Em Minas Gerais, como se sabe, o negócio é queijo e cachaça! Comuns, além das vaquinhas, são os alambiques de pinga artesanal espalhados dentre as infindáveis subidas e descidas. Lá mesmo a cana é plantada, cortada, moída, decantada, fermentada, destilada, armazenada e, claro, degustada. E foi num sítio desses que Seu Zé, o Minerim, foi de carona com um casal de amigos tomar uma.
O sítio na verdade eram duas casinhas de tijolo baiano, com uma horta no meio, e um pequeno canavial. A propriedade era dum tio de Minerim, o Cumpadre. Desses parentes que a gente só visita em feriado. Eles foram num fusca amarelo que era "mais brabo que tudo quanto essas caranga nova que tão rodando por aí". Claro que o Cortês, dono e apaixonado pelo seu fusca, ia puxar a sardinha pro carro. No caminho, entre as estradinhas de terra batida, ele veio contando as aventuras que passaram juntos. Se caísse um pé dágua, era só revestir as rodas com correntes e engatar a primeira que ele ia que só!
Mas o tempo tava firme. O sol brilhava tranquilo no azul céu de Minas. Azul feito o oceano visto de cima. É o azulzinho do mar que faltava aos mineiros.
Os três chegaram por volta das dez da manhã, sendo recebidos com um baita café da manhã preparado mulher do Cumpadre, a Cumadre. Os dois filhos do casal que recebia os visitantes brincavam na terra enquanto eles comiam. Mal terminaram a refeição e Cortês já foi logo querendo provar a tal pinga do lugar. O menino mais velho, todo lambuzado de terra vermelha sorriu e gritou, carregando no sotaque:
- Cuidado, seu moço. Quem daqui bebe com muita sede não se sacia, não, sô.
Eles riram. Menos Cortês, que insistia em conhecer a aguardente. A Cumadre lembrou ao rapaz que ele estava no volante...
- Esse aí dirige até no piloto automático, dona.
Eles riram outra vez. Dessa vez Cortês fez questão de rir de própria piada. O Cumpadre não perdeu tempo e logo serviu às visitas a famosa pinga. E a reação não podia ser outra:
- Uai! Mas isso é melhor que uísque.
Todos repetiram a dose. O Cumpadre quis mostrar a pequena fazenda. Minerim sugeriu para que levasse uma garrafa de cachaça junto ao passeio. Então logo surgiu nas mãos da Cumadre uma pingazinha de banana.
- Docinha!
Foram curtos passos e longos goles. A segunda garrafa se foi e o efeito do álcool era visível nos olhos dos visitantes. Cortês e Minerim até dispensaram o almoço. Queriam experimentar a caninha com sabor de café. O Cumpadre até ameaçou cortar o barato, mas logo cedeu. Não sem antes avisar:
- Essa daí tem que se apreciar, sô. É de poquim em poquim que si acaba. Qui nem a bríbia.
A dupla de amigos, que não era lá muito cristã, não deu ouvidos e continuou a bebericar. Até que o sol fosse embora. E a lua subisse, também com seu brilho. O papo seguiu. Falaram de política, que "tinha que surgir logo outro JK em Brasília". De futebol, que "esse ano a Libertadores era do Galo". E até rolou uma modinha sertaneja no violão da Cumadre. Lógico, regado à aguardente dali da terra.
Na hora de ir embora os dois parceiros trançaram as pernas e trombaram um no outro. Quase foram ao chão. Só não caíram porque um segurou no outro. Agradeceram e se despediram dos donos do sítio. Quiseram até comprar uma nova garrafa. Caíram na gargalhada e no soluço. Só pararam quando Cortês percebeu que havia perdido a chave do carro. Sua mulher havia guardado na bolsa e o reprimiu:
- Nesse estado o senhor não pega no volante!
- Mas eu tenho qui trabaiá amanhã, muié.
- Então o Minerim guia.
Cortês respirou fundo e olhou nos olhos do amigo de longa data:
- Você leva meu possante?
Minerim respondeu de imediato balançando a cabeça pra cima e pra baixo. Só parou quando recebeu as chaves.
Eles entraram no fusca, saíram do sítio e a maior preocupação era acertar o caminho. Já tava bem escuro e os buracos não ajudavam. Mas logo eles caíram na rodovia e puderam andar melhor. Minerim enfim pôde botar a terceira, acelerar, ultrapassar um caminhão de madeira. Meteu a quarta, diminuiu na curva, mas como era descida suave, voltou a acelerar fundo. Na hora de por a quinta o carro engasgou, ele foi olhar pro câmbio e não viu a curva seguinte. Passou reto e só parou na árvore, do outro lado da pista. O carro, que vinha em alta velocidade, ainda virou de lado antes de parar. Amassou por inteiro. Tiveram que quebrar os vidros pra sair de lá de dentro. Mas todos saíram bem.
Com um corte na testa, ainda bastante zonzo da batida e da pinga, Cortês agachou-se e voltou a olhar fundo nos olhos do amigo:
- Porra, você não disse que sabia levar???
Minerim, que estava deitado no chão, vendo o mundo todo girar, ouviu a voz do companheiro e respondeu sorrindo:
- Eu disse que ia levar, sô. Não disse que ia chegar.
