Cola cum Fróis

Escrevo pela necessidade de me livrar das palavras | @_dudufrois

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Senhora

Então pela primeira vez vou falar aqui neste blog de um livro. O nome do romance é Senhora, que inclusive da nome ao post. De autoria de José Alencar, foi publicado em 1875, revolucionando a literatura da época.

Aurélia é uma jovem rica de 18 anos, solteira, e que mora numa mansão no centro da capital nacional na época, o Rio de Janeiro. A moça mora apenas com seus empregados, pois é órfã. A narrativa claramente idealiza as características dela, elevando suas qualidades. Essa forma de descrever personagens é romântica, estilo literário que predominava na época. O livro divide-se em 4 grandes partes, não obedecendo uma ordem exata de tempo.


Na primeira parte a jovem Aurélia Camargo pede a seu tio Lemos para que ofereça uma quantia alta de dinheiro para que Fernando Seixas, um jovem que voltara de viagem do nordeste, se case com ela. Porém ela não permite que o tio revele a Seixas a identidade de quem lhe oferecera este dote tão alto pela união.  O rapaz acaba aceitando, mesmo sem saber com quem iria se casar. Seixas não era rico, mas ostentava como se tivesse dinheiro. A má situação financeira da família, o fez aceitar o dote de 100 contos de réis. Os dois se casam, entretanto na noite de núpcias Aurélia explica ao então marido o motivo desta "compra". Ela prova para si mesmo sua tese do quão mercenário Fernando era.

Assim na segunda parte o autor relata a vida de ambos antes deste casamento. Aurélia foi uma moça muito pobre, que morava apenas com a mãe e o irmão. Seu pai nunca reconhecera a paternidade. Até que após a morte de seu irmão e quando sua mãe já estava em estado grave de saúde, o pai do pai da moça resolve finalmente reconhecê-la como neta, e lhe dá o que é de direito. Seu avô por parte de pai era um grande fazendeiro, e a concedeu uma grande quantia de dinheiro. Já Fernando era pobre, juntamente com suas irmãs. Ninguém havia arranjado casamento. Foi justamente nesta época em que os dois eram pobres, que acabaram se apaixonando. Aurélia não queria se casar com qualquer rapaz rico por causa do dinheiro que receberia de dote. Sua mãe insistia o contrário. Fernando já frequentava a casa de Aurélia. Parecia realmente que iriam se casar, porém outra moça ofereceu ao rapaz uma quantia de dinheiro pelo seu casamento. E mesmo sem amá-la, Fernando aceitou. Deixando Aurélia em grande desilusão.

Já na terceira parte o livro volta a atualidade. Aurélia mostra toda a sua ironia e seu sarcasmo com Seixas. Faz o moço se arrastar por ela, jogando lhe na cara sempre que havia o comprado. O casamento era de fachada. Não tinha sentimento mais entre os dois. Porém quem os visse podia jurar que eram um casal de apaixonados, devido ao tamanho cinismo da moça. Esta era a vingança de Aurélia, pelo o que Seixas fez com ela ano passado. E esta tal sede de vingança parecia não saciar nunca.

Por fim na última parte Fernando já se mostrava claramente desolado, mudando seu comportamento. Ele havia mudado seu jeito de se vestir (com bem mais modéstia quando antes não tinha dinheiro) e de trabalhar (não faltando mais na redação onde trabalhava). Aurélia as vezes entre suas dissimulações e cinismos, mostrava ser dócil e gentil. Alterando constantemente seu temperamento, mas nunca perdendo a elegância que lhe é de costume. E é nesta parte que Seixas termina de juntar dinheiro e paga a Aurélia o que havia recebido para se casar com a moça, "comprando" assim sua liberdade. A esposa vingativa se separa do marido mercenário, para então retornar o casal de apaixonados. Aurélia revela o seu amor ainda por Fernando, que agora sim a corresponde ao coração da moça. O final entre os dois é feliz.

