Cola cum Fróis

Escrevo pela necessidade de me livrar das palavras | @_dudufrois

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Pelas Cotas, e pela Educação!

Época de férias vai chegando ao fim. Voltam as aulas. Alguns estudantes indo para mais um ano de curso. Outros ingressando na universidade. Seja pelo ENEM, ou por um prova à parte da faculdade, renova-se o ciclo universitário. Porém no final do ano passado houve um diferencial: a adesão de uma nova legislação sobre a reserva de cotas no ensino superior. A decisão gera um debate válido à respeito do assunto.

Me parece que já é um consenso entre os brasileiros de que o estudante formado em escola pública teve um aprendizado extremamente mais fraco de que o de escola particular. A disputa da vaga na universidade é desigual. E o principal motivo desta desigualdade é a situação da educação neste país. A escola pública carece desde professores (com má qualificação e mal remunerados), até de uma reforma no programa de estudo elaborado pelo Mec (e que muitas vezes não é cumprido). O ensino particular é muito mais estimulante para o aluno poder seguir nos estudos. Entretanto é apenas a parcela mais rica da população que possui a condição de bancar o filho em escola privada.

Corredor da UNB, a primeira no Brasil a adotar as ações afirmativas.

Logicamente a imensa maioria de vagas nas melhores universidades do Brasil (que são as públicas) irão por consequência aos estudantes de escola particular. Isso deixa os alunos do ensino público, que querem se graduar em uma boa faculdade, com a menor porcentagem das vagas. Ao ver a desigualdade nessa disputa, algumas universidades implantaram ao longo da década um sistema de ações afirmativas, visando por um fim na elitização em faculdades públicas (que teoricamente são para quem não pode pagar). Esse sistema é chamado de "cota social" e reserva determinada porcentagem de vagas em um determinado curso para estudantes oriundos do ensino público. Pela nova implementação do Governo as universidades federais terão de reservar até 2016 metade de suas vagas aos cotistas. Essa nova medida irá equilibrar o perfil dos estudantes, e também estimular quem cursa o ensino médio em escola pública à conseguir uma na boa faculdade que desejava. No entanto a melhor maneira de se estimular a educação nacional é investindo principalmente em sua base, onde é iniciada essa desigualdade no ensino.

Juntamente com as "cotas sociais" o Governo também colocou em prática as "cotas raciais". São ações afirmativas tendo como alvo os negros, os pardos e os indígenas; justamente a parte mais pobre da população. Essas cotas raciais se enquadram dentro das cotas sociais, também com a função de propor a igualdade entre os alunos do ensino superior. Foi um golaço do Governo! Negros, pardos e indígenas são os povos mais discriminados historicamente no Brasil, e hoje são os que mais sofrem preconceito. Chega a ser bem difícil encontrar um negro/pardo em cada curso de uma universidade. Porém juntos eles formam a maior parte da população brasileira. Toda sala de faculdade vai ter lá no mínimo uns 3 ou 4 branquinhos. Nunca vi nem exceção. Já um descendente de índio com diploma é raridade. A educação tem que ser para todos. Não só na constituição. Na prática também. Essas cotas raciais dão a oportunidade da minoria hoje nas universidades acreditar que é possível ingressar numa federal. Para este ingresso porém, ainda é necessária uma grande dedicação do aluno. As vagas não deixam de serem concorridas. Os estudantes só passam a disputá-las entre si. Não os impedindo também de passar na prova sem o auxílio das ações afirmativas.

Protesto em São Paulo contra o sistema de cotas.

Acredito que estas medidas só irão acrescentar na democratização cada vez maior de nossas escolas. O negro não vai tirar a vaga de ninguém. E se o pobre passar vai ser por mérito. Continua sendo bem difícil entrar numa boa universidade federal, seja lá por qual sistema de cota for. Porém, no caso das "cotas raciais", o número da porcentagem de vagas à cada universidade tem que condizer com a porcentagem de determinada "raça" naquela região. Sempre ficando dentro das "cotas sociais". Acredito inclusive que a porcentagem de "cotas raciais" não deveria exceder 20% das vagas.