Cola cum Fróis
Escrevo pela necessidade de me livrar das palavras | @_dudufrois
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016
Pra aliviar a ansiedade...
Se não fosse essa postagem nem pareceria que estamos no auge de cada ano, nos dias em que as pessoas cantarolam nos ônibus, trocam sorrisos nas calçadas, beijos na rua... É SEMANA DE CARNAVAL! E como esse ano vou, pela primeira vez em quase duas décadas de história, passar a festa em terras cariocas, vim deixar essa fita aqui no clima. Não vou jogar confete, nem spray de espuma. Vou jogar samba.
Ou melhor, a Estácio de Sá é quem vai nos jogar samba, domingo, às nove da noite, independente de qualquer canal de televisão. Samba e axé, que andam juntos. São Jorge é o tema. Empunhando a lança do santo guerreiro. A letra é a declaração do devoto para o padroeiro, em primeira pessoa. Só que em conjunto, soa-se coletivo. É a fé, sendo um bagulho extremamente pessoal, transformada numa música de massa, e, o melhor, sem aquele lenga lenga gospel. Uma energia que eu só vejo no samba. Ele conta também a história de Jorge, e já cai num refrão que traz a primeira parte direto da oração, bem forte: estou vestido com as armas de Jorge, meus inimigos não vão me alcançar. Aí o samba volta crescente, fala da criança e da lua, e fecha com comida e batuque, pra escola fazer da avenida seu altar. Como a melodia é gostosa! E a rapaziada da Medalha de Ouro tem mérito nisso. É cada breque difícil que os cara tá mandando, hein... Não é o samba do ano porque os poetas de carnaval capricharam nas composições. Tenho certeza que a escola vai segurar as ponta de abrir o carnaval. Segurar num desfile guerreiro, botem fé.
Daí a União da Ilha do Governador, que deve ser bela como cá, a ilha do presidente; encarna-se no Rio de Janeiro para celebrar as olimpíadas deste ano. E agora com a volta da batida antiga de caixa, bem swingada e gostosa, que até lembrei do meu Camisa. O samba é uma exaltação da cidade maravilhosa para com ela mesma. Uma auto-celebração olímpica, recheada de enaltecimento às belezas naturais do rio, alá antigos carnavais. Pois é, chega mais perto e sente o meu calor. Cristo Redentor alia-se a Zeus, na terra onde o sol é mais dourado. É realmente uma primeira parte bonita, mas o refrão, meio vago, dá uma quebrada no samba que vinha legal. Na segunda parte se fala dos cariocas, dos jogos e, claro, do samba; a melodia também não mantém a mesma pegada do começo. Aí o refrão, de cinco versos, prolonga o samba ainda mais. O jeito vai ser mesmo a Baterilha firmar o desfile na ginga, no batuque e no compasso. Confesso que é uma das faixas do cd desse ano que menos rodou aqui. Mas sempre aguardo a passagem da Ilha, afinal ela não é xodó dos carioca à toa, né. Aquele abraço!
E de Nilópolis, baixada fluminense, é que vem a campeã Beija-Flor. De Nilópolis à Nova Lima, cidade mineira, que entra no enredo da escola esse ano. O Marquês de Sapucaí, nascido lá, e que dá nome a passarela do samba mais famosa do mundo, será homenageado também. A ideia é voltar àquele desfile de carnaval que fala dos tempos de colônia, ou seja, que fala de história. E como o marquês, de fato, encadeia bastante assunto, emoldurando a história, a azul e branca traz um belo samba. No estilo melódico do ano passado, só que com uma levada mais cadenciada. A vida do rapaz então é contada em seus por menores possíveis na primeira parte, para cair num empolgante refrão de exaltação à liberdade. Com o perdão da comparação, mas não como era aquele puta refrão do ano passado. Aí, diz-se que se trata de um homem de real valor, seja lá o que isso signifique, né. Em seguida é feita a conexão com o sambódramo, mas confesso que ainda não compreendi o herdeiro verdadeiro de Ciata, nossa mãe do samba. Na segunda passagem, com A bateria, o samba melhora bastante. Na alegria ou na dor, estou curioso para ver uma Beija-Flor barroca.
De Minas, a gente vai pra SP, colar em Santos, lá no Itororó, beber água. Uma das cidades mais antigas do Brasil vai ser homenageada pela Acadêmicos do Grande Rio. Nesse mar de alegria, o samba, que agora virou propaganda da tele-sena, é naquele modelinho de enredo sobre cidade. E também passa pela história do país, já que o porto de lá ainda é o principal. A primeira parte tem um jogo bonito com a melodia, num falso refrão. E a bateria Invocada ajuda bastante no astral da música, que já é pra cima. Nessa labuta tem aroma de café! - que, aliás, estou saboreando nessa exata tarde nublada. Antes ainda do refrão, uma quebra levanta o clima e, ao mesmo tempo, já chama o bis de dois versos. É saboroso, todo mundo botou fé! Aliás, pode embarcar que o apito do bonde tocou! Pode embarcar que o progresso não pode parar! Na moral, esse breque ali é fera. Aí a batucada volta e a letra já vem falando do Santos Futebol Clube. E dos craques do celeiro. Olé's à parte, o samba se perde por aí. Achei-o meio comprimido, e ele pouco diz. Santos tem muito mais pra se contar. É outra faixa que eu não costumo repetir. Espero que a cidade do meu time do coração seja bem representada por Caxias na avenida, assim como o Amazonas foi dez anos atrás. Santos, maravilha de lugar!