(José de Alencar)

Pode se dizer que José Alencar foi muito criativo na criação desta história. O cenário do romance era o Rio de Janeiro do século XIX, em que o autor critica os costumes da sociedade da época. Uma sociedade na qual o casamento para muitos era apenas a oportunidade de se fazer dinheiro. Alencar também constitui uma personagem voraz, determinada e muito inteligente. Aurélia se destoava das mulheres desta época, que as vezes só cuidavam de seus filhos e de seus maridos.

Há diversas frases bonitas, com um palavreado difícil para o leitor contemporâneo. Adjetivos que engrandecem não só as personagens, mas também a obra quando bem empregados. Não é um romance longo, por isso não é difícil de se ler. É envolvente e intrigante, gostoso de se descobrir pouco a pouco as características e os detalhes da história. Um pouco burocrático é verdade, mas muito bem feito. Bela indicação de leitura para quem gosta de literatura!

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Eleições 2012 - Acorda Brasil

Um pouco atrasado (mas nem tanto) venho aqui comentar sobre as eleições municipais de 2012. No último dia 7 de outubro ocorreram em todos as cidade brasileiras a eleição democrática de cargos públicos para prefeito e vereadores. Abaixo coloquei algumas sugestões minhas a política nacional, mesclando-as com charges, imagens e vídeos. Leia caro meu amigo interessado em gestão pública, e partilhe sua opinião nos comentários.

Não acompanhei a eleição em todos os municípios brasileiros (e nem se eu quisesse acompanhar conseguiria), mas vi alguns resultados de cidades mais próximas a mim e a minha vida pessoal. Acredito que a população tem mudado um pouco sobre seu voto. Partidos tradicionais aos poucos estão perdendo algumas prefeituras para partidos menores. Então formei minha opinião sobre o cenário político atual deste país.

Acho totalmente desnecessária esta quantidade exagerada de partidos políticos, sendo muitos deles sem ideais e metas, existindo apenas para servir de base a partidos maiores, os cedendo tempo de propaganda política gratuita. Assim os quase 30 partidos políticos revezam entre si apoio em diferentes coligações variando conforme a cidade brasileira. Particularmente acho que deveria haver um reforma política nacional envolvendo todos partidos, militantes e políticos.


Em São Paulo a disputa se concentrou entre os candidatos do PRB (Celso Russomano), do PT (Fernando Haddad) e do PSDB (José Serra) que obtiveram um índice de votos bem expressivo. Serra é conhecido da população paulista, já foi prefeito e governador. Era o favorito antes das pesquisas (as quais eu não confio e muito menos baseio o meu voto em seus resultados), porém chegou a oscilar até o resultado final em que foi levado ao 2º turno. O desconhecido Haddad foi apresentado ao povo através da força política de seu partido, e aos poucos foi conquistando os votos dos eleitores paulistanos até chegar ao segundo turno. Já Russomano é um candidato rodado por vários partidos, um conhecido apresentador de programas apelativos e populistas, na qual buscou através de sua fama de bom moço ser o prefeito da cidade.


O resultado é que PT e PSDB novamente decidirão uma prefeitura em segundo turno. Porém este cenário por pouco não ocorreu. Talvez farta desta polarização entre os dois partidos, a população distribuiu seus votos a candidatos tidos como bonitões ou salvadores dos problemas da cidade; como Russomano e Chalita. Soninha Francine (PPS) até alcançou melhor votação, mas continuou sem muita expressão nesta eleição. Já Giannazi (PSOL), Paulinho da Força (PDT), Levy Fidelix (PRTB), Ana Luiza (PSTU), Miguel (PPL), Eymael (PSDC) e Anaí Caproni (PCO) obtiveram fraco retorno nas urnas. Isto é o retrato do excesso de partidos no país, que geram muitas vezes pouca visibilidade a pequenos, porém sérios, partidos políticos. Uma imensa maioria dos eleitores da cidade desconhecem os candidatos por um todo, se lembrando apenas daqueles que mantêm uma articulação com a mídia, um maior tempo na tv e um investimento econômico superior na campanha. É visível que o povo quer acabar com essa polarização entre tucanos e petistas, mas que escolheu sem critério político os primeiros candidatos que apareceram na mídia, se esquecendo os de menor expressão, porém com boas idéias e propostas a cidade também.


