Cola cum Fróis

Escrevo pela necessidade de me livrar das palavras | @_dudufrois

sábado, 24 de novembro de 2012

Ghost Dog

Já tinha ouvido falar do filme, mas outro dia aí pelo twitter eu li alguns bons comentários sobre ele. Não teve jeito, e a curiosidade falou mais alto. Ainda bem. Fui procurar o longa no internet, e só o achei em inglês sem legenda. Não teve jeito, de novo, e dei o play.

O filme é muitíssimo bem montado. Jim Jarmuch realizou quase que uma antropologia cultural. Misturou uma máfia, com a realidade das ruas americanas e ainda inseriu a cultura japonesa no meio. A história narra a caminhada de Ghost Dog (Forest Whitaker), um assassino de aluguel que é contratado pela máfia local de New Jersey. Dog foi salvo por Louie (Jhon Tormey), um dos mafiosos, e assim deve sua vida a ele. Ghost Dog vive na laje de um prédio da cidade, cercado de pombas, com as quais mantém uma relação próxima; e segue os preceitos do Hagakure, espécie de código dos samurais do antigo Japão. Ao longo da trama, várias citações do Hagakure aparecem entre as cenas, todas contextualizadas com o que ocorre no filme. Assim ao matar outro homem á mando da máfia, acaba cometendo falha ao matá-lo na frente da filha, revoltando quem lhe mandara a esta missão.


Os mafiosos, que nem são tão mafiosos assim, passam a perseguir Dog. Numa das melhores cenas do filme, em que os 4 mafiosos estão reunidos numa mesa e Loiue os revela quem havia cometido esta falha, pode-se ver que esta máfia é bem mais uma sátira aos grupos de criminosos. Os integrantes do grupo então, após tentarem o matar sem sucesso, ateiam fogo na moradia de Dog, extinguindo praticamente todas as pombas que ali viviam. Ao chegar lá e ver a triste imagem, Dog se desola e cultiva a vingança aos mafiosos que lhe fizeram esta atrocidade. Começa assim a saga do rapaz de matar um por um dos criminosos, poupando apenas Louie que o salvara anteriormente.

As cenas são bem interessantes, e muitas vezes até curiosas. Entre os personagens secundários, merecem destaque: o sorveteiro melhor amigo de Dog que só fala francês, e é muito bem-humorado; a filha do homem que Dog matou, e que se trata de uma estranha figura silenciosa e fissurada por desenhos animados; e a menina que inicia um diálogo sobre livros com Dog na praça, recebe dele uma edição do Hagakure, e torna-se sua amiga. Outro personagem curioso é o mafioso fã de Public Enemy, que pouco antes de morrer começa a interpretar no banheiro a música do grupo feito Flavor Flav. Uma cena hilária! O modo com que Ghost Dog age é digno de cinema mesmo. Sempre com sua maleta repleta de armas e aparelhos que o auxiliam em roubos de carros por exemplo, ele segue á procura de um por um dos mafiosos. Além do mais, Dog era conhecido em sua área e não falava com muita gente, porém sempre foi respeitado. Frio, sutil e racional.


O roteiro mostra-se muito bem feito. Apesar de um pouco violento, é ao mesmo tempo de uma poesia ímpar. O seleto grupo de bons atores também merecem reconhecimento. Acompanhados de trilha sonora e fotografia excelente, méritos de RZA e Robby Feuller respectivamente. Eles, em conjunto, passam ao espectador a sensação sombria da personagem principal, e que acompanha todo o filme. Ghost Dog era um assassino com cara de mau, que porém ao mesmo tempo era uma pessoa doce e companheira aos mais próximos. O final do drama é só um desfecho para a história muito bem contada, que chega a emocionar. Até que para quem não tem um bom inglês, eu acredito que consegui compreender bem o longa metragem. Fica aqui meus parabéns a toda a produção desta obra de arte, e minha convicção de que é sempre bom saciar a curiosidade.

domingo, 18 de novembro de 2012

The Basketball Diaries

Na madrugada de sexta pós feriadão, estava eu assistindo a programação da televisão aberta. Eis que resolvo dormir e, logo ponho a tv em 15 minutos no sleep. Na Band passava algum filme com basquete escolar, e eu como um bom fã do esporte comecei a prestar um pouco de atenção. Era o filme O Diário de um Adolescente. Nas cenas se viam um grupo de 4 adolescentes amigos de escola, que aprontavam quando saiam fora dela. Sem saber, peguei bem o comecinho do filme, e de 15 em 15 minutos do sleep, fui adiando a minha soneca.