Pernambuco também fora bem representado, esses tempos mesmo, mas com a Mocidade Independente, que hoje canta o Brasil. Louco. Apaixonado. É um enredo de pegada literária que evoca Cervantes ao nosso país. Os moinhos agora são as dificuldades diárias de cada brasileiro. Vai na fé! Música e história também estão inclusos no pacote quixotesco. Um carnaval, digamos que, deveras modernista. Gostei da proposta, achei ousada, assim como a do ano passado. Essa, porém, parece ser muito mais carnavalesca do que o último carnaval da Padre Miguel. Não há de faltar bravura. E a batucada aproveita o refrão do meio pra tirar onda. Gostei daquele breque do agogô. Aliás, Não Existe Mais Quente, que introdução de peso, hein! Vai na fé, meu bom cangaceiro. O Paulo Barros até saiu fora, mas deixou aquele ar de curiosidade pairando ali pela região, numa ofegante epidemia que se chama carnaval. Enfim, sub-celebridades à parte, tenho uma boa expectativa sobre a escola da Zona Oesssste. Há tempos a gente espera a volta da boa e velha Mocidade. E com o Louzada atrás do lápis já temos um bom começo. É hora da estrela que sempre vai brilhar.
Aí, quase de manhã já, a Unidos da Tijuca festeja o solo sagrado em oração. Quase outra "festa no arraiá", possivelmente dos mesmos patrocinadores daquele enredo da Vila, a escola do Borel canta o interior brasileiro. Simplesmente o melhor samba de domingo. A letra é muito bem construída e a linha melódica é toda traçada em cima de rimas estratégicas. A batucada acompanha o alto nível, desde lá da introdução, com cavaco e tamborim, até as bossas da segunda passagem. Séeeloko, dá até vontade de pegar a baqueta e o tamborim aqui. Brota o suor que escorre da enxada, é um dos versos mais bonitos do carnaval. Faz tempo que eu não via a Tijuca com um puta samba. O refrão do meio é extenso, mas nem um pouco cansativo, porque é bem rimado. Já a segunda parte do samba não mantém a mesma pegada do começo, principalmente quando chega no tal oásis de conhecimento. Achei só que faltou uma referência a reforma agrária, pois, convenhamos, é foda quatro mil pessoas festejarem um solo sagrado que tem meia dúzia de donos, assistindo tudo ali de pertinho, no camarote da Sapucaí. Mas o dia vai raiar, e o povo há de cantar feliz.
E assim que esse dia anoitecer a Unidos de Vila Isabel já estará preparada para cantarolar, me emocionar, estando ali na avenida para cantar o político pernambucano Miguel Arraes, o Pai Arraia. E o samba é bom... ahhhh, é tão bom! Martinho, André Diniz, Mart'nália, Arlindo Cruz e Leonal mandaram muito bem. É outra concepção de samba, com três partes, três refrões, e o melhor, sem ficar chato. Longe disso. O samba começa transbordando poesia por olhos rasos d'água. Fala da seca, do sol, e dos carcarás, que voltarão ainda nesse carnaval. Compara o equilíbrio de uma vida sofrida com a estrutura das casinhas de palafita lá do nordeste. E quer um refrão melhor do que dignidade e amor, meu amigo? Dignidade e Amor. É lindo de se ouvir. Aí o samba volta falando de justiça, ideais e esperança. Afinal, liberdade se conquista com educação. Em seguida, sobe o refrão, que também é curtinho, e dá de tirar aquela onda na avenida. Mas isso é só preparação pros versos posteriores que dão aquela levantada na escola de gente aguerrida que defende a tradição do seu lugar. Pra enfim explodir dançando o frevo e a ciranda, no refrão principal. Um samba redondíssimo lá da terra de Noel. Um movimento de cultura popular!
Popular, também, é a malandragem carioca. Salve a malandragem. Salve o povo de fé, me dê licença pra falar desse samba lindo, dos Acadêmicos do Salgueiro. Marcelo Motta, Fred Camacho, Guinga, Getúlio Coelho, Ricardo Fernandes e Francisco Aquino podem lá não ter aqueles nomes engraçados de compositor, mas seguraram a bronca e fizerem um dos grandes sambas deste carnaval. No palco, sob as estrelas, o malandro protagoniza sua ópera na Sapucaí. Com influência lá da peça do Chico Buarque é que o enredo foi montado, mas os atores desse espetáculo são cria lá do morro do Salgueiro. Mais que um projeto social, esse enredo é uma autoafirmação cultural duma classe que sempre foi mal vista, marginalizada; e agora é alvo de flash global. Ou será que vão boicotar a transmissão mesmo? Com ou sem tevê ao vivo do sambódramo o mestre sala das madrugadas vai cortejar sua porta bandeira, a lua. Pra vocês verem o nível de tamanha malandragem, a introdução bonita que a escola fez no cd é sincopada por caixinhas de fósforo. O samba em si tem versos curtos e bem rimados, isso facilita bastante na memorização e, quando menos se espera, se está cantarolando por aí. A Furiosa bateria tá fazendo sua parte de malandro, batuqueiro, segurando um dos melhores ritmos do carnaval. Dos breques ao desenho de tamborim. Me deixo levar! Malandro não diz muita coisa antes do carnaval. Apenas confesso que vou pro RJ pra ver esse samba. E olha que na final tinham outros dois sambas de qualidade. Talvez seja o vento soprando a favor do Andaraí. O couro vai comer.