Assim fica praticamente impossível eleger um prefeito em grandes cidades sem o apoio midiático, de outros partidos (mesmo que contra alguns princípios do partido do candidato) e sem uma grande verba. O eleitorado tem que selecionar melhor seu voto. Pode parecer clichê, e é, entretanto não se pode permanecer na mesma situação política do país. O voto precisa ser facultativo para TODA a população. O cidadão vota se quiser. Assim evitamos que muitas vezes aquele eleitor que vota só por obrigação desperdice seu voto com algum candidato qualquer, que ele tenha ouvido falar mais na tv.


Isso acontece principalmente com candidatos a vereadores. O eleitor muitas vezes acaba votando no primo do pai do melhor amigo de infância do vizinho da sogra dele somente por achar que seu candidato é uma boa pessoa, e desprezando suas ideias na política. As vezes nem conhece o candidato. Deveríamos votar para quem quisermos, e em qual cargo quisermos, e o mais importante: se quisermos. A obrigação torna a política mais chata e burocrática do que já é. Dificilmente um cidadão se interessaria por ela sem nenhum incentivo, e pela sua má repercussão de seus políticos. Despejando na urna posteriormente seu voto em qualquer um, descrendo ter o poder de escolher o futuro da cidade em que vive.


E o principal eu deixei para o final. É inimaginável que ainda não temos a política como matéria no ensino público. Que cidadãos estamos formando? Como um jovem sai da escola sem saber o norte da gestão pública em seu país? A educação e a política andam juntas! Não se pode deixar que saiam do ensino médio um brasileiro sem uma noção básica da política e sua história. Mas como todos já sabemos, nada disso ocorre pelo desinteresse dos encarregados: OS POLÍTICOS. Qual deputado iria favorecer o ensino público para melhorar o voto do eleitor no próximo pleito? Os do Brasil não, já que ganham com essa ingenuidade do povo.


O povo também pode ajudar muito, ao escolher melhor seus candidatos e acompanhar seu trabalho caso eleito. Gostar de política. E para quem não gosta, para que votar? Era nessa democracia que eu gostaria de viver!

Aqui exponho um vídeo no qual achei na internet muito interessante, mostrando de forma irreverente o modo como os candidatos buscam a qualquer curso iludir o eleitor em seu horário político (que inclusive também deveria ser totalmente reformulado!): 




Em São Paulo apoiaria as ideias de Carlos Giannazi do PSOL, que se trata de um partido de esquerda muito sério e pé no chão. Porém como no segundo turno estão somente os vermelhos e os azuis, fico na torcida para que Haddad leve essa, e não deixe a prefeitura novamente nas mãos de Serra.


"NO DIA EM QUE ACORDARMOS, OS GOVERNANTES NÃO IRÃO MAIS DORMIR!"

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Dom

Outra madrugada em claro que passei para ver um filme nacional. Virou rotina agora eu ver Sessão Brasil na noite de segunda pra terça, e depois comentar o filme aqui. O da vez foi Dom, primeiro longa de Moacyr Goés, que é baseado no clássico da literatura nacional, de Machado de Assis: Dom Casmurro. 

Os pais de Bento (Marcos Palmeira) resolvem homenagear o consagrado escritor brasileiro e o batizaram assim devido ao protagonista do livro, o Bentinho. Após tanto justificar seu nome de batismo, Bento passou a manter uma ideia fixa de que iria viver a história de Dom Casmurro. O rapaz morava no Rio de Janeiro, e ganhou o apelido de Dom justamente pela personagem principal do livro. Lá conheceu quando criança, Ana (Maria Fernanda Cândido), e passou a chamá-la de Capitu, devido a fixação pelo livro machadiano. Os dois viveram uma breve paixão de infância, interrompida pela mudança da família de Bento para São Paulo.