É importante ressaltar que estas ações afirmativas não são permanentes. E fazem muito bem! É uma medida que procura equilibrar as salas de aula do ensino superior, deixando-as para quem realmente se esforça em aprender, seja lá de qual classe social ou cor de pele for. Para aí quem sabe vermos futuramente pobres, pretos e indígenas em bom número também em teatros, museus, como professores ou médicos. Talvez poderíamos enfim sermos um "País de Todos".

PS: Sei que houveram muitos, mas não encontrei boas fotos na internet de protestos defendendo o sistema de cotas. Talvez seja isso que a mídia queira mesmo, rs.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Se o prefeito não ajuda, faça seu próprio Carnaval!

Bom, como a mídia tem divulgado por aí, diversas cidades do Brasil estão deixando de lado seu próprio carnaval este ano. São os mais variados motivos, mas a decisão tem sido a mesma: cancelar a verba para o carnaval 2013.

Carnaval é cultura. O governo já investe muito pouco em cultura. Os municípios então, quase nada. Principalmente em pequenas cidades. Onde encontramos teatro, música, oficinas culturais nessas cidades menores? O povo se organizava, e por conta própria punha o bloco na rua. As prefeituras começaram a incentivar o carnaval, ditando algumas regras; e tornando as associações carnavalescas, seja lá quais forem, dependente direta. Aí quando por ventura a prefeitura decide não apoiar o carnaval em determinado ano, já não se tem mais a estrutura para haver uma organização da festa por conta própria. 

Só eu já li que nas seguintes cidades o carnaval 2013 foi cancelado: Florianópolis - SC, Petrópolis - RJ, Ilhéus - BA, Santa Rita do Sapucaí - MG, Alegrete - RS, Santana do Livramento - RJ, Itaquaquecetuba - SP, Suzano - SP, Ferraz de Vasconcelos - SP, São José dos Campos - SP, Guaratinguetá - SP, Marília - SP, Itapetininga - SP, Porto Feliz - SP, Cruzeiro - SP, Biritiba Mirim - SP e Assis - SP. Ufffffaaa! Fora as outras que não foram noticiadas ou que ainda cancelarão a festa até a semana do carnaval. Há também um número grande de cidades em que o carnaval pode até acontecer, mas a verba para ele diminuiu bastante em relação aos anos anteriores.

 Comunidade chora cancelamento dos desfiles.
Sambista de Florianópolis, desolado com a situação deste ano..

Aí o prejuízo fica com quem? Com o morador da cidade, que não tem nem onde se divertir no carnaval. E principalmente, com quem tenta organizar uma agremiação para alegrar quem participa da festa, entretanto acaba ficando "na mão" por conta da administração da cidade.

Entre as cidades que citei acima, umas 4 ou 5 possuem grandes carnavais. Bonito, animado e até tradicional. Para não depender tanto dos prefeitos em seus municípios, acho que quem faz o carnaval destas cidades deveria se unir para conseguir por conta própria alguma melhoria. Se a prefeitura não lhes apoiam anualmente, uma iniciativa seria juntar-se com várias agrêmiações do mesmo tipo na região para que unidas possam colocar o carnaval na rua. Por exemplo: Guará e São José que abrigam grandes escolas de samba, poderiam facilmente se aliar à outras escolas de cidades próximas que também fazem bonito (e não são poucas), e competirem entre si num concurso regional do Vale do Paraíba (região destas cidades). Assim seria por diante nas diversas regiões onde quem chefia prefeitura ou secretária de cultura não parecem colaborar muito.

A própria Pindamonhangaba (onde moro), está indicando que o carnaval da cidade não terá desfile algum. Um carnaval que há 5 anos atrás só crescia, parece ter sido largado por ambas as partes. Não vi bloco nenhum na programação também. O número de blocos era bem maior, e sempre movimentando bastante gente. Não sei se extinguiram, se vão sair com as "próprias pernas" ou se a prefeitura ainda não os incluiu na programção. O que me assusta é ver minha cidade desvalorizando sua festa, e importando bloco e escola de samba lá de fora. Talento a cidade tem para se fazer um dos melhores carnaval daqui do Vale, seja em qual estilo de festa for. Mas atualmente passa muito longe disso.