Do malandro, surge o palhaço. Não com menos malandragem. Mas com mais alegria. Em cena, a arte! E se o Salgueiro se inspirou no Chico, a São Clemente recorda de Zé Ketti para colocar mais de mil palhaços na Sapucaí. A escola vem se mantendo no Grupo Especial há algum tempo, sempre trazendo bons enredos. Também, com Rosa Magalhães na pesquisa, o carnaval só tende a dar certo. O samba que ficou devendo um tantinho. Irônico, não? Num samba sobre palhaços faltar empolgação. Não que seja um samba ruim. Longe disso. Mas a irreverência não funcionou muito bem. Talvez faltasse um bocado de poesia ao homenagear o palhaço. Muito oba-oba pode cansar na avenida. Espero, sinceramente, que seja o melhor desfile da escola da Zona Sul. Potencial pra isso eu sei que tem. Só que, numa noite cujos sambas são lindíssimos, a São Clemente pode acabar ficando pra trás. Que confusão, meu deus do céu! - Deixa a escola desfilar primeiro, rapá! E desfilar linda, pra mostrar pra esse palhaço aqui que tudo o que disse era doce ilusão, deixa. Pode não ser o melhor samba, mas que a escola tem um dos melhores enredos do carnaval, ah tem sim senhor!
E por falar em enredo firmeza, quem vai pedir passagem agora é a águia de Madureira. Ela vai voar longe, altaneira, para viajar, rumo ao infinito. Curioso, né? A Portela começa sua odisséia nas asas da mitologia, toda trabalhada na arquitetura grega. Seu destino, é sem fim. Cruzar o azul que é tudo pra mim. O samba tem uma primeira parte curta e bela, como uma daquelas flores que cabem inteiras na palma da mão. Toda azul. Aí um falso refrão traz a melodia pro povo cantar junto. Ô leva eu, me leva! Dá vontade de pegar carona com a águia. Afinal, sou livre, aonde sonhar eu vou. E o samba vai, ao infinito, sentir lugares tão bonitos, em terras mais distantes me aventurar, sem saber se um dia vou voltar. Ou seja, resumindo a vida de todo viajante porra louca, sem rumo, a vagar o mundão por aí a fora. Chega-se ao refrão do meio, curtinho e simples; para que aí, o samba, que é lindo, se tornar ainda mais do que isso. Abre a janela! Abre, pra ver Samir Trindade, Wanderley Monteiro, Elson Ramires, Lopita 77, Dimenor e Edmar Jr; que acertaram em cheio ao trazer uma levada quase que de partido alto pra essa segunda parte. Samir, aliás, que é autor do samba campeão do carnaval passado, aquele sobre Guiné, da Beija-Flor. A maré tá boa né, rapaz. Ouvir a escola cantando essa parte que fala do ouro, do brilho e, principalmente, do professor Paulo, chega a encher o olhos. Ah, a Portela voltou! E do outro lado alguém pode ver esse amor. Amor a esse samba, que é o próprio mapa da mina, pra achar tesouro, lá na quarta-feira da semana que vem. E, claro, encerra-se a obra em reverência ao samba. A Tabajara do samba também faz seu show a parte. Wantuir e Gilsinho acompanharam-na legal. Abram alas! Afinal, eu sou a águia. Falem de mim quem quiser! Mas é melhor respeitar a Portela, rapá.
Logo após o som do berrante, será a vez da Imperatriz Leopoldinense fazer seu carnaval em clima sertanejo. É outra agremiação que leva o interior do país pra avenida. Pudera, verde é minha raiz. O samba que é tido por muitos como o melhor deste carnaval tem realmente uma construção muito especial. Recheado de poesia ele remonta à vida rural. O galo canta, anuncia um novo dia. Minhas lembranças, marejadas de saudade, trazem à memória o canto dos pássaros e os girassóis da letra. Uma baita ajuda pra imaginação do carnavalesco. Brota até um desejo de se conhecer a Serra Dourada de Goiás. Sou o som do serrado brejeiro! E se um falso refrão já aparecera antes, em outras duas escolas, aqui ele é extremamente bem elaborado, com cinco versos bem rimados, em que a melodia simplesmente baila nas duas estrofes. Prato cheio pra batucada Swing da Leopoldina. Sou matuta, ribeira, caipira. Ao mesmo tempo o samba exalta, em primeira pessoa, o homem do campo, de um pedaço feliz do Brasil. A segunda parte cai já nas festas do interior, mostrando que um enredo sobre Zezé de Camargo e Luciano é muito rico, sim. Fala, inclusive, da trajetória dos dois. E justo nessa parte do samba, no cd do carnaval, a dupla sertaneja começa a cantar os até que chegue o segundo falso refrão: é o amor! Os compositores - Zé Katimba, Adriano Ganso, Jorge do Finge, Moisés Santiago e Aldir Sena - aí, fizeram uma brincadeira com o maior sucesso da dupla. Misturaram à letra um sucesso de rádio dos anos 90, tempos áureos da escola de Ramos (e da dupla goiana), e ainda deixaram a moral do Gresil lá em cima. Claro que sertanejo dá samba bom! A X-9 Paulistana já tinha mostrado isso na década passada. Minha escola na avenida, a paixão da minha vida. E que samba... Pois, sou brasileiro, caipira-pirapora!