Cena do filme 'Dom', que a Rede Globo exibe na Sessão Brasil desta segunda-feira (Foto: Divulgação)

Bento cursou engenharia, e lá fez seu melhor amigo; Miguel (Bruno Garcia). Miguel não concluiu o curso, para se dedicar a carreira de cineasta. Assim convidou Bento para acompanhar uma gravação sua no estúdio de filmagem. Lá Dom reencontrou Ana, que se tornara uma atriz muito bonita. A paixão pela moça reascende em Bento, que se aproxima da moça. Os dois relembram os tempos de criança, no entanto são afastados novamente pela distância (já que Ana ainda morava no Rio de Janeiro). Dom se viu apaixonado novamente e embarca de surpresa num voo para a capital carioca, a fim de encontrá-la. Apesar de ambos estarem em um relacionamento com alguém, acabam se beijando e provando que seria inevitável ignorar a paixão antiga. Não demora muito para o casal ficar junto, e se mudar definitivamente para São Paulo.


Os dois são bem felizes no início, porém ao longo do tempo Bento vem demonstrando seu ciúme de Miguel, que cada vez mais se aproxima do casal apaixonado. Ana engravida, e o ciúme de Dom só aumenta. Além de muito ciumento, ele não quer que sua amada trabalhe. Ana então o contraria, e começa a gravar um filme com a direção de Miguel. O ciúme de Bento ia ficando cada vez mais incontrolável, afetando seu psicológico. O casal então briga diversas vezes, tendo como assunto principal das discussões o amigo de Dom: Miguel. Ana resolve partir com seu filho, deixando o marido após o mesmo fazer um exame de DNA para confirmar sua paternidade. No caminho Ana sofre um acidente de carro e acaba falecendo, entretanto seu filho acaba sobrevivendo á tragédia. O filme encerra-se com Bento junto ao filho, sem saber se realmente é o pai da criança, pois queimara o resultado do exame.

A intenção do diretor ao se inspirar no clássico de Machado de Assis foi boa, porém não é sinônimo de sucesso. O longa-metragem é regular. É nitidamente uma releitura de Dom Casmurro que segue á risca a linha do livro. Tendo como foco principal o ciúme de Bento, o filme acaba deixando de lado muita coisa presente no livro. Acho que o Moacyr imprimiu no filme sua opinião sobre o livro de Machado, em que Bentinho provavelmente não teria sido traído por Capitu, e sim ter fantasiado todo esse adultério. Logicamente que os roteristas não possuem o talento de Machado de Assis, deixando muito a desejar em relação a obra do mestre da literatura nacional. Mesmo assim vale acompanhar e se envolver na história, para no final ter a "certeza" de que Bento não foi traído. Já no livro, esta "certeza" é bem mais incerta. Felizmente!

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O Homem do Futuro

Venho-lhes mais uma vez a comentar sobre um filme nacional neste blog. Desta vez porém, não são somente elogios. Pelo contrário, é o primeiro filme brasileiro que comento aqui no qual eu não gostei do resultado por completo. Datado de 2011, o longa de Cláudio Torres apresenta uma história fantástica sobre um cientista super bem-sucedido economicamente, mas que por sua vez tem em seu passado uma grande desilusão amorosa. Tipicamente clichê de filmes internacionais.

João, o Zero (Wagner Moura), é estressado e um pouco biruta, sendo um professor universitário que paralelamente desenvolveu um acelerador de partículas "escondido" em sua universidade na qual trabalha. Com auxílio de Sandra (Maria Luiza Mendonça), sua amiga da época da faculdade, que financiou todo este empreendimento. Por meio de flashback alguns trechos da adolescência do cientista são relembrados ao poucos, até que Zero resolve testar pessoalmente sua invenção. Ele volta 20 anos ao passado para tentar mudar justamente a parte de sua história que lhe incomodava: a vergonha que passara no palco de uma festa da turma de sua faculdade, provocada por Helena (Aline Moraes) pela qual Zero era, e ainda é, perdidamente apaixonado.



