Cola cum Fróis

Escrevo pela necessidade de me livrar das palavras | @_dudufrois

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Giro do Verão

Choveu. Houve um período bem longo de tempo seco + sol forte. Voltou a chover. Nesse intervalo eu saí de casa pra um quartinho. Da escola pro cursinho. Dos rios e cachoeiras de Pinda pras ruas cinzas e o ar poluído de Sampa. Fiz minha melhor viagem. Descasquei. Não fiquei doente. Enchi meu cartão de memória. E algumas coisas mudaram...

A Copa São Paulo de Futebol Juniores, a Copinha, ocorreu bem. Ainda mais com o bicampeonato do meu Santos, fábrica de craques. O melhor foi na grande final ganhar do Corinthians lá no Pacaembu. No meio da arquibancada um senhor comentou comigo depois do nosso segundo gol: "e o pior é que na semana que vem eles vão tomar outro sacode hein, hahahaha". E não é que tomaram mesmo? No Paulistão, 5x1, fora o baile. E de quebra levou uma crise ao time adversário, que só tá se recuperando agora do baque. O Palmeiras vem jogando bem, com um time legal, mas nada de extraordinário. O São Paulo tá mais instável, oscilando jogos bons e ruins. Meu Santos, que também não tem lá aquele elenco ideal, é o time que vem apresentando o melhor futebol dentre os paulistas; que não vivem uma boa fase se comparados a nível de futebol nacional. A briga é boa. Dentro de campo.
*Vale repudiar também a tamanha imbecilidade de uma meia dúzia de são paulinos/valentões/covardes que andam em bando, pois não se garantem sozinhos, ao espancarem ontem, até a morte, um santista que estava na rua. 

Arouca jogando tudo o que tinha direito no clássico do último dia 29

No mundo, as revoluções seguem... Na Síria o couro continua comendo, pessoas continuam morrendo, se refugiando, e nada de Al-Assad largar o osso. Na Ucrânia caiu o presidente eleito democraticamente e sabe-se lá quem governará o país então. Na Venezuela - talvez inspirados na Ucrânia - a oposição tenta reunir manifestações para derrubar outro presidente eleito democraticamente, só que desta vez por puro descontentamento com a gestão. Fora o pessoal que quer de todo jeito tirar o Maduro do cargo e fica espalhando pela internet fotos e informações falsas para abalar a imagem do país, sobretudo no exterior. Cheirinho de golpe, viu. 

Manifestante ucraniano em confronto com a polícia local.

Aqui, as eleições de outubro (outubro, né?) vão se aproximando. As campanhas e propagandas irritantes se intensificam. Aí grande mídia já vai abraçando seus candidatos. Criando factoides sobre outros. A Copa chega antes. Os protestos contra a realização também chegam. A PM continua se excedendo nas manifestações - e na rua. Alguns manifestantes também. Surgiu o "rolezinho", e a classe média, como é de praxe, olhou feio. Seria o shopping um lugar de gente diferenciada?

Enfim, o carnaval começa nessa semana, vem pra fechar mais um ciclo - e deixar finalmente 2014 começar, rs. Só espero que não chova. 

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Análise dos Sambas de Enredo 2014 - Grupo de Acesso SP

Quase uma continuação do post anterior, aqui eu vou falar dos sambas do Grupo de Acesso do carnaval paulista. Mesmo esquema. Dentre os sambas, acho os deste grupo num nível um pouco acima dos do Grupo Especial. Além disso, há aqui uma peculiaridade. Um samba reeditado. Um samba belíssimo, aliás. Mas que se a moda pega o carnaval acaba e vira algo sem inovação, regride. Preso a um passado, que como a própria palavra diz, já passou. Fora que se uma escola de samba reedita aquele samba antológico, na teoria, é quase metade do carnaval ganho. Acho isso de uma falta de criatividade sem tamanho. E desleal na disputa entre as escolas. Portanto, sou contra reedições de enredos passados. Porém, vou comentar a respeito do samba da Manche Verde mesmo assim.


Mancha Verde: "Bem aventurados sejam os perseguidos por causa da justiça dos homens... Porque é deles o reino dos céus."

"Olha, e vê o fim do preconceito/ pois liberdade é um direito/ que não tem raça e não tem cor."

Um puta dum enredo só poderia dar um samba do caralho! Desculpem o palavreado... Esse samba é foda. A começar pelo enredo, pelo título do enredo. Enredo com pegada bíblica, de bela abordagem. Não sei se será repaginado pra 2014 ou se virá na mesma linha de 2006. Mas tem em mãos uma bela deixa de fatos recentes em que os homens vêm impondo a sua justiça aos seus semelhantes (como o caso do moleque que foi amarrado num poste do Rio por exemplo). Já o samba é DEZ. Perfeito. Sem tirar nem por. Não tem parte ruim. Tem uma poesia extraordinária, além de uma letra completa e boas rimas. A melódia é toda cadenciada, gostosa de cantar. Espero que não acelerem esse samba no dia. É aquele samba pra lavar a alma. Muito superior aos demais (dos dois grupos). Concorrência extremamente desleal. Mas eu até entendo a Mancha... Levar um samba-enredo desse pra avenida, sem ser avaliado com os demais é de foder. Tá... Esse samba pode ser reeditado vai, só esse samba!

