Cola cum Fróis

Escrevo pela necessidade de me livrar das palavras | @_dudufrois

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

A Primeira Reportagem

Foi no fim do ano passado, ou no comecinho deste, que vi no caderno Ilustrada, da Folha de S. Paulo, uma bela matéria sobre a antiga série de livros Vaga-Lume, da editora Ática. Apesar de não ser da minha geração, me familiarizei com algumas das obras que foram citadas na reportagem. Lembro de ter lido quando criança uns 3 ou 4 livros da série, mas não me recordava da história de nenhum deles especificamente.

Na semana seguinte, arrumando uns papéis, revistas e cadernos pelo quarto, me deparei com a conhecida capa dos livros da série Vaga-Lume. Quem diria, eu tinha um exemplar comigo... Talvez já o tivesse lido também. Mas não lembrava dessa história: A Primeira Reportagem.


O livro é curtinho, gostoso, e vai fácil em 1 semana. Eu enrolei para começar a leitura, tinha coisa pra resolver, fui adiando... adiando... até que peguei pra ler, e quando vi, já tinha lido. A narrativa é interessante, e se passa em São Paulo. Tem como protagonista um jovem, que inicia a carreira de jornalista e logo vive uma aventura. Há também outras personagens curiosas, que dão o contexto da história.

O único porém fica na linguagem empregada, um pouco incomum às crianças (pelo menos as de hoje).  Mas o texto é tão feliz em seu enredo, que nos permite devorá-lo. Um roteiro bem construído, bem escrito. Méritos ao Sylvio Pereira. Um livro feito filme de suspense, mas com a magia das palavras.

Indicado não só às crianças. É também pra quem gosta de recordar a infância, e a simplicidade que ela é. Tal qual um livro de 96 páginas, repleto de imagens. Com aquele cheirinho particular de papel velho...

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Vai Passar no Carnaval Paulista - Sábado

Na segunda noite de desfiles pelo sambódramo paulistano, desfilam a outra metade de escolas do Grupo Especial. É mais show que vem por aí... Mais samba... Mais alegria... Mais emoção... E a porra toda! É carnaval!!!

Abaixo as escolas desfilantes no sábado, dia 09:

"Da Revolta dos Búzio a Atualidade. Nenê Canta a Igualdade."

Com um tema nobre e bem válido para o carnaval, a Nenê de Vila Matilde abrirá a noite de sábado. A Vila voltou! Sem dúvidas um dos melhores sambas do ano. Mesmo assim não chega a ser um samba muito bom. Não parece ter a essência da escola. O enredo é ótimo. Cantará a igualdade, e confesso estar curioso para conferir o que será lembrado pelos carnavalescos. No visual a escola aparenta ter se aprimorado. Fantasias lindas, e carros de bom gosto devem desfilar na avenida. Em harmonia a escola mostra um de seus fortes. O único porém vai para a evolução, que pelos ensaios se via a necessidade de uma melhor organização para não perder pontos no dia. Tudo isso embalados ao som da Bateria de Bambas, uma das mais famosas da cidade. E que bateria! Afiadíssima para esse carnaval. Outro ponto alto é o carro de som que traz diversos intérpretes de qualidade, mesclando a juventude com a experiência. Casal e comissão de frente também são bons. A Zona Leste aguarda um grande desfile, pra afastar o fantasma do Grupo de Acesso. Está nas mãos da comunidade da escola conseguir permanecer na elite. Quem sabe a águia consiga alçar grandes vôos nesse carnaval...

"Ser Fiel é a Alma do Negócio"

Depois de um bom enredo, vem um nem tanto. A Gaviões da Fiel Torcida leva a publicidade ao sambódramo do Anhembi. Não acho a combinação muito boa. O samba de enredo é a consequência disso. Um samba frio e burocrático. Não será desta vez que veremos novamente a Gaviões levantar as arquibancadas de ponta a ponta. O primeiro casal dos Gaviões é muito bem elogiado. A comissão de frente costuma apresentar boas surpresas. Fantasias são bonitas nos protótipos, e assim espero que sejam as alegorias de Max Lopes. O principal atrativo é sem dúvidas a bateria Ritmão. Batucada de qualidade, e que vem sendo reconhecida através das notas. Em harmonia a escola geralmente passa muito bem, porém o quesito evolução parece dar calafrios nos torcedores. Todo ano a evolução vem levando pau dos jurados. Eu espero um desfile muito bonito, mas não resultados. Sempre ponho a Gaviões correndo por fora. Esse ano não. O campeonato é bem improvável, assim como uma queda. Esse samba não me desce...

