Enfim fizeram a homenagem que o gigante tanto merece. O filme conta toda sua história, desde Triunfo, onde nasceu em Pernambuco; passando por Paulo Afonso, na Bahia; por Ceilândia, em Brasília; aqui pelo eixo Rio-São Paulo, principalmente pelas bandas do centro de Sampa e do ABC paulista; até o exterior, como Berlin e Nova Iorque. Mostra, que Nelson sempre teve o sonho de fazer da dança sua forma de vida. E que pôde finalmente realizar isso aqui em São Paulo.

Nelson Triunfo e sua crew, fazendo o que mais gosta.
São diversas entrevistas interessantes, que dão voz desde dançarinos profissionais ao mais alto nível do hip-hop (nacional e internacional). Desda velha-guarda lá da São Bento, à grandes músicos de sucesso atualmente. Todos se mostraram admirados pela forma única dele mexer seu corpo de 1,90 de altura. Quem comanda tudo isso, no maior estilo locutor de rádio black dos anos 90, é Thaíde, outro pioneiro quando se fala da cultura hip-hop no Brasil.
A história do Nelsão se mistura com a história da música negra brasileira. Tanto o funk, quanto o soul, e sobretudo o rap; têm grande contribuição do homem-árvore, como era conhecido nas pistas. Ele traduziu com os pés, nos tempos de James Brown e Luther King, o orgulho negro. Com ele vieram grupos de dançarinos desse novo estilo que surgia. Vieram bailes e equipes blacks. Encontros de dançarinos no centro de São Paulo. E mais tarde o break, o graffiti, os mc's, os dj's... era a cultura hip-hop engatinhando.

Sua marca, seu famoso black-power.
O melhor da história, é que Triunfo não só viu lá de dentro todo o movimento de rua surgir, como fez com que toda a cultura se expandisse do centro pra periferia. Das ruas pras escolas. Dos bailes pra Casa do Hip-Hop, lá em Diadema (que eu ainda não conheço). Como dizem lá no meio, "um homem de vanguarda". E graças a tantas pessoas como ele que o hip-hop se fortaleceu ontem, pra chegar hoje aos quatro cantos levando consigo seus quatro elementos.
O longa tem um trilha-sonora de extremo bom gosto. É a nata do rap/soul music. Tem boas histórias, como não podia deixar de ser, claro. Tristes e engraçadas. Marcantes, acima de tudo. Cheguei a me emocionar com a fala do Criolo. É indispensável pra quem gosta de hip-hop, de black music, e de qualquer forma popular de dança. Pra quem gosta de bons documentários tendo São Paulo como cenário, também. Só senti falta de ver o Nelsão dançando mais. Nas rodas, nos bailes, no piso, no asfalto... Achei que deveriam haver maiores momentos em que ele rodopia espontaneamente, fazendo seus passos característicos, com aquele cabelão solto e seu sorriso no rosto. Aquilo é a essência do Triunfo. E eu só vi isso praticamente no fim do filme.
Valeu muito a ida ao cinema. Ver o cara lá, homenageado, feliz da vida, do alto de seus quase dois metros, recebendo elogios e abraços. Ver todo o tipo de gente se interessando pela história dele, com todo mérito. Valeu ouvir dum tiozinho as recordações dos bailes do Palmeiras. Valeu sentar na fileira atrás d'Os Gêmeos. Valeu conhecer não só o filme, como o evento em si, já que ele participa da mostra "É tudo verdade", na qual vários documentários concorrem neste mês de abril. Tudo de graça para o público. Além do "Triunfo" nas telas, saiu agora também, a biografia "Nelson Triunfo - Do sertão ao hip-hop", de autoria de Gilberto Yoshinaga. Pretendo conferir. Abaixo, segue o trailer do documentário exibido.
O homem-árvore criou suas raízes na rua, na periferia. E, com certeza, ajudou a semear diversos frutos que estão brotando por aí, ou que ainda hão de brotar. Uma boa árvore nos dá sombra. E que sombra! Nelsão teve que tomar muito sol pra ser reconhecido como artista nacional. Cabe a nós levarmos seu ideal de arte de rua à frente, como ele sempre fez.
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