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Vila Maria: "Nos meus 60 anos de alegria sou Vila Maria e faço a festa resgatando do passado brinquedos e brincadeiras dos tempos de criança."

"Jogo o ioiô, Bamboleia iaiá"

Tudo bem que a infância é geralmente o período mais feliz de nossas vidas (comigo não foi diferente), que carregamos recordações lindas daquela época, que eramos felizes e não sabíamos. Mas tá ficando chato, né? Desde Casimiro de Abreu (ou até antes) a infância foi exaustivamente exaltada, cantada e recordada. Músicas e poemas sobre ela não faltam. Sambas de enredo também. Esse ano então, parece que as escolas combinaram de voltarem a ser criança. E a Vila Maria é mais uma, tendo no enredo o diferencial de englobar os sessenta anos da escola. Não sei se esses dois lados se encaixarão bem no enredo. Sei que só pelo samba não deu pra entender bem essa mistura. A letra é bonita, mas não esconde os clichês inevitáveis do tema. O refrão do meio parece ser o ponto alto do samba. Já a melodia não me agrada nem um pouco. Chega a enjoar. Deixa o samba sem graça. Não que seja uma obra ruim; porém, me parece um daqueles sambas que a gente esquece logo em 2 ou 3 anos. 

"No tempo voltar, brincar ser feliz, o sete pintar/ Gargalhar ao ver o palhaço a encantar"


Terceiro Milênio: "Xirê, louvação aos orixás"

"O sopro do divino criador/ Um lindo céu emoldurou"

Com um título de enredo parecendo muito com os dos carnavais mais antigos, a Estrela traz um proposta bem interessante: o Candomblé. A escola narra de forma praticamente didática em seu samba a história do Candomblé e seus orixás. Não se trata apenas de mais um enredo afro, de outro samba afro. A Terceiro Milênio mostra em versos seu diferencial. A primeira parte do samba é perfeita. Em narração do enredo, poesia, rimas e melodia. Além de dar a deixa para o xirê do refrão. O refrão do meio é o auge da obra. "Pra cima", sobe o samba sem se perder do tema. É simples e suficiente. Já na segunda parte, o samba parece ter ficado pequeno para o enredo. São mais referências aos orixás do que os próprios versos. Dá a impressão de que as palavras foram compactadas pro samba não ficar maior que o planejado. Bobagem. Um samba leve assim, se mantida a categoria da composição, poderia se estender sem menor problema. Daí o belo refrão cabeça eleva a obra novamente. É outro refrão simples e sutil, que também joga a escola pra cima. Queria um enredo assim pra minha escola... Méritos aos compositores e ao intérprete André Pantera, que tá cantando muito. E Motumbá... Kolofé!

"Saluba Nanã e a fertilidade/ Logun Edé Ewa verdade"


Camisa Verde e Branco: "O centenário está em festa! Do Grupo Barra Funda ao Camisa Verde e Branco, vamos celebrar 100 anos de história."

"Eu fiz batuque para o meu cordão passar"

É cantando seus cem anos de história que a mais tradicional agremiação carnavalesca do Brasil vem pra avenida em 2014. É muita história pra contar! Naturalmente o enredo também é recheado. Assim, o samba não poderia ser diferente. A primeira parte é uma aula (muito bem dada por sinal) sobre a história da escola. No refrão do meio sambas antológicos são relembrados. E na parte final são feitas referências aos inesquecíveis carnavais da escola, que renderam sambas que estão entre os melhores do carnaval paulista. A melodia não é lá essas coisas. Faltou aquele arremate que puxa toda escola junto. Porém, um samba falando da história da escola já deve por si só puxar a comunidade. E se não puxar, é porque não era a comunidade verdadeira. É sem dúvidas uma das melhores faixas do CD, ofuscada apenas por uma reedição e uma paulada da escola anterior. Samba digno da história do Camisa. Mas longe de entrar para o hall das composições antológicas da escola.

"O meu Camisa é muito mais que especial"



Morro da Casa Verde: "O bicho vai pegar... Medos!!!"

"Múmias formaram uma gangue/ Vampiros em busca de sangue"

Outro enredo muito grande, que por sua vez tem um samba equivalente. Não é apenas um samba-enredo comprido. É também um samba-enredo de frases compridas. E que se não for muito bom, cansa; não tem jeito. É difícil de decorar mesmo. A melodia é arrastada. Parece que a obra quis falar da sinopse toda, sem deixar nada de fora. Poderia ser melhor lapido ainda. Acho inclusive, que o tema proporciona uma maneira mais leve de tratar sobre os medos. Acredito que num tom mais irreverente - que eu só vi no final da letra - ficaria bem melhor pro Morro. É um enredo curioso, que dá samba, sem dúvidas. Só que é amplo de mais. Uma melhor abordagem, mais específica talvez, deixaria a obra mais limpa. De qualquer modo; o refrão bem sacado, o final do samba e o intérprete Adeílton salvam a faixa. 

