Cola cum Fróis

Escrevo pela necessidade de me livrar das palavras | @_dudufrois

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

O lado B de 2013

Em 2013, ao contrário de outros anos, eu não ouvi tanta música assim. Não baixei muitos discos. Muito menos os comprei. Ouvi muito mais o que eu tinha no "acervo" do cartão de memória/notebook. E as vezes aquela passadinha de leve no Youtube, ou pelos discos velhos do armário. Mesmo assim, afirmo que escutei muita coisa boa. Mas, infelizmente, o ano foi marcado pelo grande número de perdas na área da música nacional. Pelo menos pra mim. Se foram, em 2013, cantores e compositores de faixas que marcaram minha vida. E como o número de perdas foi bem grande, resolvi listá-las e relembrar suas músicas que ficarão eternizadas.

#1 Em pleno carnaval, no dia em que sua escola de samba entraria na avenida mais tarde, morreu o compositor Xixa. Além de ajudar a fundar a Leandro de Itaquera, Xixa; compositor de diversos sambas da escola, participa da autoria do samba que pra mim é um dos maiores da escola da Zona Leste: Vale Ouro, Meu Brasil, Minha Terra, Meu tesouro. A letra conta muito bem a história do ciclo do ouro no Brasil, num carnaval em que as escolas contavam todas a história de nosso país, que fazia 500 anos. Puxado por Eliana de Lima e sustentado pela Majestosa bateria, o samba carrega um melodia muito gostosa. Traz de volta os bons tempos da Leandro. O desfile de 2000 lhes rendeu um quinto lugar.

10 de fevereiro - Xixa

#2 Pegando todo mundo de surpresa, em março, vem a notícia da morte de Chorão. Vocalista do Charlie Brown Jr, ele e toda banda marcaram minha vida como os principais representantes da juventude de minha época. Charlie Brown fazia algo único, conquistar todo o público mais jovem. Desde a galera mais pobre, aos playboys. Dos funkeiros aos roqueiros. Geral! É a única unanimidade musical que eu conheci entre o pessoal da minha idade. Chorão tornou-se o símbolo disso. E com méritos, pois tinha uma interpretação muito boa e um talento para escrever melhor ainda. Ele era do rock, mas cantava reggae, curtia um samba e também mandava bem no rap. Era sincero em suas letras. E n'O Preço, essa sinceridade fica explícita. Pra mim, uma das maiores músicas da banda. E também a que não sai da memória.

06 de março - Chorão

#3 No mesmo mês em que morreu Chorão, falece também Emílio Santiago. "A melhor voz do Brasil" - sem precisar de nenhum reality show televisivo - imortalizou canções de diversos compositores brasileiros. Numa época de grandes cantores, Emílio fora talvez um dos últimos intérpretes marcantes na música nacional. Emprestou sua voz a clássicos da MPB, mas o negão se dava mesmo com o samba. Entre as músicas memoráveis interpretadas por ele, Saigon e Verdade Chinesa foram as que me marcaram muito. Espero agora explorar mais esse universo cantado por Santiago.

   20 de março - Emílio Santiago

#4 Outro cara que eu necessito explorar sua obra, é Paulo Vanzolini. Sambista também, compositor de primeira qualidade, paulista que se tornou símbolo do samba na cidade do trabalho. Famoso por seus sambas eruditos, Vanzolini nasceu e morreu em Sampa. Sua obra é a cara da cidade. Saiu há tempos um filme sobre ele. Ainda não vi, mas com certeza fará parte da lista de filmes que irei ver em 2014.

28 de abril - Paulo Vanzolini

#5 A morte no meio da música que chocou o país esse ano foi a do Mc Daleste, muito mais pela forma como ocorreu do que pelo que ele representava. Moleque da Zona Leste de Sampa, que cresceu em quebrada, junto ao crime e a violência; e escolheu o caminho do funk como trabalho. Começou cantando o que via, o que gostava. Como um cronista da favela. Por meio da batida eletrônica swingada do funk ele descreveu onde morava. Seu bairro. Sua cidade. Sua quebrada. E a dos outros também. Aos poucos, foi mudando. Passou a exaltar o luxo, o dinheiro e as mulheres. Passou a cantar o sonho de todo favelado. Passou pro funk ostentação. E no auge de sua carreira foi morto em cima do palco, de braços abertos, com o microfone na mão. Sem direito de defesa. Literalmente, morreu cantando. Na frente de seu público. Mas suas músicas, que há milianos chegavam até meu celular por bluetooth, ficarão pra sempre na minha memória como trilha sonora daqueles rolês de bike que não voltam mais.

   07 de julho - Mc Daleste

#6 No ano seguinte ao centenário de seu mestre, Gonzagão, Dominguinhos nos deixa. Símbolo da sanfona no Brasil, atualmente ele estava percorrendo o país com a série O Milagre de Santa Luzia, que conta histórias e depoimentos de sanfoneiros regionais. Figura sorridente, Dominguinhos espalhava acordes e alegrias através da música nordestina. Mais um da série dos que eu pretendo conhecer melhor a obra. Que é muito boa. É boa de mais.

23 de julho - Dominguinhos

#7 Nem seis meses após a morte de Chorão, e pouco tempo depois de remontar outra banda com os antigos companheiros de Charlie Brown, chamada A Banca; Champignon, antigo baixista que tinha assumido os vocais, também morreu. A banda Charlie Brown marcou minha vida desde pirralho até agora. Desde a época lá da Malhação até o Música Popular Caiçara. E Champignon era mais um integrante da banda unanimidade que se foi. Era mais um que não usava sapato. Era mais um.

 09 de setembro - Champignon

#8 Outro compositor de mão cheia que se foi. Outro sambista. Me marcou muito mais por um samba em especial do que por toda sua obra, que eu quase não conheço. Um dos autores de Andança, que Beth Carvalho eternizou em sua voz, Paulinho Tapajós e cia fizeram uma obra-prima. O samba tem letra e melodia singela, mas com uma profundidade sentimental enorme. Sem falar no contracanto do refrão que dá mais charme a canção. A música ainda carrega um ar de saudosismo. Simplesmente linda!

25 de outubro - Paulinho Tapajós

#9 Pra aumentar a lista de sambistas "lá no céu", Délcio Carvalho também acabou falecendo. Parceiro antigo de Dona Ivone de Lara, o rapaz que também era compositor nos deixou seu legado musical. Autor de músicas conhecidas, sendo a principal delas, pelo menos pra mim, Sonho Meu, imortalizado nas vozes de Maria Bethânia e Gal Costa. Trata-se de outro samba de amor, outro samba com ares antigos. Outro "samba que mexe o corpo da gente".

12 de novembro - Délcio Carvalho

#10 E por fim, já quase acabando o ano, vem a triste notícia sobre o padecimento de Reginaldo Rossi, o Rei do Brega. Num tempo em que a padronização musical é divagada por todo o país, Reginaldo era um sobrevivente de um estilo rítmico diferente; irreverente e bem-humorado. Me marcou por sua originalidade em suas letras; simples, porém bem elaboradas. Ícone nordestino, ficou imortalizado pelas mesas dos bares de todo o país. Uma canção que ultrapassou gerações, e vai seguir ultrapassando - enquanto houver corno no Brasil.

20 de dezembro - Reginaldo Rossi

E assim passou 2013... levando alegrias e deixando tristezas. Levando talentos; mas, com certeza, semeando outros mais que virão. 

Que 2014 não seja tão cruel com a música brasileira!




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