O filme me envolveu facilmente. A história é bem legal. São os 4 jovens que aproveitam sua adolescência na cidade de New York. Assim além do basquete e da escola, eles passam cada vez mais a se envolverem no mundo das drogas. O enredo possui um protagonista, que é Jim Carrol (Leonardo DiCaprio), que costumava escrever várias histórias e poesias em seu diário para expressar seus sentimentos. Juntamente com os três melhores amigos, Jim segue jogando basquete pelas quadras e aprontando pelas ruas da metrópole estadunidense. Cada vez mais afundo nas drogas, o grupo vê a dependência química se aproximar. Até que em um jogo pela escola, o time que era muito bom em quadra resolveu se drogar para tentar melhorar o desempenho. Assim dentre os quatro amigos, apenas um não se dopou. O resultado foi uma visível overdose em quadra, que os tirou do basquete e da escola.


Fora das aulas, os três só aumentavam seus vícios e passaram a realizarem assaltos também. Em um roubo a uma loja, um deles acaba tendo alucinações durante a ação, e é pego pela polícia. Só restam então Jim e mais um amigo, que seguem perambulando pela cidade para sustentarem o vício. Em uma bela cena do longa, ao serem enganados por um traficante, eles o perseguem e o amigo de Jim acaba o empurrando do alto de um prédio. Ao tentar fugir é linchado e preso. Jim então sofre sozinho com seu diário o drama com as drogas. Então numa alucinação em que estaria jogando basquete novamente, Jim acaba caindo na neve. Seu velho amigo Reggie o tira de lá e leva o garoto para sua casa. Reggie tenta o ajudar, mas a situação do jovem é lamentável. Jim termina fugindo da casa de seu velho amigo para voltar ao seu vício químico.


Sem dinheiro, e agora sozinho; o garoto procura sustentar a dependência além da prostituição e seus roubos. Vai até a casa de sua mãe, da qual fora expulso e de lá é denunciado pela própria mãe como tentativa de assalto. A polícia o detém cerca de seis meses na cadeia. Lá o garoto passa a se dedicar mais a seu diário do que as drogas. Acaba por se regenerar da dependência química, e ao sair da prisão vira exemplo de superação.

Eu, sem querer, peguei no sono na parte em que o garoto implora a sua mãe para que o deixasse entrar. Mas depois, com a salvação do youtube é claro, acabei por ver o final do longa metragem na internet. Assim fiquei sabendo também que Jim Carron realmente existiu. Foi um músico, escritor e compositor americano; que ao escrever sua biografia, serviu de inspiração para que Scott Kalvert dirigisse o drama, que é baseado em fatos reais. A história impressiona mesmo, e deixa claro que o caminho das drogas pode deixar para trás uma carreira brilhante, ou uma adolescência a ser vivida. Jim Carron merece reverências por sua história de vida, por ter saído de onde saiu.


Outro que merece muita aclamação é Leonardo DiCaprio. O ator dá um aspecto muito real a cada cena. O roteiro também é muito bem sacado. No contexto de New York dos anos 70, Jim, Mickey, Pedro e Newton; usam a droga como refúgio de problemas escolares e familiares servindo também de escudo para os próprios medos de cada um. Algo muito comum nos jovens dos dias de hoje. Começam por usar a droga, mas acabam percebendo que no final é a droga que os usa. É claro que a adolescência não é uma época fácil de ser vivida. Porém não seria destruindo sua própria vida e sonhos, que lhe traria a felicidade. Somente a ilusão.

sábado, 17 de novembro de 2012

Brás, Bexiga e Barra Funda

No ensino fundamental a escola indicou este livro, e eu não li. Ia ter teste, ou algo assim, e de última hora fui atrás do resumo na internet. Resultado: li o resumo, e não entendi porra nenhuma. E não ia entender mesmo. Este livro não se pode resumir. Aliás, não sei se podemos nem chamá-lo de livro; pois se trata de um conjunto de histórias que têm em comum apenas o fato de se passarem numa São Paulo do início do Século XX, e de envolverem italianos (ou descendentes) que chegaram e se instalaram nesta terra tão próspera.