"Desse jeito a fobia vai pegar/ Violência, imposto... muita amolação"


Unidos do Peruche: "A beleza é imperfeita e a loucura é genial"

"Me chamam de pai da ciência/ Quem dera se a vida pudesse criar"

Com a introdução de Seu Carlão, a faixa do Peruche já começa na lata, sem esquenta (como quase todas as outras hoje em dia...). O samba já vem pra cima. Não é daqueles que levanta a galera, mas tem uma pegada muito forte, diferente. A começar pelo refrão principal: bem rimadinho, redondo e coeso. O samba traz no começo a mesma historinha que a Morro - Adão, Eva, o paraíso, a cobra e o pecado. No entanto, nota-se que a letra da Peruche já é composta de maneira mais poética, deixando a obra mais bela. E isso estende-se até o final. O refrão do meio entra num momento legal do samba, dá seu recado e já chama a segunda parte. Um pouco a baixo da primeira, essa segunda parte mantém letra e melodia, subindo em "Amor, vamos brindar...". É um enredo complexo e bem abordado. Já o samba é de uma beleza rítmica tão simples. Combinação que deu certo.

"E lá vou eu..."


Imperador do Ipiranga: "Os quatro deuses encantados sob as bençãos de São Caetano do Sul"

"É você, o meu cantinho de viver"

O último dos chamados "enredos CEP's" de Sampa é da Imperador. Falando de São Caetano do Sul, a escola poderia ter focado melhor seu enredo no diferencial da cidade: é a cidade brasileira mais bem colocada no ranking de IDH. Padrão Europeu. Assim, não seria apenas mais uma história sobre outra cidade da região, que sempre acaba trazendo os mesmos elementos para o samba e desfile. É inevitável. O samba começa legal, tem uma primeira parte bonita, inspirada. Traz uma abordagem bem interessante no começo. Porém, no "Ora yê yêo, Mamãe Oxum" começam vir os clichês típicos dos temas parecidos. A começar pela própria evocação a Oxum nos refrões de meio de samba. Aí vem a arte, o carnaval, o esporte, o museu, as indústrias, a parte ambiental... coisas que praticamente todas as cidades possuem, e que as de São Caetano não parecem ter nada de especial em relação as das outras. Já no final, o samba se encerra bem a partir de "Não troco a minha vida por qualquer lugar..." até o refrão principal. Uma linha de enredo já manjada, que deu num samba mediano.

"Grande parque industrial/ Preservação ambiental"


Colorado do Brás: "De onde vem a alegria dessa gente?"

"Descubro alegria em cada olhar"

Numa espécie de aquarela do Brasil das festividades, a Colorado encerra o CD duplo do carnaval paulistano. Um enredo talvez até já explorado, mas que veio agora abordado de um jeito bem interessante. Começa no sul, vai pro Centro-Oeste, pro Norte, depois pro Nordeste e tem sua apoteose no Sudeste (no nosso carnaval). Sempre focado na alegria dessa gente, no sorriso espontâneo do povo. Não é nenhum Gaviões 2003; mas é um sambinha legal, bem animado. Não vejo destaques na faixa. É um samba de enredo comum, que acompanha a linha de montagem atual da maioria dos sambas. Sem pontos fortes, nem fracos; não deixa de ser uma faixa pra se botar no repeat.

"Oh Minas Gerais, quem te conhece não te esquece jamais!"


E assim encerra-se o CD do carnaval 2014 da cidade de São Paulo. Já foi melhor. Já viveu melhor fase, tanto de composições quanto de gravações. Há bastante o que melhor pra 2015. Na parte positiva, dos dois grupos, ficam pra mim apenas 4 sambas: Mocidade Alegre, Acadêmicos do Tatuapé, Mancha Verde e Estrela do Terceiro Milênio. Reparou? Não!? Ahhhh, tá na cara. Não viu o que as quatro obras têm em comum? A RELIGIÃO! Isso mesmo. Religião dá samba, sim. E samba bom. Justamente os sambas que salvaram o CD 2014. Houve uma época em que não se podia falar da igreja na avenida. Mudaram-se os tempos. Hoje, santo é enredo de carnaval. E como um ateu convicto, confesso minha admiração pela fé das pessoas; pois foi ela, sem dúvidas, que levou os compositores a acertarem na caneta. No mínimo curioso, né?

Bom... espero todos os sambas na avenida. Seja em ensaio técnico ou no grande dia... Pretendo assistir o que der. O que não der, eu tento ver depois na internet. O importante é que o carnaval taí, e independente de qualidade de samba as 22 escolas irão botar seus desfiles no Anhembi. Isso aqui é apenas uma opinião minha, HOJE, dia 05 de fevereiro. Até o dia 29, muitas águas irão rolar... Ou melhor, muito sol irá queimar. Espero sinceramente que as escolas que critiquei me surpreendam, porque o que vale mesmo é lá no sambódramo, logo depois da sirene.