"A Sedução me Fez Provar, me Entregar à Tentação... Da Versão Original, Qual Será o Final?"

Assim como o samba de enredo da escola acima não me desce, o enredo desta também não. É o lúdico do carnaval, mexe com a imaginação, sai do comum... Legal! Mas acho que exageraram no tom. Não sei, não vi o desfile pra saber. Só vou ter certeza quando a escola passar. Talvez ela mude minha opinião. O samba saiu no mesmo estilo dos outros anos que a escola trouxe enredos abstratos. Regular. Apenas isso. Não é empolgante, mas a comunidade é. E é até de mais. Uma das comunidades mais fortes do carnaval, facilitando todo ano a nota dez em harmonia e evolução. Outra marca da escola é a bateria. Literalmente Ritmo Puro. Uma delícia de se ouvir perfeitamente cada instrumento. Sem exageros, a escola costuma fazer a diferença também em sua plástica. Alegorias boas, sem a mania paulista de grandiosidade. Fantasias seguindo a mesma linha. Por fim temos dois quesitos sem tanta garantia assim. Os únicos da escola. A comissão de frente que sempre vinha sendo penalizada por detalhes diferentes a cada desfile. E o casal de mestre-sala e porta-bandeira, em que ela faz sua estreia como primeira. No ensaio que vi, não senti tanta firmeza por parte dela. É a sempre favorita Mocidade Alegre. Atual campeã do nosso carnaval. Será uma apresentação curiosa. Deverá desfilar bem alegre, mas com esse samba as arquibancadas provavelmente não irão se manifestar. Azar deles.

"Parque dos Desejos - O Seu Passaporte para o Prazer"

Outra viagem carnavalesca. Outro carnavalesco de imaginação fértil. Dessa vez camuflaram um patrocínio de uma fabricante de camisinhas no meio. O samba saiu um tanto diferente. É até envolvente, com bons versos. Mas também mistura versos de gosto duvidoso. O carnaval da escola, plasticamente, não tem um histórico de primar pelo capricho nas composições. Nas fantasias deste ano acho que faltou também criatividade. A bateria geralmente vem bem. Com uma cadência gostosa, destacando os instrumentos agudos/agudíssimos. O carro de som é muito bem puxado por Renê Sobral. A Tom Maior apresentou uma boa evolução em ensaios, com uma harmonia que poderia melhorar ainda. O primeiro casal é bem elogiado em São Paulo, e a comissão de frente foi um dos destaques da escola no ano passado. A Tom tradicionalmente faz um carnaval mais simples, sem luxo. O forte são os quesitos de "chão". Não sei se esse samba vai conseguir levantar o tal "chão" da escola. Acredito que o enredo não ajude muito. Vou ter a certeza apenas assistindo o desfile. Acho difícil uma colocação superior a deste, e conforme o desempenho de sua comunidade, há até um risco de queda ao segundo grupo. Mas esse pessoal aí adora surpreender quem faz previsão antes do grande dia...

"Made in Korea - 50 Anos de Imigração Coreana no Brasil"

A quinta escola a desfilar será a Unidos de Vila Maria, trazendo a Coréia do Sul para o Anhembi. Acho bacana fazer enredo sobre outras culturas importantes, mas esse aí não me parece trazer nada de novo. Não há um motivo em especial para falar da imigração coreana (a não ser o patrocínio da escola), que nem numerosa foi no Brasil. É mais uma propaganda do país para São Paulo. O samba também não me agrada. Meio quadrado, também sem brilho. A bateria sim é um ponto alto na Vila. A batucada já era de qualidade antes, mas faltavam alguns acertos. Com a chegada de mestre Moleza, que até trocou a batida de caixa, a cadência teve uma sonora melhora. Primeiro mestre-sala e porta-bandeira esbanjam simpatia ao bailarem. No entanto até hoje não compreendi direito a comissão de frente da escola, ano passado. No visual digo que não sou muito fã dos últimos trabalhos do Chico Spinoza, principalmente se tratando de fantasias. Harmonia parece ser o forte da comunidade da Zona Norte, cantando muito nos ensaios. Houve inclusive uma melhora na distribuição das alas. Veremos se o mesmo ocorre no dia oficial, que pra mim ainda fica distante do caneco. A Vila Maria sempre ronda os desfiles das campeãs. Esse ano o páreo é duro, mas potencial para entrar entre as cinco ela já mostrou ter de sobra. Aprendi com esta escola em carnavais passados a não criar muita expectativa. E é isso que estou fazendo.

