Acostumado com suas brilhantes letras de música, fui ler um romance seu. E Francisco Buarque de Hollanda nada me decepcionou. Naturalmente já esperava bastante do livro, que realmente é muito bom. De uma linha quase que machadiana, traça-se um panorama crítico da história dos últimos 100 anos ocorrida no Rio de Janeiro.
A narração da obra é feita em primeira pessoa, por Eulálio Montenegro d'Assumpção, - um velhinho centenário e decadente. Eulálio, conta suas memórias em um leito de hospital. Já bastante debilitado, muitas vezes se confunde nas histórias contadas; trocando nomes, datas, lugares... A narrativa é totalmente "embaralhada". Como se o velhinho fosse relembrando sua vida aos poucos, de modo não-linear. E é assim como o próprio Eulálio conta suas histórias e planos para outra pessoa daquele quarto de hospital. O efeito gerado é realmente de um velho confuso e reclamão.

O livro derramado...
É narrada então a trajetória da família de Eulálio, que fora muito rica e influente na capital brasileira do século XIX, e que agora passou a viver numa favela carioca. Essa decadência é observada de maneira clara, de geração para geração. A família d'Assumpção foi se estendendo de maneira peculiar, cada vez mais pobre. Eulálio, que fora filho de um importante senador do início da república do Brasil, termina seus dias num hospital público e (obviamente) mal cuidado.
Apesar de racista, preconceituoso, machista, e detentor de outros predicados mais; consegui compreender a visão de Eulálio. Entender inclusive, sua desilusão amorosa por Matilde, único amor. Por fim, o idoso morre. De maneira triste. Como um copo de leite ao chão. Quase que no anonimato. Apenas junto de sua família - mesmo decadente - e das enfermeiras do hospital.
A obra é mais uma crítica (principalmente) às elites desde a época do Brasil imperial. Feita de maneira brilhante, tanto na forma quanto nas palavras, Chico conta tudo isso em poucas páginas de curtos capítulos. Livro gostoso, sem parágrafos, com um boa história e para se refletir a vida.
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