Me parece que já é um consenso entre os brasileiros de que o estudante formado em escola pública teve um aprendizado extremamente mais fraco de que o de escola particular. A disputa da vaga na universidade é desigual. E o principal motivo desta desigualdade é a situação da educação neste país. A escola pública carece desde professores (com má qualificação e mal remunerados), até de uma reforma no programa de estudo elaborado pelo Mec (e que muitas vezes não é cumprido). O ensino particular é muito mais estimulante para o aluno poder seguir nos estudos. Entretanto é apenas a parcela mais rica da população que possui a condição de bancar o filho em escola privada.

Corredor da UNB, a primeira no Brasil a adotar as ações afirmativas.
Logicamente a imensa maioria de vagas nas melhores universidades do Brasil (que são as públicas) irão por consequência aos estudantes de escola particular. Isso deixa os alunos do ensino público, que querem se graduar em uma boa faculdade, com a menor porcentagem das vagas. Ao ver a desigualdade nessa disputa, algumas universidades implantaram ao longo da década um sistema de ações afirmativas, visando por um fim na elitização em faculdades públicas (que teoricamente são para quem não pode pagar). Esse sistema é chamado de "cota social" e reserva determinada porcentagem de vagas em um determinado curso para estudantes oriundos do ensino público. Pela nova implementação do Governo as universidades federais terão de reservar até 2016 metade de suas vagas aos cotistas. Essa nova medida irá equilibrar o perfil dos estudantes, e também estimular quem cursa o ensino médio em escola pública à conseguir uma na boa faculdade que desejava. No entanto a melhor maneira de se estimular a educação nacional é investindo principalmente em sua base, onde é iniciada essa desigualdade no ensino.
Juntamente com as "cotas sociais" o Governo também colocou em prática as "cotas raciais". São ações afirmativas tendo como alvo os negros, os pardos e os indígenas; justamente a parte mais pobre da população. Essas cotas raciais se enquadram dentro das cotas sociais, também com a função de propor a igualdade entre os alunos do ensino superior. Foi um golaço do Governo! Negros, pardos e indígenas são os povos mais discriminados historicamente no Brasil, e hoje são os que mais sofrem preconceito. Chega a ser bem difícil encontrar um negro/pardo em cada curso de uma universidade. Porém juntos eles formam a maior parte da população brasileira. Toda sala de faculdade vai ter lá no mínimo uns 3 ou 4 branquinhos. Nunca vi nem exceção. Já um descendente de índio com diploma é raridade. A educação tem que ser para todos. Não só na constituição. Na prática também. Essas cotas raciais dão a oportunidade da minoria hoje nas universidades acreditar que é possível ingressar numa federal. Para este ingresso porém, ainda é necessária uma grande dedicação do aluno. As vagas não deixam de serem concorridas. Os estudantes só passam a disputá-las entre si. Não os impedindo também de passar na prova sem o auxílio das ações afirmativas.

Protesto em São Paulo contra o sistema de cotas.
Acredito que estas medidas só irão acrescentar na democratização cada vez maior de nossas escolas. O negro não vai tirar a vaga de ninguém. E se o pobre passar vai ser por mérito. Continua sendo bem difícil entrar numa boa universidade federal, seja lá por qual sistema de cota for. Porém, no caso das "cotas raciais", o número da porcentagem de vagas à cada universidade tem que condizer com a porcentagem de determinada "raça" naquela região. Sempre ficando dentro das "cotas sociais". Acredito inclusive que a porcentagem de "cotas raciais" não deveria exceder 20% das vagas.
É importante ressaltar que estas ações afirmativas não são permanentes. E fazem muito bem! É uma medida que procura equilibrar as salas de aula do ensino superior, deixando-as para quem realmente se esforça em aprender, seja lá de qual classe social ou cor de pele for. Para aí quem sabe vermos futuramente pobres, pretos e indígenas em bom número também em teatros, museus, como professores ou médicos. Talvez poderíamos enfim sermos um "País de Todos".
PS: Sei que houveram muitos, mas não encontrei boas fotos na internet de protestos defendendo o sistema de cotas. Talvez seja isso que a mídia queira mesmo, rs.