Encerrando o carnaval, a última agremiação a ser avaliada, quem vai deixar o gostinho de quero mais na passarela, o último nome a ser lido na apuração a cada quesito... Chegou a garra. Chegou a emoção. Chegou a escola de samba mais querida do planeta. Valeu, Luizito, o samba enredo da Estação Primeira de Mangueira esse ano é lindo, e tenho certeza que cairia perfeitamente na tua voz. A escola fez uma bela homenagem a ele na gravação do cd. E homenageia agora, na avenida, a menina dos olhos de Oyá, Maria Bethânia. Não mexe com ela não, mano. Pois é no dengo da baiana, meu sinhô, que a Mangueira vai passar. Com o axé lá da Bahia é que o samba começa, todo rimadinho. E vai. É Oyá e Oxalá. Bonfim e Maria. Alemão do Cavaco, Almir, Cadu, Lacy de Mangueira, Paulinho Bandolim e Renan Brandão fizeram uma das obras mais belas deste carnaval 2016. Vou no toque do tambor, ô ô. Naquela tradicional caixa rufada, aquela marcação ímpar. Coé cara, vai ter que respeitar meu tamborim! Por que a batucada da escola já mostrou que tá que tá. Deixa o samba me levar... saravá! Daí na volta do samba, depois da virada, quando voa (mais um) carcará, a melodia passa a se soltar. E o tamborim vem junto. No embalo do xirê. Fizeram um puta breque; simples e funcional. Firmo na palma, no pandeiro e na viola! Tudo realmente conspirando pra verde e rosa voltar a fazer um grande carnaval. Vento soprando a favor? Bom, pelo menos esse ano a torre da Sapucaí foi retirada. Explode Coração.
Se bateu curiosidade, os sambas você acha facinho aí no Youtube. Mas bão memo é ouvir ao vivão, junto com aquela batucada!
Sonhei que nessa(s) noite(s) de magia tudo quanto é treta ficava pra trás da linha amarela. Que na passarela branca nada fosse ilusão, mas que aquela realidade durava tanto quanto um sonho bom. Que, essa semana, a passarela seja nossa cama. Grandona e macia. Bora sujar esse lençol e curtir o carnaval aí gente!
Ou melhor, a Estácio de Sá é quem vai nos jogar samba, domingo, às nove da noite, independente de qualquer canal de televisão. Samba e axé, que andam juntos. São Jorge é o tema. Empunhando a lança do santo guerreiro. A letra é a declaração do devoto para o padroeiro, em primeira pessoa. Só que em conjunto, soa-se coletivo. É a fé, sendo um bagulho extremamente pessoal, transformada numa música de massa, e, o melhor, sem aquele lenga lenga gospel. Uma energia que eu só vejo no samba. Ele conta também a história de Jorge, e já cai num refrão que traz a primeira parte direto da oração, bem forte: estou vestido com as armas de Jorge, meus inimigos não vão me alcançar. Aí o samba volta crescente, fala da criança e da lua, e fecha com comida e batuque, pra escola fazer da avenida seu altar. Como a melodia é gostosa! E a rapaziada da Medalha de Ouro tem mérito nisso. É cada breque difícil que os cara tá mandando, hein... Não é o samba do ano porque os poetas de carnaval capricharam nas composições. Tenho certeza que a escola vai segurar as ponta de abrir o carnaval. Segurar num desfile guerreiro, botem fé.
Daí a União da Ilha do Governador, que deve ser bela como cá, a ilha do presidente; encarna-se no Rio de Janeiro para celebrar as olimpíadas deste ano. E agora com a volta da batida antiga de caixa, bem swingada e gostosa, que até lembrei do meu Camisa. O samba é uma exaltação da cidade maravilhosa para com ela mesma. Uma auto-celebração olímpica, recheada de enaltecimento às belezas naturais do rio, alá antigos carnavais. Pois é, chega mais perto e sente o meu calor. Cristo Redentor alia-se a Zeus, na terra onde o sol é mais dourado. É realmente uma primeira parte bonita, mas o refrão, meio vago, dá uma quebrada no samba que vinha legal. Na segunda parte se fala dos cariocas, dos jogos e, claro, do samba; a melodia também não mantém a mesma pegada do começo. Aí o refrão, de cinco versos, prolonga o samba ainda mais. O jeito vai ser mesmo a Baterilha firmar o desfile na ginga, no batuque e no compasso. Confesso que é uma das faixas do cd desse ano que menos rodou aqui. Mas sempre aguardo a passagem da Ilha, afinal ela não é xodó dos carioca à toa, né. Aquele abraço!
