Cola cum Fróis

Escrevo pela necessidade de me livrar das palavras | @_dudufrois

domingo, 25 de maio de 2014

A cultural ganhou de novo!

Exato um ano após meu post a respeito da Virada Cultural de número 9, eu venho novamente fazer meu relato sobre o evento. Dessa vez sob uma outra ótica, um outro contexto. Agora como morador da cidade de São Paulo, e não mais como um "turista cultural do interior". Como eu já estava exausto no sábado da virada, resolvi não virar outra noite. Com isso, não pude aproveitar tão bem o evento, logo, o texto tende a ser um pouco menor em relação ao do ano passado.

Também este ano, eu li nos jornais e ouvi falar pelos busão da cidade que, a Virada estava muito violenta. Ou melhor, que sempre foi. Muitos já ficaram com medo de comparecer na madrugada. Outros, nem de dia vão. Isso vai criando uma imagem estigmatizada, vai distorcendo a função da Virada Cultural. Não sei se pela imensa maioria de notícias ruins sobre ela, ou se pela insistência da Polícia Militar em acabar com tal evento; uma parte população aos poucos vai se afastando dessa festa tão ampla. Isso não seria surpresa se ocorresse apenas entre as camadas mais ricas, mas o curioso é que o medo agora também vem rondando os mais pobres. 

A violência, portanto, afasta a população da rua. O descrédito com quem deveria proteger essa mesma população não ajuda. Mas eu reforço o que disse ano passado: a violência está presente diariamente em São Paulo. E no Brasil. A Virada Cultural só transporta essa violência das partes periféricas para o centro. Aí, com câmera gravando e gente por todo lado, ela fica muito mais evidente. Brigas, arrastões e assaltos já fazem parte do cotidiano de quem mora por aqui. Infelizmente a Virada não é uma exceção. 

Do palco pro público. Do alto pra República toda.

A programação dessa décima edição trouxe um leque enorme de opções, agradando a todo tipo de público. Teve rock, eletrônica, teatro, apresentação no Teatro Municipal, circo, cinema, sarau, funk, mpb, reggae, música internacional, stand-up, atração infantil, parte gastronômica, Sesc's com diversos shows... Como sempre, muita coisa interessante pra apenas 24h. Uma pena eu não ter ido a nenhum desses aí. Aliás, uma pena também cancelarem shows por conta da chuva de granizo que houve no dia de domingo, atrapalhando toda a parte elétrica dos palcos. 

Agora, meu depoimento pessoal do evento fica baseado em três apresentações, apenas. A começar pelo início da noite do último dia 17, com a abertura da Virada; no palco do Samba, na Estação da Luz, o riquíssimo talento histórico da Velha Guarda do Camisa Verde e Branco. São mais de cem anos de história de carnaval que essa entidade tem. Imagine então a experiência desses malandros de terno verde e chapéu branco... É muita história pra contar. E é muito samba de raiz também. Foi executada uma seleção de canções antigas, bem regionais, trazendo à mostra a singularidade do samba paulista. Esses sete bambas, acompanhados de um time de batuqueiros, embalaram o público que aos poucos começava a sambar pra espantar o frio. Depois, eles ainda mandaram antigos sambas-de-enredo do Camisa Verde, com direito ao hino e tudo. Acho que faltou nessa virada algo relacionado às escolas de samba, blocos e cordões carnavalescos da cidade. Não é só no carnaval que eles existem. Mas é só no carnaval que eles aparecem. A velha guarda do Camisa mostrou que as agremiações têm todas uma belíssima história de amor para com o samba por de trás do espetáculo de fevereiro. Um espaço maior pra esse tipo peculiar de samba seria bem válido, já que em São Paulo essas escolas não possuem a visibilidade que possuem as do Rio de Janeiro, por exemplo. Enfim, o batuque ali durou pouco mais de uma hora e foi uma delícia para encerrar minha noite. 

A história do samba de São Paulo passa por esses caras

Uma cena triste, porém, me chamou atenção no local: um sujeito, visivelmente bêbado gritava coisas incompreensíveis ao longo do show. Ele dançava, subia na grade, caía, mexia com as moças... Depois, chegou outro. Não sei se se conheciam. Mas começaram a dançar (sem ritmo algum) juntos. Lamentável ver o efeito das drogas em cidadãos que pareciam mesmo gostar de samba. Como a Virada Cultural é para todo o público, não podiam retirar o sujeito chato que não ficava quieto. O episódio serviu pra expor quanta gente está "perdida" pelo centro de São Paulo. Com ou sem Virada por lá.

Já no outro dia, bem cedinho, eu acionei o despertador e compareci para conferir um show de rap: Dexter e MV Bill na República. Nessa mesma República, na outra Virada, há dois anos, eu já tinha visto o show do Dexter, também numa manhã de domingo. Acho que fazia pouco tempo que ele havia saído da prisão, e aquele era um dos primeiros shows dele em liberdade. Foi muito emocionante. Me marcou de verdade. Agora em companhia do Bill, não tinha como ser ruim. Apesar do atraso e do tempo sem graça - até porque eu também me atrasei - o público chegou junto. Era difícil circular ali. Até que o DJ soltou o play, a base de 'Soldado que Fica' se iniciou e, para a surpresa geral, quem entrou de mic na mão foi o Dexter. Depois, Bill cantou a música também. Aí eles intercalaram as canções. Houve uma troca bem legal no palco na qual várias vezes um cantou parte da música do outro. Meu destaque vai pra Kmila CDD interpretando 'Falcão' com uma força na voz que realmente foi de arrepiar. 