"Mazzaropi: o Adorável Caipira, 100 Anos de Alegria"

Literalmente, "sai da frente a alegria vai passar". A alegria vai passar porque a Tucuruvi vem alegre pra cantar este enredo. E sai da frente, pois eles vêm com tudo. Um samba lindo, engraçado e irreverente. A cara do homenageado. Que aliás, este sim é um centenário que merece virar tema de carnaval. O samba além de bom, é "pra cima". O que vai facilitar o canto e dança de seus desfilantes. E é justamente na harmonia que o Zaca tem seu "calcanhar de aquiles". Quem quer ser campeão não pode perder tantos décimos em harmonia. Em evolução a escola tem progredido bastante, mas ainda há o que melhorar. O verdadeiro destaque da escola da Norte, vem de sua conhecida comissão de frente, que está mal acostumada a tirar dez. O casal também vem tirando boas notas. Em questão plástica, a Acadêmicos do Tucuruvi também está evoluindo a cada ano. Os protótipos de fantasias são simples, pois o enredo permite isso. Espero que o carnavalesco traga seus carros alegóricos diferenciados uns dos outros. E o destaque principal da escola tem sido mesmo a batucada. Mestre Adamastor tem chamado atenção nos ensaios técnicos por aí, e soltando bossas bem elaboradas. A cadência da bateria chama atenção. Pode-se ouvir nitidamente cada um de seus instrumentos. Espero um puta desfile. Da quinta pra cima. Sempre vejo a escola descendo a avenida um tanto desanimada. Acho que isso deve-se muito aos sambas com que ela desfilou. Neste ano porém, o samba só tem a acrescentar, e é bem provável que voltemos a ver a escola empolgando o público de novo. Mazzaropi ficaria muito contente. 

"Pra Todo Mal a Cura. Quem Canta seus Males Espanta"

Outro enredo batido. Este por sua vez tem uma outra abordagem, que não parece ser tão diferente assim, Mais um samba padronizado. Versos que quem escuta bastante sambas de enredo parece já ter ouvido isso antes, em vários lugares. Um carnaval feito sem a verba da prefeitura, devido ao ocorrido na apuração do ano passado. E a última escola a desfilar, após duas longas noites de desfiles. Essa apresentação da Império de Casa Verde tinha tudo pra ser cansativa... A não ser por um motivo: a bateria. Simplesmente porque mestre Zoinho e seu homens são claramente a melhor batucada da cidade. Que bateria! É pra se ouvir uma vez, e cantarolar o dia inteiro. Eles salvaram o samba. E é bem possível que salvem o canto da escola. Têm chamado muita atenção durante os ensaios. Não é por menos. A Império trabalha bem a harmonia, precisando apenas de mais empolgação por alguns componentes. O primeiro casal é bastante respeitado, tem talento. A comissão de frente não veio tão bem ano passado. Este ano promete-se surpresas. No módulo visual entra um novo carnavalesco, de bom currículo e que já aparenta fazer um bom trabalho. Há quem aponte a escola para ficar entre as 5. Há também quem diga que o tigre disputará o acesso ano que vem. Eu espero um regular/bom desfile da escola, torcendo para ser surpreendido. Se não for, só por ouvir a bateria já valeria a presença.

Vai Passar no Carnaval Paulista - Sexta-Feira

Sexta-feira, dia 08, começam os desfiles das escolas de samba em São Paulo. As acompanhei durante todo ano, portanto colocarei abaixo as minhas expectativas. Já adianto que pra mim a campeã do carnaval 2013 sai neste dia.