Acho também que cada município deve valorizar sua tradição no carnaval que ali exista. Seja no carnaval de blocos de rua, de escolas de samba, de festivais de marchinha, de bailes ou grandes shows. Que seja. Só é preciso que o povo se encontre para festejar o carnaval! Uma festa animada e alegre, em que o maior objetivo é brincar nos dias de recesso. E quem não goste que fique em casa!

Foliões no carnaval de rua de São Luiz do Paraitinga - SP

Há espaço para tudo nas cidades. Grandes metrópoles como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo estão tentando retornar ao carnaval de rua. Cidades do Nordeste estão investindo em suas escolas de samba. O importante é isso. Abrigar o povo. Ainda mais no carnaval. Mas devemos ter a consciência de jamais abandonar às raízes. Vejo marchinhas desaparecendo cada vez mais da folia. Era no interior que poderia se difundir esse tipo de festejo carnavalesco.

E foi através desse festejo que São Luiz do Paraitinga se tornou famosa em todo Brasil. Seus blocos de marchinha já são uma grande tradição, e felizmente vem se espalhando por toda região que circunda a cidade; ano a ano. O grande porém da história vem com a popularização da pequenina cidade durante a época de Momo. Circulou-se por aí que uma empresa privada em parceria com a prefeitura iria realizar shows de atrações bem conhecidas aproveitando o grande fluxo de gente no carnaval. Mas pera aí... Aí acaba a magia que o carnaval da cidadezinha possui! Não teria cabimento (literalmente) essas atrações durante o carnaval. São Luiz é famosa pela marchinha. E é pela tradição marchinha que ela deve continuar sempre viva.

Então você aí que vai pular o carnaval em uma dessas (ou outras) cidades que não vai ter a festa apoiada pela prefeitura, divirta-se! Da maneira que puder. Da maneira que quiser. Viaje. Junte os amigos e faça o próprio carnaval. Vai brincar na rua. Só não deixe em hipótese alguma a data passar em branco! E se você terá uma folia valorizada em sua cidade, brinque mais ainda. Afinal você terá mais motivo ainda. Seja feliz, que seja ao menos por um feriado!

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

D'O Narcotráfico ao Crack

Sempre que vou a São Paulo, e consequentemente pego o metrô, deparo com máquinas de livros nas estações. Achei bem curioso da primeira vez que eu vi uma. Funciona assim: voce coloca uma nota qualquer, a maquina aceita e aí é só escolher o número do livro que irá retirar. Da primeira vez que eu vi, estava só com 20 R$ em nota, sem trocado. Deixei pra outra ocasião. Até que um dia, voltando pela estação República, passei novamente por uma destas máquinas, parei e procurei alguma nota mais baixa. Achei uma de 2 R$ na carteira e já coloquei. Nem tinha visto os livros antes. Me frustrei ao ver em sua maioria livros de culinária, ou auto-ajuda. Até que lá embaixo, na ultima fileira, estava uma edição da Folha com um jornalista dissertando sobre o narcotráfico. Era esse mêmo!

Li o livro durante as férias, e já tinha uma certa opinião formada sobre o assunto em questão. Ele narra boas histórias, e contém dados precisos sobre o impacto que as drogas causam aqui no Brasil e no mundo. O único porém, é a edição ser de quase 13 anos atrás. Provavelmente as estatísticas relacionadas ao narcotráfico no Brasil  já cresceram bastante. Aí fica uma ideia ao jornalista Mário Magalhães, ou a própria Folha, de se fazer uma segunda edição deste livro.


