Hoje o dia amanheceu estranho. Chuvoso. Cinza chumbo. Desde que botei o nariz na rua eu senti um ar pesado no rosto das pessoas. Almocei no RU da Med. Veterinária e o assunto entre os corredores não tinha como ser outro: Bolsonaro. Os que ainda possuem um pouco de bom senso, preocupados com o futuro do país, estão se perguntando o porquê!
Por que esse cara? Não é possível que as pessoas estão botando fé num babaca que está há 3 décadas num cargo público em Brasília, sem nunca ter proposto algo de relevante para a vida da população. Eles realmente acreditam (ou fingem acreditar?) que esse patrício vai trazer a mudança que a política nacional tanto precisa? Ah, faça me o favor...
'Será que ninguém enxerga?' eu me perguntava enquanto empurrava a bicicleta na calçada e observava as pessoas. Desci pra pedalar na pista. Quando cheguei na av. Roberto Silveira o semáforo fechou. E a ciclovia fica do outro lado. Começaram a vir os veículos do túnel, então eu continuei indo devagar pelo cantinho direito da via enquanto ainda pensava no resultado das eleições. Mas o fluxo de carros não diminuía... Fui vindo mais pro meio da faixa da direita porque logo ali na frente tinha um busão parado no ponto de ônibus. Havia outras 3 faixas, além da ciclovia e da faixa de ônibus.
Beleza, cortei o busão e segui pedalano de boa, olhando toda hora pra trás para saber o momento exato de atravessar rumo à ciclovia. Só que os carros e motos não me davam nenhuma brecha. Fui diminuindo a velocidade até que um homem atravessou na minha frente e cruzou a avenida. Tentei ir de embalo, mas lá na primeira faixa da esquerda vinha um maluco à milhão. Fiz que fui mas voltei. E logo vi que o semáforo mais a frente tinha ficado vermelho. Olhei pra trás: os carros todos já diminuindo, aquele transitozinho de sinal fechado, né. É agora!
Levantei o braço esquerdo, virei o guidão pra atravessar e quando eu olhei de novo pra trás vinha um taxi cheio de pressa na faixa do meu lado. Como eu tô sem freio só mudei a direção do camelinho de novo, mas não parei. Nem ele. Pra ajudar, tinha um carro mais a frente saindo da calçada e ocupando a passagem na minha faixa.
Estávamos já há menos de 50 metros do semáforo. O taxista buzinou, como se o problema fosse eu na frente dele e não um sinal vermelho. Não tinha necessidade. Eu já bem puto da vida com aquela situação fiquei ainda mais nervoso com a buzinada no ouvido. O sujeito parou o carro do meu lado, roda com roda. Começou a falar de dentro do taxi alguma coisa que eu nem ouvi. E sua passageira ali no carona. Eu abaixei pra ver a cara do cidadão e desabafei:
- Tu não me viu, não? Você é cego? Não tá vendo que tá vermelho essa porra? Tá achando que vai passar por onde? por cima?
Escutei ele esbravejar alguma coisa do tipo 'tem que andar na ciclovia!'. Ô glória... Peguei a bike e passei na frente dele pra atravessar. Ainda falei:
- Tava tentando ir pra ciclovia antes de você quase me atropelar né!
Ele segue olhando pra mim de dentro do carro com uma cara de babaca. Eu encarei de volta e fui pedalar. Quando enfim cheguei na ciclovia e vi ele lá paradão no sinal vermelho confesso que me veio um sentimento de vingança por cima do susto que aquele arrombado tinha me dado, então estendi a mão direita pra ele e o meu dedo médio imediatamente se ergueu.
- Agora fica aí, seu otário!
Respirei fundo. Gritei uns dois palavrões pra tentar me acalmar. Minha vontade era gritar #EleNão Mais a frente crianças atravessavam a faixa de pedestre em direção ao Campo de São Bento. Fui freando com a sola do tenis bem devagarinho até parar na entrada. Ouço então outra freada brusca.
- É caô que você quer arrumar então vamo resolver esse negócio aí!
O cara voltou, parou o taxi ali, desceu do carro e veio pra cima da mim falando alto. Tinha ficado macho com meu dedo do meio. Apesar de bem maior que eu, mantive o mesmo tom de voz dele e não deixei se crescer, não.
- Irmão você jogou o carro em cima de mim, você tá errado cara. Ainda fica buzinando na orelha dos outros. Sai fora!
Ele olhava pra mim na maldade. Continuou falando alto, discutindo, me ameaçando. Não conseguía prestar atenção nas palavras que saíam da boca dele. Nada ali fazia sentido. Não baixei a bola, nem saí de cima da bicicleta. O que ele queria era uma fagulha pra sair na mão. Só que eu não vou ficar brigando com maluco na rua.
Outras pessoas começaram a olhar pra gente e ele recuou. Eu aproveitei, subi a calçada e entrei no parque. O bico ainda ficou falando merda, fazendo ameaças enquanto eu metia o pé. Demoro. O que ele quiser eu quero em dobro. Ainda bem que nenhum de nós anda armado. Se não você num estaria nem lendo essa história, né.
Nós temos apenas 19 dias pra barrar a ascensão do fascismo no nosso país. Faça a sua parte. Fascistas não passarão. Nem por cima.