E de Nilópolis, baixada fluminense, é que vem a campeã Beija-Flor. De Nilópolis à Nova Lima, cidade mineira, que entra no enredo da escola esse ano. O Marquês de Sapucaí, nascido lá, e que dá nome a passarela do samba mais famosa do mundo, será homenageado também. A ideia é voltar àquele desfile de carnaval que fala dos tempos de colônia, ou seja, que fala de história. E como o marquês, de fato, encadeia bastante assunto, emoldurando a história, a azul e branca traz um belo samba. No estilo melódico do ano passado, só que com uma levada mais cadenciada. A vida do rapaz então é contada em seus por menores possíveis na primeira parte, para cair num empolgante refrão de exaltação à liberdade. Com o perdão da comparação, mas não como era aquele puta refrão do ano passado. Aí, diz-se que se trata de um homem de real valor, seja lá o que isso signifique, né. Em seguida é feita a conexão com o sambódramo, mas confesso que ainda não compreendi o herdeiro verdadeiro de Ciata, nossa mãe do samba. Na segunda passagem, com A bateria, o samba melhora bastante. Na alegria ou na dor, estou curioso para ver uma Beija-Flor barroca.
De Minas, a gente vai pra SP, colar em Santos, lá no Itororó, beber água. Uma das cidades mais antigas do Brasil vai ser homenageada pela Acadêmicos do Grande Rio. Nesse mar de alegria, o samba, que agora virou propaganda da tele-sena, é naquele modelinho de enredo sobre cidade. E também passa pela história do país, já que o porto de lá ainda é o principal. A primeira parte tem um jogo bonito com a melodia, num falso refrão. E a bateria Invocada ajuda bastante no astral da música, que já é pra cima. Nessa labuta tem aroma de café! - que, aliás, estou saboreando nessa exata tarde nublada. Antes ainda do refrão, uma quebra levanta o clima e, ao mesmo tempo, já chama o bis de dois versos. É saboroso, todo mundo botou fé! Aliás, pode embarcar que o apito do bonde tocou! Pode embarcar que o progresso não pode parar! Na moral, esse breque ali é fera. Aí a batucada volta e a letra já vem falando do Santos Futebol Clube. E dos craques do celeiro. Olé's à parte, o samba se perde por aí. Achei-o meio comprimido, e ele pouco diz. Santos tem muito mais pra se contar. É outra faixa que eu não costumo repetir. Espero que a cidade do meu time do coração seja bem representada por Caxias na avenida, assim como o Amazonas foi dez anos atrás. Santos, maravilha de lugar!
Pernambuco também fora bem representado, esses tempos mesmo, mas com a Mocidade Independente, que hoje canta o Brasil. Louco. Apaixonado. É um enredo de pegada literária que evoca Cervantes ao nosso país. Os moinhos agora são as dificuldades diárias de cada brasileiro. Vai na fé! Música e história também estão inclusos no pacote quixotesco. Um carnaval, digamos que, deveras modernista. Gostei da proposta, achei ousada, assim como a do ano passado. Essa, porém, parece ser muito mais carnavalesca do que o último carnaval da Padre Miguel. Não há de faltar bravura. E a batucada aproveita o refrão do meio pra tirar onda. Gostei daquele breque do agogô. Aliás, Não Existe Mais Quente, que introdução de peso, hein! Vai na fé, meu bom cangaceiro. O Paulo Barros até saiu fora, mas deixou aquele ar de curiosidade pairando ali pela região, numa ofegante epidemia que se chama carnaval. Enfim, sub-celebridades à parte, tenho uma boa expectativa sobre a escola da Zona Oesssste. Há tempos a gente espera a volta da boa e velha Mocidade. E com o Louzada atrás do lápis já temos um bom começo. É hora da estrela que sempre vai brilhar.
Aí, quase de manhã já, a Unidos da Tijuca festeja o solo sagrado em oração. Quase outra "festa no arraiá", possivelmente dos mesmos patrocinadores daquele enredo da Vila, a escola do Borel canta o interior brasileiro. Simplesmente o melhor samba de domingo. A letra é muito bem construída e a linha melódica é toda traçada em cima de rimas estratégicas. A batucada acompanha o alto nível, desde lá da introdução, com cavaco e tamborim, até as bossas da segunda passagem. Séeeloko, dá até vontade de pegar a baqueta e o tamborim aqui. Brota o suor que escorre da enxada, é um dos versos mais bonitos do carnaval. Faz tempo que eu não via a Tijuca com um puta samba. O refrão do meio é extenso, mas nem um pouco cansativo, porque é bem rimado. Já a segunda parte do samba não mantém a mesma pegada do começo, principalmente quando chega no tal oásis de conhecimento. Achei só que faltou uma referência a reforma agrária, pois, convenhamos, é foda quatro mil pessoas festejarem um solo sagrado que tem meia dúzia de donos, assistindo tudo ali de pertinho, no camarote da Sapucaí. Mas o dia vai raiar, e o povo há de cantar feliz.