Seguem as 7 escolas de Sexta-Feira:


 
"Beth Carvalho: A Madrinha do Samba"

A missão de abrir o carnaval irá ficar por conta da Acadêmicos do Tatuapé. Retornando este ano do Grupo de Acesso, a escola vai cantar Beth Carvalho na avenida. O enredo é muito bom, e ganhou a comunidade da escola. No entanto, o que me preocupa é o modo com que o carnavalesco irá desenvolvê-lo. Os carros alegóricos deverão vir simples e (espero eu) bem acabados. As fantasias também são simples, porém de bom gosto. E acho que esse seria justamente um dos pontos fracos, o visual. O samba de enredo é muito bom, empolgante e deverá contagiar os componentes. Com certeza é o ponto forte. A bateria melhorou bastante, e vem realizando duas bossas bem interessantes nos refrões do samba. Em harmonia eu vi a escola alternar ótimos e fracos ensaios, mas no geral o balanço é positivo. Faltou apenas uma melhor organização das alas, coisa que sem dúvidas estará perfeita na sexta. O primeiro casal da agremiação é muito bom, e a comissão de frente não fica atrás. Espero um memorável desfile, e sem muitos erros. A disputa este ano é difícil, e para quem quer permanecer no Especial, não podem haver falhas. Não tenho dúvidas de que a escola fará um emocionante desfile, mas ficar no grupo de elite já são outros quinhentos.

"Os Condutores da Alegria - Numa Fantástica Viagem aos Reinos da Folia"

A segunda da noite é a Rosas de Ouro. Atual vice-campeã, chega ao carnaval com status de favorita. O enredo é muito bom! Uma viagem dentre as principais festas populares de todo o mundo. Tradicionalmente a escola apresenta um dos melhores conjuntos de fantasias e alegorias da cidade. Neste ano só não gostei muito de alguns figurinos. O samba é regular, não é empolgante, mas não chega a atrapalhar o canto da escola. Um dos pontos fortes do ano será a harmonia. Ensaiaram muito bem nos ensaios técnicos. A Batucada D'responsa sempre vem bem, recheada de breques. Acho que o destaque vai ficar por conta dos tritons, que darão um swing diferente. O casal de mestre-sala e porta-bandeira não costuma falhar. Já a comissão de frente, vem alternando boas más atuações nos últimos anos. É forte concorrente ao título, e acho que larga um pouco à frente das demais. Provavelmente será outro desfile técnico, em que o público vai admirar toda a encenação e plástica da Rosas. Levantar o povo com esse samba não "vai rolar".

"Mário Lago - O Homem do Século XX"

Logo em seguida a Mancha Verde adentra a passarela contando a história de Mário Lago. Um bom enredo, claro, mas não gosto muito da forma que ele é abordado. O samba é regular, com algumas partes de explosão. No entanto, peca na letra. A Puro Balanço vem quente, com a mesma cadência gostosa. Uma das grandes baterias do dia, e quer repetir a nota máxima. Outro destaque é o carro de som. Na evolução e no canto, a Mancha parece trabalhar para melhorar o que vem dando certo. Esses dois quesitos podem ser cruciais para tirar ou colocar a escola na disputa pelo campeonato. Outro quesito que está tendo uma atenção maior é o de alegorias. Já as fantasias são pesadas visualmente. A escola tem na comissão de frente o seu ponto forte, e que pode fazer a diferença. O primeiro casal precisa mostrar que se preparou ainda mais para este ano. No geral é sempre feito um carnaval bem bonito, e animado. A agremiação vem vindo com vontade, mas não acho que leve o título pra casa. Que na avenida eles possam me provar o contrário!

