Cola cum Fróis

Escrevo pela necessidade de me livrar das palavras | @_dudufrois

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Uma Noite em 67

Sempre escutei comentários a respeito sobre este show, porém não sabia o que havia acontecido exatamente naquela noite. Aí esses dias, por viajar dentre as obras de Chico Buarque espalhadas youtube á fora, não é que encontro um documentário (muito bem) feito sobre o tal III Festival de Música Popular Brasileira? Sensacional! Não o documentário em si, mas o que aquela noite representava na música nacional da época; e representa ainda hoje para quem a aprecia.

Evento realizado pela TV Record, a grande final do festival ocorreu no Teatro Paramount, dia 21 de outubro de 1967, e em pleno regime militar. A esperança de maior liberdade se alimentava na alma da nova geração da música nacional. Surgiam novas misturas musicais, novos ritmos. Havia uma certa retomada a própria cultura nacional. Como contraponto a ditadura militar alguns músicos rejeitam o que vem de fora. Outros se inspiram no sucesso do rock mundial da banda The Beatles. Este era o cenário em que a televisão promovia grandes festivais de música, tendo o de 1967 como o maior deles.


Tamanha grandiosidade para um programa de televisão se deu pelo nível dos concorrentes. Na finalíssima participavam 12 obras inéditas com seus respectivos intérpretes, tendo maior destaque para as cinco primeiras colocadas. Havia uma platéia repleta de jovens que vaiam e aplaudem com muita intensidade. Uma das vítimas da tal platéia foi Sérgio Ricardo, com a canção "Beto Bom de Bola". A canção teria sofrido mudanças em seu arranjo, e ao anunciarem isso, foi recebida por vaias que a acompanharam até o fim. Não conseguindo prosseguir com sua apresentação Sérgio desiste de cantá-la, e em resposta a sonora vaia do público ele quebra seu violão no palco, e o lança em direção ao público. Tudo isso ao vivo em rede nacional. Logicamente que depois do acontecimento, a organização desclassificou Sérgio Ricardo do festival. E a cena do cantor sendo vaiado é relembrada até hoje na internet.


Agora falando sobre as cinco canções que mais bem se classificaram nesta final, e que nos dias de hoje são bem conhecidas da população brasileira em geral: o quinto lugar da disputa ficou Roberto Carlos, com "Maria, Carnaval e Cinzas". Vindo da Jovem Guarda para cantar um samba, Roberto também sofreu vaias do público do teatro; porém sua apresentação terminou com calorosos aplausos. Caetano Veloso com sua conhecida "Alegria, Alegria" interpretou de linda forma a música ao lado dos argentinos do grupo Beat Boys. As vaias também marcaram a apresentação de Caetano, que ao final da mesma foi ovacionado pelo público ficando no quarto lugar. O terceiro colocado foi Chico Buarque que interpretou "Roda Viva" ao lado do grupo MPB-4; desta vez sem vaias, mas sim sob gritinhos de "lindo" no início e também ovacionado posteriormente. A canção é bem conhecida, e veio à publico numa época muito propícia para o que é abordado em sua letra. A música vice-campeã do festival foi "Domingo no Parque" cantada por Gilberto Gil, juntamente com os jovens d'Os Mutantes, e mesclava um rock com uma levada de capoeira muito bonita. A canção simples, e ao mesmo tempo belíssima foi bem recebida pelo público e pelo juri do concurso. E por fim a nacionalmente conhecida "Ponteio" foi a grande escolhida pelos jurados para receber o prêmio do festival de música. O público pareceu concordar com a canção vencedora, gritando a todo momento para Edu Lobo e cia. A obra realmente era muito bem construída para o festival, com um belo arranjo musical, e teve todos os méritos da disputa.

Segue o documentário que inspirou esta publicação:


Foi o ápice da música nas telinhas. Após este festival vieram alguns outros, cada vez menores e cada vez menos expressivos. A televisão deixou a música como protagonista para dar lugar a novelas e jogos de futebol no centro de sua programação. Os bons músicos e compositores se distanciaram da televisão. Hoje dificilmente vê-se programas de música na tv aberta brasileira. Concurso musicais então, nem pensar. Quando há são disputados por artistas que voltaram ao anonimato, ou por pessoas sem o mínimo talento para a música. E quase nunca essas canções são inéditas. Fora os tais reality shows em que buscam encontrar novos intérpretes pelo Brasil. Acho que a televisão deixou um pouco a música de lado, e perdeu muito com isso. Uma ferramenta de entretenimento que nunca foi inteligente, só teve prejuízo ao abandonar essa forma de cultura tão querida pelas pessoas. Uma pena, pois ao caminharem juntas elas só têm a se complementarem, e consequentemente alçarem maiores vôos.

A música (eu digo a de qualidade) porém não sentiu tanto essa perda. Ela sobrevivia muito bem, obrigado, sem a televisão e, até mesmo sem o rádio. São formas de divulgação de trabalho, muito importante é verdade, mas que entretanto não interferem na qualidade das obras musicais compostas independentemente da mídia. Atualmente surge música de qualidade em toda parte do Brasil. A mídia no entanto não nos mostra por inteiro o que ocorre no cenário musical nacional. E nem a indústria fonográfica. Resta então encontrar a nova geração da música deste país pelo bom e velho "boca a boca", ou através da internet. Se não encontrar, voltemos ao pretérito. Recordar algo que você já conhece e sabe que é interessante ouvir, nunca será regredir.

Fica aqui o registro final do post com a grande composição vencedora do concurso de 67 (numa versão com Zizi Possi em 92) provando que o festival deixou um legado admirável:

 

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