Música inicial do show

Lá me chamou atenção um outro episódio. Enquanto Dexter e MV Bill cantavam, algumas pessoas da plateia se aproximaram mais do palco. Um rapaz tentava colocar um molequinho lá em cima - provavelmente seu filho. O segurança mandou descer o moleque, que logo começou a chorar. Mais dois seguranças logo subiram no palco e passaram a ficar a frente das caixas de som para impedir qualquer contato do público com o palco ou com quem lá em cima estivesse. Após a música que estava sendo executada acabar, Dexter pediu aos seguranças que se retirassem, alegando confiar totalmente em seu público, dizendo ter certeza que nada de prejudicial iria acontecer ali. O mc prosseguiu o discurso dizendo que se alguém ali provocasse algo ruim, o acontecimento seria um prato cheio pra mídia, no dia seguinte, estampar nos jornais que palco de Rap não dá certo, que é coisa de marginal. Pediu, então, a quem estava mais próximo que ninguém subisse no palco. Disse que ninguém ali iria morrer. O público atendeu, e respeitou. Dexter retribuiu o ato cantando uma música lá embaixo, no meio da galera. Alguma músicas depois, aquele mesmo molequinho que antes estava chorando, foi colocado no palco novamente, dessa vez ao lado do Dexter, e aos poucos foi sorrindo timidamente, já que estava num palco pra umas 5 mil pessoas. O clima daquela manhã foi lindo, totalmente leve e de paz. 

Ainda mais porque em seguida, viria ao palco o Projeto Nave. Claro, que também com certo atraso. Porém, muita gente - assim como eu - emendou o show anterior nesse. Rolou uma vibração legal na República. Uns caras dividiam vinho com um provável mendigo. Um outro provável mendigo dividia o baseado com outros caras. Um grupo ali fazia uma espécie de freestyle. Um cara vendia cerveja e lança todo bem-humorado. E o DJ soltava só os clássicos do rap lá de fora. O Projeto começou a tocar, e junto a eles vieram váaaaaaarios mc's. De cabeça, eu me lembro do Rincon Sapiência, do RAPadura, do RedNigaz, do Marechal, do Xis, de um mano do Síntese, de gente do SNJ. Enfim, só maluco de qualidade. Não eram tão conhecidos, mas mostraram talento e flow. Ficou pequeno o palco pra tanta gente. E Virada também é isso, um híbrido de espaço pra quem tem uma legião de fãs e pra quem tá chegando agora. Não pude, infelizmente ficar muito tempo, então assim que o Projeto Nave encerrou seu último groove, eu fui embora da Virada. Pretendia, sim, voltar depois, mas a chuva me desestimulou.

O balanço que ficou foi (como sempre) positivo. Não vi nenhuma briga. Não vi nenhum roubo. Não vi nenhum arrastão. Não vi violência. Mas não serei ingênuo de afirmar que não houve nada disso. Sei que teve casos sim, que eu felizmente não presenciei. Reafirmo que não vejo insegurança maior na virada do que numa segunda-feira comum, na volta pra casa depois da aula. Acho que as atenções deviam se voltar muito mais pra parte boa da virada, do que pra casos de polícia. Eu não vi site nenhum contar sobre o clima que estava nos outros palcos, se as pessoas estavam sorrindo, se divertindo... Inclusive, é mais um motivo para tomar coragem e vir pra rua ver e sentir com o próprio corpo. Sem se basear em colunista de jornalão. Ano passado, após a virada eu cheguei em casa com uma sensação de que o povo é muito grande, e que a cidade é toda nossa. Imaginei esse povo tomando consciência do poder que ele tem. E não é que dias depois esse povo se conscientizou. Espero que esse mesmo povo jamais saia da rua, que é o lugar de quem vive a cidade. Sem medo da rua. Deixa isso pra quem está lá no poder. 

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Embolada de Exílio

Minha terra tem palmeiras,
Tem pardal e sabiá.
Tem cascata e cachoeiras
E o mais brilhante luar.

Minha terra tem ar puro,
Céu azul, fruta no pé.
Em meu bosque não há muro,
Cabe "homi", cabe "muié".

Cabe quem quiser chegar,
Cabe o povo lá da praça:
Povo "bão" de prosear.
Minha terra tem mais graça!

Graça aqui é achar tempo,
Procurar chegar primeiro,
Prosseguir sobrevivendo...
Teu tempo vira dinheiro,
Teu prazer torna fumaça:
Seu prazer é passageiro.

Não deixe, Deus, que a essência
Se acabe no meu lugar.
Não permita que meu Vale
Imite o "pogresso" cá.
Que a fumaça da metrópole
Não paire sobre meu ar!

Vale... Ah, se vale.