"Sangue da Terra, Videira da Vida: Um Brinde de Amor em Plena Avenida - Vinhos Brasil"

Fazendo propaganda dos vinhos nacionais, a Vai-Vai é a quarta escola a desfilar. A Saracura é sempre uma das favoritas. O tema, além de patrocinado, é um tanto batido no carnaval. Mas a escola nos promete uma abordagem única. Tradicionalmente a comunidade da Bela Vista dá show em termos de harmonia ao desfilar. Já a evolução sempre merece mais atenção. O samba de enredo é bem construído, e sobretudo, muito bem escrito. Não é explosivo, mas é bem animado. Wander Pires contribui bastante pra isso. A bateria Pegada de Macaco dispensa apresentações. Sempre retinha, com sua célebre batida de caixa mais acelerada, a escola não costuma perder pontos no quesito. Em termos de alegorias, sempre nos apresenta um bom conjunto de carros. As fantasias são bonitas, e aguardo um bonito efeito no desfile. No quesito comissão de frente a Vai-Vai é uma interrogação esse ano; e é outra escola que alterna boas e regulares apresentações. O casal principal é um dos mais elogiados da cidade, se não o mais. Tá na briga ali, dependendo de um desfile superior ao do ano passado, se quiser levar taça. Sem dúvidas vai sacudir o Anhembi.

"Se Pra Ter Diversidade Basta Viver Com Alegria: Sorria... Pois São Paulo Hoje É Só Harmonia"

É com o samba mais bonito de se ouvir que a X-9 vai ganhar a avenida. Uma obra-prima. A melodia é seu diferencial, ainda que tenha uma letra muito rica. A escola irá cantar a diversidade da cidade de São Paulo, de uma forma que parece ser bem interessante. Haverá a mistura de todas as raças no enredo, que eu espero ser mais claro do que o do ano passado. Os protótipos de fantasias estão bem bonitos, e as alegorias devem vir com uma melhor execução. De harmonia eles ainda têm que melhorar bastante, pois os ensaios não foram lá muito animados. A comissão de frente possui uma das melhores coreógrafas da cidade. A bateria melhorou em relação ao ano passado, mas ainda precisa de alguns ajustes para a nota máxima. O casal é talentoso, mas a fantasia deste ano precisa ajudar. A X-9 Paulistana poderá passar tanto muito bem, quanto muito mal. Fico com o meio termo. Acho difícil beliscar vaga nas campeãs, assim como o rebaixamento. Meu palpite é de um desfile frio por parte dos componentes, mas bem agradável de se ver. Muito se deve por causa do belo samba.

"Dragão, Guardião Real, Mostra Seu Poder e Soberania na Corte do Carnaval"

Querendo surpreender novamente, vem chegando Dragões da Real. Este ano porém, o samba de enredo não vai ajudar. Nem o próprio enredo, que está mais para um tema. Falar de diversos dragões é maneiro, mas se não for bem desenvolvido na avenida pode dar errado. O samba é bem fraco. O que pode alavancar a escola é a parte de alegorias e fantasias. Promete ser um desfile luxuoso. Como luxo não ganha carnaval, a escola precisa ter maior atenção com sua evolução. A harmonia geralmente não é problema. Já a bateria tem um breque interessante no final do samba, que inclusive dá um gás no canto. Espero vê-la mantendo boa sustentação, sem embolar os naipes ao longo da apresentação. O primeiro casal é bom. Sobre a comissão de frente; ano passado eu não gostei. Veremos a criatividade que ela vai trazer esse ano. Eu sinceramente não acho que a Dragões possa desfilar duas vezes. Porém, como o carnaval paulista está bem concorrido, estamos sujeitos à surpresas. Acho ainda que um possível rebaixamento não está descartado, mas confesso que é um pouco difícil. O desfile não deverá ser tão alegre como o do carnaval passado. Daniel Collête tem tudo pra me dizer que não é bem assim...

"Minha missão. O canto do povo. João Nogueira."