E assim que esse dia anoitecer a Unidos de Vila Isabel já estará preparada para cantarolar, me emocionar, estando ali na avenida para cantar o político pernambucano Miguel Arraes, o Pai Arraia. E o samba é bom... ahhhh, é tão bom! Martinho, André Diniz, Mart'nália, Arlindo Cruz e Leonal mandaram muito bem. É outra concepção de samba, com três partes, três refrões, e o melhor, sem ficar chato. Longe disso. O samba começa transbordando poesia por olhos rasos d'água. Fala da seca, do sol, e dos carcarás, que voltarão ainda nesse carnaval. Compara o equilíbrio de uma vida sofrida com a estrutura das casinhas de palafita lá do nordeste. E quer um refrão melhor do que dignidade e amor, meu amigo? Dignidade e Amor. É lindo de se ouvir. Aí o samba volta falando de justiça, ideais e esperança. Afinal, liberdade se conquista com educação. Em seguida, sobe o refrão, que também é curtinho, e dá de tirar aquela onda na avenida. Mas isso é só preparação pros versos posteriores que dão aquela levantada na escola de gente aguerrida que defende a tradição do seu lugar. Pra enfim explodir dançando o frevo e a ciranda, no refrão principal. Um samba redondíssimo lá da terra de Noel. Um movimento de cultura popular!
Popular, também, é a malandragem carioca. Salve a malandragem. Salve o povo de fé, me dê licença pra falar desse samba lindo, dos Acadêmicos do Salgueiro. Marcelo Motta, Fred Camacho, Guinga, Getúlio Coelho, Ricardo Fernandes e Francisco Aquino podem lá não ter aqueles nomes engraçados de compositor, mas seguraram a bronca e fizerem um dos grandes sambas deste carnaval. No palco, sob as estrelas, o malandro protagoniza sua ópera na Sapucaí. Com influência lá da peça do Chico Buarque é que o enredo foi montado, mas os atores desse espetáculo são cria lá do morro do Salgueiro. Mais que um projeto social, esse enredo é uma autoafirmação cultural duma classe que sempre foi mal vista, marginalizada; e agora é alvo de flash global. Ou será que vão boicotar a transmissão mesmo? Com ou sem tevê ao vivo do sambódramo o mestre sala das madrugadas vai cortejar sua porta bandeira, a lua. Pra vocês verem o nível de tamanha malandragem, a introdução bonita que a escola fez no cd é sincopada por caixinhas de fósforo. O samba em si tem versos curtos e bem rimados, isso facilita bastante na memorização e, quando menos se espera, se está cantarolando por aí. A Furiosa bateria tá fazendo sua parte de malandro, batuqueiro, segurando um dos melhores ritmos do carnaval. Dos breques ao desenho de tamborim. Me deixo levar! Malandro não diz muita coisa antes do carnaval. Apenas confesso que vou pro RJ pra ver esse samba. E olha que na final tinham outros dois sambas de qualidade. Talvez seja o vento soprando a favor do Andaraí. O couro vai comer.
Do malandro, surge o palhaço. Não com menos malandragem. Mas com mais alegria. Em cena, a arte! E se o Salgueiro se inspirou no Chico, a São Clemente recorda de Zé Ketti para colocar mais de mil palhaços na Sapucaí. A escola vem se mantendo no Grupo Especial há algum tempo, sempre trazendo bons enredos. Também, com Rosa Magalhães na pesquisa, o carnaval só tende a dar certo. O samba que ficou devendo um tantinho. Irônico, não? Num samba sobre palhaços faltar empolgação. Não que seja um samba ruim. Longe disso. Mas a irreverência não funcionou muito bem. Talvez faltasse um bocado de poesia ao homenagear o palhaço. Muito oba-oba pode cansar na avenida. Espero, sinceramente, que seja o melhor desfile da escola da Zona Sul. Potencial pra isso eu sei que tem. Só que, numa noite cujos sambas são lindíssimos, a São Clemente pode acabar ficando pra trás. Que confusão, meu deus do céu! - Deixa a escola desfilar primeiro, rapá! E desfilar linda, pra mostrar pra esse palhaço aqui que tudo o que disse era doce ilusão, deixa. Pode não ser o melhor samba, mas que a escola tem um dos melhores enredos do carnaval, ah tem sim senhor!
E por falar em enredo firmeza, quem vai pedir passagem agora é a águia de Madureira. Ela vai voar longe, altaneira, para viajar, rumo ao infinito. Curioso, né? A Portela começa sua odisséia nas asas da mitologia, toda trabalhada na arquitetura grega. Seu destino, é sem fim. Cruzar o azul que é tudo pra mim. O samba tem uma primeira parte curta e bela, como uma daquelas flores que cabem inteiras na palma da mão. Toda azul. Aí um falso refrão traz a melodia pro povo cantar junto. Ô leva eu, me leva! Dá vontade de pegar carona com a águia. Afinal, sou livre, aonde sonhar eu vou. E o samba vai, ao infinito, sentir lugares tão bonitos, em terras mais distantes me aventurar, sem saber se um dia vou voltar. Ou seja, resumindo a vida de todo viajante porra louca, sem rumo, a vagar o mundão por aí a fora. Chega-se ao refrão do meio, curtinho e simples; para que aí, o samba, que é lindo, se tornar ainda mais do que isso. Abre a janela! Abre, pra ver Samir Trindade, Wanderley Monteiro, Elson Ramires, Lopita 77, Dimenor e Edmar Jr; que acertaram em cheio ao trazer uma levada quase que de partido alto pra essa segunda parte. Samir, aliás, que é autor do samba campeão do carnaval passado, aquele sobre Guiné, da Beija-Flor. A maré tá boa né, rapaz. Ouvir a escola cantando essa parte que fala do ouro, do brilho e, principalmente, do professor Paulo, chega a encher o olhos. Ah, a Portela voltou! E do outro lado alguém pode ver esse amor. Amor a esse samba, que é o próprio mapa da mina, pra achar tesouro, lá na quarta-feira da semana que vem. E, claro, encerra-se a obra em reverência ao samba. A Tabajara do samba também faz seu show a parte. Wantuir e Gilsinho acompanharam-na legal. Abram alas! Afinal, eu sou a águia. Falem de mim quem quiser! Mas é melhor respeitar a Portela, rapá.