Agora passeando pela biblioteca, trombei este livro por acaso e levei-o para casa. Numa noite chuvosa resolvi lê-lo. E acabei-o por completo antes da meia-noite. É um livro muito gostoso de ser lido. São histórias curtas, com um vocabulário mezzo Brasil mezzo Itália. Histórias que vão desde os imigrantes mais ricos, aos mais pobres; que vieram morar na tal Paulicéia desvairada. E por falar nisso, o livro pode ser considerado de caráter modernista. Escrito por Antônio de Alcântara Machado, retrata os costumes e a linguagem destes imigrantes italianos. O nome do livro é uma boa sacada: Brás, Bexiga e Barra Funda. Justamente bairros paulistanos próximos ao centro da cidade e com forte presença desta imigração.



O primeiro conto é Gaetaninho, sobre um pobre menino que sonha em andar de carro. Depois é Carmela, moça namoradeira. Em seguida Tiro de Guerra n° 35 sobre um grande soldado patriota. O quarto conto é Amor e Sangue, que se trata de uma trágica ilusão amorosa. A Sociedade é sobre o amor entre dois amantes, que encontram dificuldades para transformá-lo em casamento. Logo após encontra-se Lisetta, uma italianinha que sonhava em ter um ursinho de brinquedo. Coríntians (2) vs. Palestra (1) é um dos contos mais famosos, que aborda a rivalidade entre os dois times como pano de fundo para um triângulo amoroso. Posteriormente o autor segue com Notas Biográficas do Novo Deputado, que tem como enredo a vinda de um menino italiano para a casa do deputado e sua esposa, após o moleque se tornar orfão. O Monstro de Rodas é a história seguinte, que tem como assunto um triste enterro. Sucedido por Armazém Progresso de São Paulo, que envolve o dono de um armazém e sua vida entre trabalho e família. E por último, Nacionalidade, o mais italiano deles; que narra o cotidiano de um italiano patriota que acaba se apaixonando pelo Brasil.

É notável que apesar dos anos terem corrido, as ações das pessoas continuam semelhantes hoje em dia. Os costumes, o cenário e o contexto é outro; mas poderiam muito bem se passar atualmente. Pode-se observar inclusive que todos os contos mostram bem essa diversidade paulistana presente no início do Século XX. Na época do autor, a indústria e os imigrantes vinham dando um tom a mais na cidade de São Paulo. É exatamente isso que o livro conta através de histórias repletas de tragédias, alegrias, lágrimas, mortes, sorrisos e casamentos. E não é á toa que São Paulo é conhecida nos dias atuais por tudo isso; por ser a capital das diversas faces, e esse predicado não vem de hoje, não, bambino.

domingo, 11 de novembro de 2012

Memórias Póstumas de Brás-Cubas

Vamos ao meu primeiro romance machadiano. Obra de reconhecimento dentro e fora do país, Memórias Póstumas de Brás-Cubas, se torna um livro intrigante e de fácil leitura, devido a seus curtos capítulos e o constante diálogo do narrador com o leitor. No caso, o narrador é o próprio Brás-Cubas, que após a morte resolve escrever um livro com as memórias de sua vida, que não foi lá muito agitada.

Machado de Assis consegue neste livro uma perfeita reflexão sincera da personagem central da obra: Brás-Cubas. O livro seria como uma autobiografia, muito bem humorada diga-se de passagem. Um humor ora irônico, ora sarcástico. Brás conta francamente como foi sua vida, desde seu início. Ou melhor, desde seu final. Porque o romance se inicia a partir da morte do rapaz. Outra característica da obra, é a forma que é narrada. Não segue a sequência lógica, chamada não-linear. Há diversas voltas e reflexões nos capítulos. São constantes também as interações de Brás-Cubas com o leitor.