Ao modificar o passado e evitar a vergonha que o jovem tinha se traumatizado, Zero achou que ficaria com Helena tendo um "final feliz" assim que voltasse a sua época normal. Entretanto ele não esperava que sua vida no futuro iria se modificar por completa, e que sua relação com Helena já teria se encerrado por próprios erros. Zero viu que quando alterou seu passado, consquentemente seu futuro também mudou. Tinha se tornado um dos homens mais ricos do mundo, e mantinha em segredo também um acelerador de partículas, de autoria de sua amiga pessoal e então parceira em seu negócio; Sandra.

Novamente então o rapaz voltou a exatamente 20 anos atrás, e enfrentou novos problemas para modificar outra vez o passado. De maneira com que o filme ia se tornando um pouco cansativo, Zero ia contracenando com diversas personagens de sua vida na tal festa de faculdade. No fim Helena acaba por beijar o Zero do futuro, e confiar que em exatos 20 anos o casal se encontraria novamente para então sim se tornarem "felizes para sempre". O passado foi concertado, Zero continuava um cientista, que corria para cumprir o combinado de encontrar Helena em duas décadas. Eles se encontram no aeroporto, se beijam e começam a viver finalmente a história de amor, tão comum em filmes de jovens, entre o nerd e a menina popular.



João e Helena parecem finalmente terem conseguido a tal felicidade, conciliando a carreira profissional com a vida amorosa. O filme entretanto, é muito previsível e as vezes burocrático. Toma em determinadas partes um ritmo cansativo e previsível. A história já de conhecimento popular. Um homem que retorna ao passado para tentar mudar seu presente e acaba alterando coisas demais. A menina popular que humilha o garoto estudioso na faculdade. Há também uma pequena presença de humor, que poderia ser melhor explorada já que o longa não possui uma qualidade superior. Enquanto o roteiro pode-se dizer que é famigerado, os efeitos do filme são bons. O encontro das personagens interpretadas por Wagner Moura (que aliás sobra em diversas cenas) parece bem real. Houveram no ano passado alguns filmes nacionais de boa qualidade, dignos de premiações. O Homem do Futuro certamente não é um deles. Apenas se trata de um filme para entreter o telespectador da televisão, logo após ao almoço de domingo.

Cidade Baixa

O filme começa com Karinna (Alice Braga) se preparando para partir para a Cidade Baixa, em São Salvador, capital do estado da Bahia. Em meio a pobreza baiana os amicíssimos Deco (Lázaro Ramos) e Naldinho (Wagner Moura) encontram a menina que buscava uma carona até a capital. Os amigos e donos de um barco oferecem carona em troca de sexo e um pouco de dinheiro a Karinna. Durante a viagem Deco e Naldinho revezam as relações sexuais com a moça. Ao meio de uma rinha de galo, perdem dinheiro e acabam arranjando encrenca com outro malandro, que fere Naldinho na barriga com um canivete. Deco tenta desesperadamente ajudar o amigo, e Karinna que já tinha arranjado outra carona a capital com um caminhoneiro, desiste para ajudar o rapaz ferido.



Assim o trio chega a Salvador, se instalando num quartinho humilde. Naldinho se recupera, Karinna começa a trabalhar em uma boate de prostituição e Deco tenta arranjar algum emprego. Paralelamente eles intercalam beijos e transas entre a moça e um dos rapazes por vez. Deco começa a treinar boxe numa academia com um antigo amigo. Karinna, com a ajuda dos dois e de outras prostitutas, aplica golpes em turistas endinheirados. E Naldinho por sua vez, se apossa de uma arma de fogo para assaltar uma farmácia. Os três se desentendem por diversas vezes, o ciúme vai tomando conta dos dois amigos que se veem apaixonados pela prostituta, que está grávida. A situação se complica, e entre conversas em botecos da Cidade Baixa e vielas do Pelourinho, surgem discussões entre Naldinho e Deco, que culmina numa violenta briga entre os dois sem trocarem uma palavra, porém derramando muito sangue. Ao final da luta, e do filme, o triângulo amoroso novamente se encontra no quartinho da pensão, numa cena em que Karinna vai limpando o sangue e os ferimentos nos rostos dos dois e o filme languidamente se finda.