Para encerrar a noite de sexta-feira, quase ao amanhecer, a Águia de Ouro traz simplesmente o melhor samba do carnaval 2013. Uma poesia em forma de samba. Uma melodia que parece bailar nos ouvidos. Serginho do Porto ainda, deu muito bem a voz para o samba de enredo. Faz contra canto e os carai. "O meu medo maior" é o Quinho começar a gritar neste samba, que passa longe do estilo salgueirense nos últimos carnavais. "E o meu medo maior" é o samba ser mais acelerado ainda do que foi no disco. No ensaio já achei ele bem "pra frente". Mas isso não é com o carro de som, e sim com a bateria. E não parece ser exclusividade desse ano. Sempre vejo a Águia acelerar suas composições na avenida. As vezes dá certo. Esse samba porém, será um tiro no pé se for cantado em ritmo de frevo. Em harmonia a agremiação tem uma boa comunidade, falta só uma melhor organização de espaço aos componentes e tempo de desfile (vide ano passado). A comissão de frente não deverá demorar tanto para evoluir, aprendendo com os erros cometidos; e permitindo dessa vez que o primeiro casal exiba tranquilamente sua apresentação, na estreia dela pela escola. Sobre o carnavalesco, digo que Cebola tem boas ideias e mostra nas encenações a sua marca. Peca entretanto, na concepção de algumas de suas fantasias e alegorias. Se não correrem com o andamento do samba, a escola vai muito bem (bem mesmo). Se acelerarem a bateria, correm um risco de repetir a dose do ano passado; só que dessa vez com maiores chances de cair, devido ao alto nível das escolas. Sem dúvidas será um carnaval memorável da Águia. Tem tudo para ser mais um emocionante desfile do Cebola pela manhã.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Dos Villas Bôas aos Gonzaga's

Nas últimas semanas a Rede Globo exibiu de maneira fragmentada em sua programação os filmes "Xingu" e "Gonzaga - de Pai pra Filho". São dois filmes excelentes. Boas histórias, baseados na realidade, com enredos atraentes e originais! As melhores coisas que vi no cinema nacional ultimamente.

A Globo acertou em já trazer à telinha as duas produções. Apesar de há pouco tempo atrás estarem nas salas de cinema do país, acho que ambos os longas merecem a visibilidade nacional que a televisão brasileira alcança. Afinal são duas histórias relevantes à nossa cultura.

Cena do filme "Xingu"

Xingu conta a aventura dos irmãos Villas Bôas (Orlando, Cláudio e Leonardo), que nos anos 40 embarcaram numa expedição rumo à mata fechada, no interior do Brasil. Desconhecido do homem branco, até então. Essa expedição acabou tendo o primeiro contato com os indígenas do local, e que posteriormente criou laços de amizade entre os dois "lados". Porém, o Governo da época clamava pelo progresso, e achava que esses índios estariam no caminho. Os irmãos abraçaram a causa nobre, e defenderam o direito das terras indígenas. Muito se foi discutido, muitas vidas foram perdidas também; mas ao correr de alguns anos eles conseguiram uma vitória: o Parque Nacional do Xingu. Uma espécie de grande reserva indígena, em que ali dentro os nativos estariam livres da ação do homem branco. O Parque existe até hoje. Firme e forte.

A narrativa é linda, chega a emocionar. Nos faz enxergar que os verdadeiros donos de toda esta terra, são eles. Nós é que os expulsamos. O filme também acerta na escolha do elenco, na filmagem/fotografia e sobretudo na trilha sonora. É uma delícia assistir, e aprender um pouco mais sobre nosso passado. Destaque para a atuação dos índios. É um filme que leva um jeitão de documentário, e me pareceu ser bem fiel à realidade. Ainda mais em tempos de diversas desapropriações de terras indígenas, entregues aos grandes fazendeiros. A belíssima produção veio em boa hora, e pra ficar na memória.

Foto: Downtown Filmes/Divulgação
Gonzagão (Nivaldo Expedito) e Gonzaguinha (Júlio Andrade)

Agora, fazer um filme sobre a vida do Rei do Baião e seu filho é tarefa difícil. Tantas histórias que se encaixariam no longa metragem... Tanto de Luiz Gonzaga, quanto de Gonzaguinha. Mas fizeram melhor do que isso. Elaboraram o enredo entorno da relação entre esses dois grandes nomes da música brasileira. Uma relação difícil por ambos os lados. O filme narra desde a vida que Luiz (ainda menino) levava no Nordeste, até reconciliação com seu filho. Passando por seus amores, o exército, os amigos, a carreira no Rio de Janeiro, o sucesso no país, o declínio, o reconhecimento que seu filho começava a ganhar, e tantas outras coisas; ficando inclusive, algumas de fora. Claro que não cabe tudo no filme, mas ele até poderia ser um pouco mais completo, já que é quase uma biografia do Gonzagão.