Brás narra sua infância, seu primeiro amor, a ida á Portugal para estudar, a faculdade, a família, entre outros; sempre com muita franqueza e um humor sutil. O eu-lírico sabe, e inclusive deixa claro, que sua vida não teve grandes marcos. Brás conta também sobre outros amores, alguns amigos e os familiares mais próximos. Há diversos capítulos sobre o caso que mantinha com Virgília, esta casada com seu amigo, e as formas que o casal arranjava para se encontrar. Sobre Quincas Borba, que fora seu amigo desde pequeno, depois se tornou angustiante miserável vagando pelas ruas cariocas, e retornou novamente como um rapaz culto defendendo uma nova filosofia, mais tarde aderida por Cubas. E outros dedicados a sua irmã e Cotrim, que divergiam opiniões com Brás-Cubas sobre a herança deixada pelo pai, mas que retornaram mais tarde tentando induzir Cubas a se casar. Por mais que seus familiares fossem favoráveis, Cubas jamais casou e jamais teve um filho. Também não foi bem sucedido profissionalmente, não realizou sua ideia de produzir um emplasto para a cura da melancolia humana e não se tornou ministro.


Pois então o que faria interessante e conceituado um livro que narra a vida de um burguês sem graça do século XIX? A grande intertextualidade que Machado coloca nas páginas, sempre fazendo referências ou alusões a grandes obras da arte, cultura ou história do mundo até então. Ou a forma como o romance é escrito, com idas e vindas, tomadas e retomadas, diálogos com quem lê. Quem sabe o ponto de vista crítico sobre uma sociedade hipócrita no Rio de Janeiro, principalmente entre a classe mais rica. Talvez a quantidade de capítulos, sempre curtos, e o foco presente em cada um deles. Ou então por todos estes motivos, e mais outros. Enfim, o que se tem certeza é que Machado de Assis exprimiu através de sua pena e tinta esta que é uma das maiores obras literárias fantásticas da língua portuguesa. E acho que o autor no fundo, desejaria que quem o lê-se tome conhecimento do quão miserável nossa sociedade era, e ainda é. Para não seguir o caminho mesquinho de quem não viveu, viveu, viveu... e não acrescentou nada.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Pra Quem Já Mordeu Cachorro Por Comida Até Que Eu Cheguei Longe

Estava eu voltando de uma batalha de mc's lá no centro de Sampa, e resolvi colar ali na barraquinha que os moleques vendiam os cd's, bonés e camisetas. Pedi uma camisa pra mim. Enquanto eu esperava o troco eu vi ali no meio o primeiro cd do Emicida, intitulado Pra Quem Já Mordeu Cachorro Por Comida Até Que Eu Cheguei Longe. Já tinha o escutado na íntegra por diversas vezes, porém ter o material original assim em sua mão é outra coisa. Peguei o troco e pedi o cd também. Hoje, depois de uns meses terem se passado, achei o cd e coloquei pra dar play. Prestei atenção nas letras, e mesmo já tendo ouvido mais de umas 15 ou 20 vezes cada faixa, descobri novas sacadas. Pensei comigo mesmo, tenho que escrever sobre este disco! E cá estou eu...


Desde a primeira faixa o disco já mostra sua cara. Abordando temas do cotidiano de um jovem de pouco mais de 20 anos, Emicida escreveu sobre si mesmo, sobre sua vida, sobre amor e diversas outros temas que se encaixaram muito bem em suas letras. São batidas criativas, com letras fundamentadas e nem tanta grana para a produção. O cd veio no encarte feito com papel pardo e todo impresso artesanalmente, inclusive o disco. Apesar de ser feito independentemente fez muito sucesso, conquistando admiradores e fãs pelo brasil. Comentarei sobre cada música da mix tape:

01 - (Intro) É Necessário voltar ao começo - Melhor introdução impossível! O cd já inicia com uma pancada. Com uma levada devagar e um instrumental bem suave, o mc acompanha as batidas também com uma voz suave. A letra sintetiza desde a ganância até o medo, falando sobre o cotidiano de um modo diferente. Uma letra muito abrangente, e que diz muita coisa que merece ser ouvida, termina com a frase que a batiza: "é necessário voltar ao começo".