Um longa dirigido por Sérgio Machado traz um enredo bem envolvente, com um cenário da capital baiana que mostra a parcela mais humilde da população. O bom gosto dá o tom na trilha sonora. A maquiagem e o figurino se mostram bastante de acordo com o que a trama pede. Uma produção bem feita, que não chega a ser de um roteiro espetacular, mas que porém se enquadra nos mais belos filmes nacionais contemporâneos. A parceria de Lázaro Ramos e Wagner Moura novamente foi um sucesso! E a última, porém não menos importante ressalva, vai para o brilhante texto do filme. Um texto bem característico da região, com sotaque e gírias regionais. Mais uma prova de que o cinema nacional pode não ser um dos mais rentáveis do mundo, mas com certeza figura entre os melhores.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Hoje é dia das crianças, e daí?

Mais do que um feriado. Hoje é sexta-feira, dia de Nossa Senhora de Aparecida (até para quem não é católico) e o tradicional dia das crianças.

Data na qual lojas de brinquedos, roupas e doces fazem a festa. Provavelmente esta data foi justamente criada para isto nesse cruel mundo capitalista... Para dar lucro a grandes empresas. Aí como consequência da mídia que divulga diversos produtos seduzindo as crianças, os mais pobres como sempre acabam sem ter o que ganhar no dia teoricamente feliz. E não tem coisa pior para uma criança do que deixar de ganhar algo, vendo um amiguinho ou outra pessoa ganhando ao mesmo tempo alguma coisa muito legal. E é exatamente assim que nasce o sentimento dentro da criança de ter algo que seus pais não lhe podem comprar. E se não lhe podem dar, a criança muitas vezes vai buscar o que deseja sozinha. Assim por talvez não ter cabeça feita acaba entrando no mundo do tráfico ou do crime...

E e exatamente isso que o respeitado grupo de RAP Nacional, Facção Central diz em sua seguinte canção entitulada com a data de hoje. Seguem a baixo o áudio da música Youtube e a letra completa:



12 de Outubro

Cadê o meu presente, o meu abraço?
A bicicleta que eu sonhei não vem com o laço
Não tem bolo, nem alegria
É dia das crianças, mas não pra periferia
Queria fugir daqui, é impossível,
Eu não queria ver lágrimas, é difícil
Meus exemplos de vitória estão todos na esquina,
De Tempra, de Golf, vendendo cocaína
Bem melhores que minha mãe no pé da cruz
Pedindo comida, um milagre pra Jesus.
Antes dos doze eu vou estar com o oitão,
Matando alguém, sem compaixão
Vou ver o filho, a mulher, chorando no corpo
Vou dar risada, vou dar mais uns quatro no morto
Eu vou brincar de assassino descarregando um 38
Legal a cara explodindo, voando um olho.
Hoje é dia das crianças, e daí?
Quem vê sangue não tem motivo pra sorrir
Não existe presente na caixa com fita
Só moleque morrendo na mesa de cirurgia.

Hoje é dia das crianças, e daí?
Quem vê sangue não tem motivo pra sorrir
Não existe presente, alegria
Nem dia das crianças na periferia

Não dá pra ser criança comendo lixo,
Enrolado num cobertor sujo e fedido
É ''dá esmola pelo amor de Deus'' um dia
No outro ''é assalto! Não reage vadia!''
O que eu vou ser quando crescer?
Quer dizer, se eu crescer, se eu não morrer.
Um assaltante de banco, um assassino,
Descarregando minha pt no seu filho
Eu vou fazer um rolê e buscar meu presente:
Uma vítima, anel de ouro, corrente.
Vou mostrar minha pureza,
Eu vou matar um cuzão por uma carteira.
Feliz dia das crianças, é 12 de outubro
Põe um brinquedo, em cima do meu túmulo
Quem brinca com revólver não conhece a alegria
Não tem dia das crianças na periferia.