Mas no geral o filme é muito bem feito. Emocionante! O roteiro é mais envolvente do que o de "Xingu", por se tratar do Rei do Baião. Homenagem justíssima ao centenário de Luiz Gonzaga. Os atores são talentosos. Há uma bela seleção de músicas. Mas o destaque da obra fica por conta de conseguir mesclar ora um humor bem contextualizado, ora momentos de fortes emoções. Outro filme pra ficar em nossas lembranças, juntinho com a música dos Gonzaga's. O pai, e o filho.

Espero que a emissora continue explorando este lado cultural da televisão. O Brasil é muito rico, e tem muita coisa boa sendo produzida aqui. E isso merece destaque. Só espero porém, que desta vez exibam o filme completo. E não em partes recortadas. 

Que venham mais filmes nacionais de qualidade e conteúdo!

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Sambas de Enredo 2013 - Rio de Janeiro

Restando apenas uma semana e um dia para as escolas cariocas desfilarem na Marquês de Sapucaí, venho postar aqui minha impressão sobre os sambas de enredo deste ano. De início eu não pretendia escrever sobre os sambas do RJ aqui, mas minha opinião foi mudando ao longo de diversas audições do material e achei que valeria o registro.

Capa do disco com os sambas de enredo deste ano 

Vamos lá, escola a escola, pela ordem do CD:

O disco começa com o samba da Unidos da Tijuca, a campeã do ano passado. Eu já não tinha ido muito com a cara da obra de 2012, e não mudei de opinião para este ano. O samba é até bem escrito e com algumas boas sacadas, mas não empolga. O enredo é interessante, porém não parece ser muito claro. Bruno Ribas até se esforça, mas a melodia não é contagiante. Um samba mediano, pouco pra quem quer se bi-campeão.

Em seguida Xande de Pilares, Quinho, Serginho do Porto e Leonardo Bessa anunciam a Acadêmicos do Salgueiro. Acho um tanto exagerado o número de intérpretes na faixa. Uma curiosidade é que o samba tem o mesmo número de autores, e de puxadores no CD (quatro). Mas não se pode negar que são três bons intérpretes de avenida, e mais uma bela voz da música nacional. Sobre o samba, enxergo uma certa pobreza na letra. Devido talvez ao enredo inusitado. Porém é um samba extremamente pra cima. As rimas são bem fáceis de memorizar. O destaque fica por conta da bateria Furiosa, que mandou benzaço na faixa inteira! 

É com uma simplicidade sublime que chega aos ouvidos a faixa da Unidos de Vila Isabel. Composto por: Martinho da Vila, Arlindo Cruz, André Diniz, Tunico da Vila e Leonel o samba é certamente um dos melhores dos últimos carnavais. E sem sombra de dúvidas, o melhor do ano. Poesia pura. Uma melodia singular, muito interessante de se escutar. Dá vontade de sair cantando, e ir junto à escola. Fora a belíssima introdução que foi feita. A Vila com esse samba, larga na frente das demais rumo ao título.

Sob o relinchar de um cavalo, e os galopes de seus tamborins; a Beija-Flor de Nilópolis parece vir diferente. A melodia se sobressai em relação aos últimos carnavais da escola, lembrando muito o último bom samba deles - em 2007. Neguinho da Beija-Flor (ainda) tá cantando muito! O samba é muito gostoso de ouvir. Bons refrões, e uma parte final que "sobe" a escola toda. Transmite bem o enredo, de gosto duvidoso. Destaque para o cavaquinho dando um toque especial na harmonia da Beija. Só achei bem desnecessário os gritos de "é campeã" no final da faixa. 

Com uma dupla que se entrosou bem nos microfones, a Acadêmicos do Grande Rio trouxe um samba diferenciado. A começar pelo curto refrão, e que não sai da cabeça não. Também chama atenção pelos versos curtos, e fáceis de serem cantados. De início não gostei muito da obra... mas ela foi me conquistando. Me peguei diversas vezes cantarolando essa melodia. Muito se deve pela Invocada Bateria, que deu show no áudio! Diversos breques bem elaborados, com uma atenção especial ao da parte final do samba (em que ficam apenas os surdos de terceira desenhando). No entanto a letra fica devendo bastante. O enredo não me parece muito conciso. Como se trata de um protesto, acredito que caberia ali um bom-humor. 