02 - E.M.I.C.I.D.A (adoooro) - A segunda faixa fala do próprio Emicida, de um jeito um tanto quanto marrento/irreverente. Mostrando seu flow em meio a uma base bem empolgante, e com um bom refrão, a canção se tornou um dos primeiros sucessos da carreira do autor.

03 - Sozim - Outra música sobre o compositor, que no entanto vem na contramão da anterior. Traz consigo o sentimento de solidão de um jovem em meio a uma cidade cheia de pessoas. Uma faixa bem introspectiva e sincera, e ao mesmo tempo muito leve. Algo difícil de se ver na cena do Rap.

04 - Rotina - E seguindo na linha de canções sobre si mesmo, Emicida canta agora uma simples e curta. De maneira dinâmica, o poeta narra sua rotina de artista independente, trafegando seus pensamentos entre dias e a noites.

05 - Pra mim... (Isso é Viver) - Abordando agora as simplicidades que dão valor a vida, o artista apresenta outra música bem leve. Com rimas curtas e um instrumental agradável, a faixa não se estende muito.

06 - Ainda Ontem - Com uma pegada de samba na levada e no beat, Emicida canta ao lado de Rashid e Projota. Cada um escreve e canta sobre o freestyle, o estilo de improvisar no Rap, que os três rappers praticam com certa facilidade. Evandro Fióti canta no refrão da canção.

07- Pra Não Ter Tempo Ruim - Assim, mudando drasticamente a linha das músicas, esta chega ao ouvinte como um clamor do autor pelo quão desigual e preconceituoso o mundo está. A canção soa como um grito de libertação, enaltecido pela belíssima voz de Mariana Timbó que compõe o fundo (dizendo "a rua é nóis") e o refrão. Arrepiante combinação.

08 - Só Isso - Mais uma vez quebrando a sequência, Emicida apresenta uma das mais singelas canções do disco. Extremamente aprazível, o poeta brinca com as palavras e com as situações por ele construídas. Cita diversos grandes nomes da música nacional em cima de um instrumental marcado pelo ponteio doce de um violão. Bem simples, e ao mesmo tempo com uma letra bastante instruída. Destaque para a frase retratada antes do início da faixa.

09 - Vô Buscar Minha Fulô - A primeira das românticas. Mostra uma inocente rotina de um casal apaixonado. Também de pequena duração, parece vir para introduzir a faixa seguinte.

10 - Ela Diz - Cantado de maneira vagarosa, esse rap acentua a parte romântica do artista. Outra letra simples, porém esta se mostra muito mais meiga que as demais. Antecedida por "Vou Buscar Minha Fulô", dá a impressão de que o apaixonado da canção anterior se fascinou ainda mais pela mulher, e compôs uma das obras mais ilustres do disco.

11 - Por Deus Por Favor - Sabiamente sampleada da canção de mesmo nome de Nelson Sargento, porém a de Emicida parece ter um enredo ainda mais lúgubre. Narra de um modo austero e desnorteado, em terceira pessoa, um acidente de carro em que a vítima principal teria se tornado cadeirante.

12 - Preciso (Melô do Mundiko) - Seguindo na linha das canções sobre as coisas simples da vida, esta parece não tratar sobre a de Emicida. O eu-lírico conta sua história de amor, passando da paternidade á construção de um lar. Sempre intercedida pelo refrão repetitivo e introspectivo.

13 - A Cada Vento - Talvez a mais melodiosa do álbum. Uma musica idealista e esperançosa, com uma levada inspirada no reggae. Bem otimista, deixando de lado um pouco o sofrimento do rap. Como destaque, no refrão da faixa ouvimos a bela voz de Paulo.

14 - Sei Lá... - A com o ar mais leve das canções. Traz junto toda a musicalidade de Rael da Rima, que se encaixa muito bem na música toda. Com um instrumental bem suave, a letra trata de amor. Em especial de um fim de relacionamento.