Hoje é dia das crianças, e daí?
Quem vê sangue não tem motivo pra sorrir
Não existe presente, alegria
Nem dia das crianças na periferia

Posto de saúde, Paz, Grajaú
Feliz 12 de outubro, Zona Sul
Desrespeitam um médico ausente
O filho do nordestino aqui não é gente
Depois querem formatura e alegria
Mas que se foda se eu tô com meningite, pneumonia
O Brasil não me respeita, quer me ver morrer,
Quer um preso a mais,
Por quê que eu fui nascer?
Pra não ter um carrinho, um Danone,
Ou tráfico uma droga, ou morro de fome
Se eu não meter uma faca nas suas costas,
A minha chance é 100% de acabar nessa bosta
Pra ter um brinquedo, só com latrocínio
Se não for jogador de futebol vou ser bandido
Queria ter um vídeo-game, como eu queria
Mas não tem dia das crianças na periferia.

Hoje é dia das crianças, e daí?
Quem vê sangue não tem motivo pra sorrir
Não existe presente, alegria
Nem dia das crianças na periferia


Então antes de dar ou receber presentinhos neste dia, pense em quem vai passar o feriado sem ganhar nada. Pense, mude e aja! Um sorriso espontâneo ou um forte abraço, é maior do que qualquer presente!

Feliz dia das crianças.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

O Invasor


Mais cinema. Mais cinema nacional.

Após fazê-lo em prosa, o autor, e roterista do longa; Marçal Aquino, adaptou a história para a telona. Com direção de Beto Brant, O Invasor, foi lançado em 2001. O filme, que por sinal é muito bom, foi premiado dentro e fora do país, porém merecia um reconhecimento maior da crítica. Destaque para os papéis de Paulo Miklos e Marco Rica. E para a bela estréia de Mariana Ximenes nas telonas.




O enredo é iniciado com três amigos, que antes de tudo são sócios de uma empreiteira. Estevão (George Freire), Ivan (Marco Rica) e Gilberto (Alexandre Borges) administram um negócio de sucesso. Porém numa sociedade na qual vivemos em que o poder e o dinheiro são atraentes ao ponto de superarem amizades, houve quem quis aumentar seu faturamento com a queda de um sócio. Ivan e Gilberto planejam a morte de Estevão, contratando por indicação de um amigo, um matador de aluguel: o Anísio (Paulo Miklos). 

Anísio acaba matando Estevão e sua mulher, e não satisfeito com o dinheiro que Gilberto e Ivan lhe pagaram pelo feito, se envolve na construtora e na vida do assassinado. Anísio se aproxima de Marina (Mariana Ximenes), a filha de Estevão, e começa a frequentar a empreiteira; para desespero dos mentores do crime. Entre as diversas ótimas cenas de Anísio no filme estão a sua primeira visita a sala de Ivan na construtora, e a participação mais que especial de Sabotage, encarando o papel dele próprio. 

Apesar da diferença social dos dois, Anísio começou a se envolver com Marina, e proporcionaram bons momentos ao longa. Gilberto ainda se mostra seguro sobre a morte do ex sócio, entretanto Ivan se desequilibra emocionalmente. Há inclusive discussões entre os dois, que geram suspeitas de Ivan sobre o parceiro. Assim Ivan descobre que sua amante (Malu Mader) mantinha contato com seu amigo Gilberto, e não sabe o que fazer. Na cena seguinte Ivan aparece confessando todo o crime a alguém. Esse "alguém" era a polícia, que vai até Gilberto. Porém o delegado no caso era seu amigo, aliás a própria pessoa que o indicou Anísio como matador de aluguel. O filme acaba com esta cena, em que Ivan está visivelmente abalado dentro da viatura e; Gilberto, Anísio e o delegado estão lá fora descontentes com a atitude do rapaz.



O filme por si só é muito bom, com uma ótima sacada no final, na contramão da linha chata que o cinema vinha seguindo em seus desfechos. Vale ver e rever. Tendo com cenário a cidade de São Paulo, que nos proporciona todos os dias situações semelhantes. Ponto para o elenco e o roteiro. Uma leve crítica a fotografia e a sonoplastia, pois uma me pareceu um pouco fechada em determinadas cenas, principalmente de ação. E a outra soava como exagerada em algumas músicas, que nem sempre eram agradáveis de serem ouvidas em alto volume e por um longo tempo. 