Logo após o som do berrante, será a vez da Imperatriz Leopoldinense fazer seu carnaval em clima sertanejo. É outra agremiação que leva o interior do país pra avenida. Pudera, verde é minha raiz. O samba que é tido por muitos como o melhor deste carnaval tem realmente uma construção muito especial. Recheado de poesia ele remonta à vida rural. O galo canta, anuncia um novo dia. Minhas lembranças, marejadas de saudade, trazem à memória o canto dos pássaros e os girassóis da letra. Uma baita ajuda pra imaginação do carnavalesco. Brota até um desejo de se conhecer a Serra Dourada de Goiás. Sou o som do serrado brejeiro! E se um falso refrão já aparecera antes, em outras duas escolas, aqui ele é extremamente bem elaborado, com cinco versos bem rimados, em que a melodia simplesmente baila nas duas estrofes. Prato cheio pra batucada Swing da Leopoldina. Sou matuta, ribeira, caipira. Ao mesmo tempo o samba exalta, em primeira pessoa, o homem do campo, de um pedaço feliz do Brasil. A segunda parte cai já nas festas do interior, mostrando que um enredo sobre Zezé de Camargo e Luciano é muito rico, sim. Fala, inclusive, da trajetória dos dois. E justo nessa parte do samba, no cd do carnaval, a dupla sertaneja começa a cantar os até que chegue o segundo falso refrão: é o amor! Os compositores - Zé Katimba, Adriano Ganso, Jorge do Finge, Moisés Santiago e Aldir Sena - aí, fizeram uma brincadeira com o maior sucesso da dupla. Misturaram à letra um sucesso de rádio dos anos 90, tempos áureos da escola de Ramos (e da dupla goiana), e ainda deixaram a moral do Gresil lá em cima. Claro que sertanejo dá samba bom! A X-9 Paulistana já tinha mostrado isso na década passada. Minha escola na avenida, a paixão da minha vida. E que samba... Pois, sou brasileiro, caipira-pirapora!
Encerrando o carnaval, a última agremiação a ser avaliada, quem vai deixar o gostinho de quero mais na passarela, o último nome a ser lido na apuração a cada quesito... Chegou a garra. Chegou a emoção. Chegou a escola de samba mais querida do planeta. Valeu, Luizito, o samba enredo da Estação Primeira de Mangueira esse ano é lindo, e tenho certeza que cairia perfeitamente na tua voz. A escola fez uma bela homenagem a ele na gravação do cd. E homenageia agora, na avenida, a menina dos olhos de Oyá, Maria Bethânia. Não mexe com ela não, mano. Pois é no dengo da baiana, meu sinhô, que a Mangueira vai passar. Com o axé lá da Bahia é que o samba começa, todo rimadinho. E vai. É Oyá e Oxalá. Bonfim e Maria. Alemão do Cavaco, Almir, Cadu, Lacy de Mangueira, Paulinho Bandolim e Renan Brandão fizeram uma das obras mais belas deste carnaval 2016. Vou no toque do tambor, ô ô. Naquela tradicional caixa rufada, aquela marcação ímpar. Coé cara, vai ter que respeitar meu tamborim! Por que a batucada da escola já mostrou que tá que tá. Deixa o samba me levar... saravá! Daí na volta do samba, depois da virada, quando voa (mais um) carcará, a melodia passa a se soltar. E o tamborim vem junto. No embalo do xirê. Fizeram um puta breque; simples e funcional. Firmo na palma, no pandeiro e na viola! Tudo realmente conspirando pra verde e rosa voltar a fazer um grande carnaval. Vento soprando a favor? Bom, pelo menos esse ano a torre da Sapucaí foi retirada. Explode Coração.
Se bateu curiosidade, os sambas você acha facinho aí no Youtube. Mas bão memo é ouvir ao vivão, junto com aquela batucada!
Sonhei que nessa(s) noite(s) de magia tudo quanto é treta ficava pra trás da linha amarela. Que na passarela branca nada fosse ilusão, mas que aquela realidade durava tanto quanto um sonho bom. Que, essa semana, a passarela seja nossa cama. Grandona e macia. Bora sujar esse lençol e curtir o carnaval aí gente!
Assinar:
Postagens (Atom)