15 - Cidadão - E novamente mudando da água pro vinho, a música desabafa o depoimento de quem habita a parte periférica da cidade. De pouca duração, mas que diz muita coisa. Sem refrão, só pedrada atrás de pedrada. E que no fim justifica o nome da faixa.

16 - Soldado Sem Bandeira - Uma das melhores bases da mixtape. Uma das melhores letras da mixtape. Apesar de poder ter sido melhor desenvolvida em termos de gravação, Emicida eleva a canção a outro patamar. Coloca os moradores das favelas no meio da guerra urbana, sem ter lado, sem lutar por ninguém. Mostra como esse confronto é comum na periferia. O sofrimento de quem é obrigado a conviver com os dois lados. Sem dúvidas vale play and replay.

17 - Vai Ser Rimando - A faixa já inspirou nome de um dos maiores sites de hip-hop atualmente. E fala do hip-hop também, mas principalmente do rap. De como esse estilo de música está presente na vida do autor. Das rimas e versos de Emicida, e de como o mc não irá desistir de expressar o que sente através de suas letras.

18 - Um, Dois, Três, Quatro - Com um flow fora de série, Emicida rima palavras em inglês, com português, com gírias, envolvendo as notas musicais no meio e termina com uma frase de efeito. Tudo isso para engrandecer o disco. E deu certo!

19 - Fica Mais Um Pouco Amor - A última de temática amorosa. Desta vez um amor que passou feito brisa. Dizendo que foi bom, porém passou. Música de malandro nato, com uma levada super gostosa.

20 - Outras Palavras - Uma das minhas preferidas. Caetano Veloso deve ter ficado orgulhoso de sua música servir de inspiração para essa obra-prima. Um instrumental ainda mais bem construído que a original de Caetano (que já é muito bonito). A letra consegue envolver diversas palavras, inclusive em inglês, numa velocidade impressionante. E sintetiza a vida de viagens constantes de quem vive de shows pelo país. Rael da Rima aparece de novo na mixtape, dando uma sonoridade ímpar; num som que é ímpar.

21 - Hey Rap! - Outra faixa para série de minhas preferidas. Para quem ama o Rap esta canção é de tocar o coração, encher os olhos de lágrimas e arrepiar qualquer vagabundo. Conta a história de quem vive o movimento hip-hop desde seu início, mas notou as mudanças de hoje. Cita diversas influências de discos, grupos, mc's, b-boys, entre outros. É a faixa que exalta a cultura hip-hop, e com uma dessas não tem como dizer que o gênero está em crise. Pra ser ouvida em último volume! E de preferência com uns mano no graffiti, outros no break, uns no mic e mais uns nos scrach...

22 - Essa É Pra Vc Primo... - Outro desabafo do Emicida. Esse vai para Dj Primo, seu amigo. Contando a revolta de um moleque ao perder seu parceiro, traz a tona o tema da morte no disco.Ao se atentar aos versos da canção, é possível sentir a emoção que essa música carrega. Um rap digno de aplausos! E que fecha uma trilogia de faixas que, na minha opinião, é o ponto mais alto da mixtape.

23 - Triunfo - O grande hit do rapper. Lançado como clipe antes na internet, levou Emicida ao reconhecimento. A música engrandece a vitória de cada um que luta, e conquista o almejado com o próprio suor. Com um jeitão mais orgulhoso, o autor conta em seus versos algumas de suas experiências. Um instrumental muito bem produzido como um todo. Deixando claro que "A Rua É Nóis, Nóis!".

24 - Eu Tô Bem - Com um som mais irreverente, mais solto, o cantor exalta as belezas da vida. Bem mais otimista do que em outras canções, mesmo citando ainda a pobreza. É uma música mais alegre, pra relaxar. Pra quem está, ou quer ficar "bem". Talvez tanta leveza nesse som fosse para compensar o próximo...