No dia em que acabei de ler por completo, iniciou-se em São Paulo, mas precisamente na região da "Cracolândia" uma internação compulsória sobre os viciados do local. O que mostra que o tema do livro não poderia ser mais atual, mesmo sendo escrito no início a década passada. Acho que o Governo está avançando nas medidas que se referem às drogas. Demorou bastante para o Estado notar que cabe a ele a responsabilidade de não deixar que pessoas percam suas vidas por causa da forte química presente em drogas pesadas como o crack. Lembro que ano passado houve uma tentativa (muito) mal pensada em colocar a Polícia Militar para abordar os viciados. A situação do local só piorou com essa iniciativa. A PM não tem dado conta nem dos crimes, e até mesmo dos traficantes que circundam a área; e seria deslocada para este serviço sem o menor preparo? Apesar de não adimitir o erro, o governador Alckmin parece ter reconhecido a operação precipitada um tempo depois.

O viciado em crack não teme a polícia. Ele só pensa na droga. Caberia ao Governo encontrar medidas de convencer este usuário a largar o vício, para aí sim ser internado. É uma iniciativa bem complicada. Envolve um trabalho de abordagem pacífica e sem a menor violência dos responsáveis, conversando com um por um dos viciados. Muitos dos usuários com certeza rejeitarão a internação. No entanto não há como se resolver este problema em curto prazo. Essas pessoas não são entulho para ocorrer uma limpeza na região. Sei que é delicado, mas me parece ser a medida mais correta a tomar.

Mesmo com esse caos em alguns dos hospitais públicos, e a falta de leitos; seria necessário a construção de clínicas de reabilitação (não de estádio para clube de futebol) e uma grande oferta de vagas para quem precisa se livrar da droga. Entretanto além do dinheiro, o ponto mais frágil deste assunto seria a própria vontade do usuário de se reabilitar. Quem o abordasse teria de mostrá-lo que o melhor caminho para se recomeçar a vida seria se livrando das drogas. E isso exige paciência, e também muito conhecimento psicológico. A operação só vingaria se os profissionais escalados para a tarefa fossem bem treinados e capacitados o sulficiente.

A verba gasta com progamas que envolvem as drogas, retona multiplicada quando o ex-usuário volta a trabalhar, pagar seus impostos, consumir produtos, geral capital para o país. É triste passar pelas ruas da Luz durante o dia. E assustador durante a noite. E o bairro é muito bonito. Uma pena!


O crack é sim um problema público. Afeta a todos. É uma droga diferenciada das demais. Já vi bastante boas ideias por aí, que merecem no mínimo serem testadas. Mas são barradas pelo conservadorismo que impera sobre nosso Executivo. Como bom exemplo, temos a maconha aos usuários de crack. É uma ótima ideia! Os efeitos da cannabis sativa dão tudo o que o viciado precisa. A fome. A serenidade. E ainda o barato que a erva causa, infinitamente menos prejudicial do que o da pedra. Enfim, não sei se o Estado dá tanta importância assim a este problema.

A polícia entraria nessa iniciativa com a abordagem aos traficantes, sem o abuso de poder. Patrulhas estratégicas, em conjunto com a guarda municipal. Com o único foco voltado aos traficantes. E de preferência, sem corrupção.

Mas acho que nada disso seria necessário se a educação fosse de qualidade. Este é outro problema do país, e como quase todos os outros envolve a educação. Concientizar alunos sobre as consequência das drogas desde o ensino fundamental é importante. Isso eu já vejo em várias escolas, legal. Porém não é só isso. O aluno tem que ver, participar, interagir. Encarar o problema de frente. Conhecer um usuário reabilitado. Ouvir história. Ser preparado para a vida! A família em conversas por si só já pode ajudar muito também.

Agora nos resta aguardar pra ver no que dá essa internação compulsória em Sampa. Prevejo um impasse entre muitos usuários e agentes públicos. A grande maioria não quer sair dali, ainda mais à força. Continuo achando que na base da interação com o viciado o êxito será maior...

Primeiro o Governo precisa focar mesmo no combate ao crack. Depois sim no tráfico internacional de drogas... que aliás, é outro problema público que ainda rende uma bela discussão. Como é o ditado? "Arrumar primeiro a casa, depois o quintal."