O que fica do filme é que, o dinheiro compra pessoas, mata, destrói negócios e amizades. Que sobre tudo, não vale a pena botar em risco seus valores a troco da ganância e vaidade. Com tanto assunto legal assim, poderia até ter uma duração maior. Parabéns a produção! E que de vez em quando, ser um pouco do invasor Anísio, traz mais emoção e histórias para contar na vida... rs. 

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Sambando no Hip-Hop

Mais um fim de semana, mais história pra contar. Certo?

Dessa vez eu fui para um show em Taubaté, lá no Teatro Metrópolis. Outra cidade, pegar busão a noite, dar um rolê até o ponto, sem falar na volta sem nem saber se tem condução... Digamos que era um rolê raro, por isso valia a viagem.

Meti o pé. A as apresentações eram de Fabiana Cozza e Emicida tangenciando o Samba e Rap Nacional. Apesar da fila na porta, tava de boa o lugar e o público. Achei estranho o pessoal se acomodar nas poltronas do teatro por ser um evento de hip-hop. Sentei em uma delas também.

Fabiana iniciou o show com puro samba. Mesclou diversos subgêneros, tendo seu ponto forte ao entoar canções de Clara Nunes e Luís Gonzaga. Sua linda voz era acompanhada por um time muito bom entre cordas e percussão, e que percussão. Apesar de ter um belíssimo repertório, as canções não eram muito conhecidas pelo público, que acompanhou sentado. Mas a cada canção ela era bem aplaudida. Ao interpretar a última música, eis que timidamente surge o rapper Emicida causando furor da platéia. Fabiana e Emicida cantaram a canção que gravaram em parceria. O show durou aproximadamente uma hora.

Assim que terminou de cantar a última canção, Cozza se despediu do palco e deixou o rapper a sós com o público. Emicida convocou todos a se levantarem pra se aprochegarem. Seu repertório foi desde o primeiro disco, em 2009, o Pra quem já mordeu cachorro por comida até que eu cheguei longe, até o single do ano, eleito no VMB, Dedo na ferida. O público presente se animou com o jovem cantor, acompanhando o artista em seus rap's. Canções que foram do romântico ao underground, traziam a mensagem do cantor e compositor paulistano.

Dj Nyack comandou as pick-ups, sempre acompanhando o bom humor de Emicida, que deu um salve na platéia sobre a lamentável situação sócio-cultural em que a gente vive, onde a cultura não é valorizada como deveria. Comentou inclusive a respeito de estar tocando em mais um teatro, e salientou que esse espaço teria que ser destinado semanalmente ao povo da região, com atrações culturais de preços acessíveis a toda a população.O artista está coberto de razão. O governo deveria investir e dar valor ao que o povo produz. A gente precisa de cultura. Ainda mais a molecada que curte um rap.

Ao final de seu repertório, Emicida mandou um freestyle, parte do show em que o rapper faz improvisação em suas rimas com objetos mostrados na hora pela platéia do local. Com seu bom humor característico, o artista conseguiu cativar o público, cantando posteriormente suas últimas músicas do show.

E com quase duas horas completas do evento, o teatro foi se esvaziando. A equipe de Emicida vendia lá fora cd's, camisetas e bonés personalizados. O show ao todo foi um sucesso, lotando o espaço. Fica o balanço positivo, e a necessidade de se trazer mais apresentações como hip-hop e samba, para a população da região. Sou morador de Pinda, e sei o quanto carecemos de cultura. A música que nos é oferecida. Ela é sempre decorrente das casas de show que contratam quem está na mídia, pensando nos possíveis lucros e ignorando a mensagem das letras de música.

Queremos teatro, dança, circo, cinema, arte, música... DE QUALIDADE. O povo daqui merece isso, mas quem manda parece não querer que o povo se informe. Vai saber...