na tal Paulicéia desvairada. E por falar nisso, o livro pode ser considerado de caráter modernista. Escrito por Antônio de Alcântara Machado, retrata os costumes e a linguagem destes imigrantes italianos. O nome do livro é uma boa sacada: Brás, Bexiga e Barra Funda. Justamente bairros paulistanos próximos ao centro da cidade e com forte presença desta imigração.



O primeiro conto é Gaetaninho, sobre um pobre menino que sonha em andar de carro. Depois é Carmela, moça namoradeira. Em seguida Tiro de Guerra n° 35 sobre um grande soldado patriota. O quarto conto é Amor e Sangue, que se trata de uma trágica ilusão amorosa. A Sociedade é sobre o amor entre dois amantes, que encontram dificuldades para transformá-lo em casamento. Logo após encontra-se Lisetta, uma italianinha que sonhava em ter um ursinho de brinquedo. Coríntians (2) vs. Palestra (1) é um dos contos mais famosos, que aborda a rivalidade entre os dois times como pano de fundo para um triângulo amoroso. Posteriormente o autor segue com Notas Biográficas do Novo Deputado, que tem como enredo a vinda de um menino italiano para a casa do deputado e sua esposa, após o moleque se tornar orfão. O Monstro de Rodas é a história seguinte, que tem como assunto um triste enterro. Sucedido por Armazém Progresso de São Paulo, que envolve o dono de um armazém e sua vida entre trabalho e família. E por último, Nacionalidade, o mais italiano deles; que narra o cotidiano de um italiano patriota que acaba se apaixonando pelo Brasil.

É notável que apesar dos anos terem corrido, as ações das pessoas continuam semelhantes hoje em dia. Os costumes, o cenário e o contexto é outro; mas poderiam muito bem se passar atualmente. Pode-se observar inclusive que todos os contos mostram bem essa diversidade paulistana presente no início do Século XX. Na época do autor, a indústria e os imigrantes vinham dando um tom a mais na cidade de São Paulo. É exatamente isso que o livro conta através de histórias repletas de tragédias, alegrias, lágrimas, mortes, sorrisos e casamentos. E não é á toa que São Paulo é conhecida nos dias atuais por tudo isso; por ser a capital das diversas faces, e esse predicado não vem de hoje, não, bambino.

Nenhum comentário:

Postar um comentário