25 - Ooorra... (A Que Deu Nome a Mixtape) - E o gran finale fica por conta da faixa que batizou o cd. Mais uma de arrepiar. Conta a história do mc; que perdeu o pai cedo, cresceu na pobreza da periferia só com a mãe e os irmãos, quase submeteu tendência de ir pro crime e foi salvo pelo rap. Traz no refrão a parte mais tocante, que conta algumas experiências do autor. Orra, que som foda! Que história foda!

Resumindo, o rapper consegue mesclar composições de diversos temas, sem decair na qualidade. E mesmo com pouca grana, conseguiu fazer barulho na cidade de São Paulo, e no Brasil. Pra Quem Já Mordeu Cachorro Por Comida Até Que Eu Cheguei Longe impulsionou a carreira de Emicida, e o fez crescer muito profissionalmente. Uma mixtape para ser ouvida e re-ouvida diversas vezes. E que mesmo na capinha de papel, vou guardá-la como um tesouro em meu quarto.


Como diz a folhinha que acompanha o disco no encarte, o poder está na rua: A rua é nóis! Minha alma agradece. Valeu Emicida!

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Exame Nacional do Ensino Médio

Lá pro meio do ano, quando estava quase acabando o prazo para as inscrições ao o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), eu resolvi fazer a prova. Não estudei especificamente nada, e nem me esforcei o que poderia nos estudos em geral ao longo do ano. Me inscrevi mais para auto avaliação, e ver o que eu precisaria melhorar para o ano que vem.

Considerando que quase deixei de fazer a prova para ir a uma balada (o ingresso já estava comprado), até que foi tranquilo. Nunca tinha feito uma prova tão extensa, porém bastava ter concentração para realiza-la na íntegra.


A prova é bem feita, com textos retirados de diversos locais. Aliás, a grande característica do exame são os textos. São trechos sobre temas importantes, e não só componentes da matéria do ensino médio. Buscando despertar no estudante um senso crítico, os textos englobam desde notícias importantes, crônicas, obras literárias, letras de música, entrevistas á contos. Há também diversas tirinhas, anúncios de publicidade e imagens que servem de base a várias questões. Pode-se observar também um grande número de gráficos, tabelas e estatísticas na parte mais exata. Só senti falta de mapas na área de humanas.

No geral o ENEM foi muito bem elaborado. As questões pediam muito de interpretação e atentamento do realizante ao cotidiano. Cada vez menos levando a manjada decoreba das provas tradicionais. O aluno que fez o exame, teve antes de tudo, sua principal dificuldade no psicológico para se concentrar na resolução das questões e não se afobar com o tempo. Além de tudo, no segundo dia de provas foi necessário a elaboração de uma redação. O tema era sobre a imigração ao Brasil no Século XXI, surpreendendo a grande maioria de estudantes. Bastava redigir a dissertação com eloquência, apresentando o uso da norma padrão da língua portuguesa, não fugindo do tema proposto. Que aliás, este tema apesar de um pouco chato, é um assunto que poderá vir a tona em futuras discussões observando que o índice de imigrantes ao Brasil só tende a crescer.

Piadas do twitter á parte, dá para aprender bastante coisa no ENEM. O exame não é só para ser feito, e acompanhar seu próprio desempenho em relação aos outros. O exame é para ser relido em casa, com mais calma. Quem sabe até refeito por cada candidato. Há inúmeras informações em meio as questões, que contém uma grande abrangência, passando conhecimento sobre diversos assuntos importantes a quem realiza a prova.

Aprendizagens a parte, o ENEM tem o propósito principal de avaliar os alunos do Ensino Médio do Brasil. Há também quem faça o teste para concluí-lo. Mas a grande maioria dos prestantes, faz a prova com o intuito de ingressar em uma universidade federal. Acho que as universidades devem ter seus próprios critérios de admissão de estudantes, tendo por outros meios além do ENEM este egresso.

Presumo que não me saí mal nas provas, fui melhor do que imaginava. Agora é aguardar o fim do ano para ter esta certeza. Por aqui deixo meus parabéns ao MEC pelo sucesso do exame este ano! E encerro a postagem com a frase contida em meu caderno do primeiro dia: "Ler é descobrir-se na experiência do outro."

Até 2013.