Outra poesia no disco. Muito se deve ao enredo que foi brilhantemente escolhido. Com um samba grande, mas antes de tudo, um grande samba. Assim que vem a Portela esse ano. Falando sobre seu próprio bairro, não tinha como não dar samba bom. Gostoso de ouvir, com uma cadência ímpar. Levada bem gostosa. Tenho um receio de na avenida ele ser um pouco mais acelerado. Tomara que isso não ocorra. Só não é o melhor samba de enredo do ano, porque a Vila não deixou. Mas os dois ficam ali, juntinhos na nota máxima.

Com quatro vozes marcantes, a Estação Primeira de Mangueira mostra sua obra. Destaque pro Agnaldo Amaral, um dos quatro intérpretes da escola, e que poderia levar muito bem o samba sozinho (assim como qualquer um deles). Não acho necessário esse monte de puxadores, mas se a escola tá feliz assim... Já sobre o samba achei que o nível de composição da escola caiu este ano. Ele até tem seus bons momentos, como o refrão ou alguns versos, mas é extenso. Não muito empolgante. Me lembrou os sambas paulistas.

A simpática União da Ilha do Governador vem cantando Vinícius de Moraes. Teoricamente daria um bom samba. Só na teoria. Talvez a grande decepção do ano foi da escola insulana. Nem Ito Melodia deu jeito. A letra e a melodia não parecem casar muito bem. Simplesmente não gostei do samba. Custo a ouvir a faixa inteira.

Para quem aprecia música, ouvir a faixa da Mocidade Independente de Padre Miguel é um bom passa-tempo. Não só pelo tema da escola, que é sobre o Rock in Rio e relembra os diversos festivais. Mas sobretudo por conta da sempre elogiada Não Existe Mais Quente, bateria da escola. Um show à parte, principalmente no refrão do meio, com destaque pra guitarra elétrica, o cavaco e o pandeiro. Em termos de samba de enredo a agremiação fica devendo. Tem até uma melodia agradável, é curto e bom de cantar. Mas acredito que a Padre Miguel deverá perder pontos no quesito. Muito disso por culpa da letra.

É dizendo que "o Pará é a obra-prima da Amazônia" que Dominguinhos do Estácio abre a faixa da Imperatriz Leopoldinense. Um fato interessante é que ele já tinha dito isso em 2004, pela Viradouro, quando a escola reeditava um famoso enredo sobre o círio de Nazaré. Aí surge em parceria com Dominguinhos, o Wander Pires. Ponto pra Imperatriz! São dois "puta" intérpretes, que misturam muito bem duas gerações ao cantarem o hino da escola para este ano. E que hino... É um samba extremamente bem feito. Em uma letra toda bem escrita e adequada. Isso porém não fez o samba se tornar burocrático. A melodia também é bem interessante. A bateria Swing da Leopoldina dá o tom da bela faixa, que é a cara da escola. Merece ser ouvida outra vez.

Com toda irreverência que lhe é característica, a São Clemente vem falando do horário nobre. Claro, de uma maneira bem-humorada. Entretanto, há uma diferença na escola este ano. Quem antes criticava com muita alegria e deboche diversos assuntos da mídia em seus enredos, hoje canta na avenida as novelas da Globo. No mínimo curioso. Senti falta dessa crítica esse ano, que se tornou marca da agremiação. No mais, é um samba muito animado. Talvez o mais "pra cima" do ano. Vai funcionar, sem dúvidas. Também, o intérprete é logo o Igor Sorriso. O destaque fica por conta dos primeiros versos, que dão um tempero nessa salada. O resultado é positivo.

E para encerrar a safra 2013, a Inocentes de Belford Roxo trouxe um samba quadrado. Até burocrático. Também, o enredo não ajuda nada. Os puxadores até mandaram bem. É outro samba que lembra os da capital paulista. Na difícil missão de permanecer no grupo Especial, a escola errou a mão. Outra faixa que não me dá vontade de ouvir as duas passadas.

E como diz o samba da Grande Rio: "é, a mensagem taí...". No geral a safra é boa, superior aos últimos anos. O CD visualmente também está mais bonito. Acredito em um grande carnaval no RJ, apesar da quantidade de enredos patrocinados, que não prezam tanto pela qualidade. 

A briga na avenida é boa; e saudável! Desejo um bom desfile à todas elas...