Num não-tempo, sem espaço próprio como sujeitos universais e anônimos que somos, eu e meu parça Welton fomos de motoca pra São Paulo, e lá demos aquele piãozinho, apézão mesmo. Já faz uns dois anos essa mão aí, que depois de muita ideia trocada, umas risadas e uns gole, entre diálogos e interações com vários tipos, várias cenas flagradas dos discretos e desinibidos personagens da maior cidade brasileira. Eu já nem morava mais lá, mas confesso que bateu aquela saudadezinha da babylon... Aí saiu um free, depois virou umas rima de final de caderno, e então se uniu com os videos curtos que eu vinha gravando no radinho. Segue o registro e a letra.
Quem tem mizuno sai de jet no pião da madrugada
Transporte público pagando o frete de obra superfaturada
É pé que passa apressado pedindo sempre passagem na viagem
Um, dois, três, quatro é quase cinco bilhão de passageiros
Nas linha da cidade que faz circular dinheiro e junto circula mágoa
De noite aqui sobra chuva, de dia aqui falta água
Por que o rio tá enterrado, largado, no condado acordado
Terra que não cochila, tem que andar ligeiro e não pode vacilar
Muita calma polícia, muita calma ladrão
Pra que o rolê não termine apenas em Consolação
É a madruga que te suga do Helipa à Brasilândia
Pois é na rua que cês frita achando que é gozolândia
Mas é que a lua traz consigo muito além da escuridão
Trabalhador que troca sonho pra tirar seu ganha pão
E entre shopping e sede de banco,
Num tom de pele que é menos branco,
Faz da passagem, à margem, tornar seu lar,
E deita ali com as reciclagem se apropria do não-lugar,
Onde o farol das nave chave ofusca vários olhar
Quando a Gomide tromba a Augusta na busca de achar um bar
Lotado de alma vazia, fumaça no ar que respira,
Garoa que não alivia, só não pira nas pira da noite logo que vira,
Pela sombra vai na tranquila, relaxa, que o mundo gira
Nas calçadas escura e imunda que abunda fim de cigarro
Aperta o passo pra chegar na multidão de solitário
Na avenida feita pra carro, a luxúria quer mais um trago,
Enquanto uns baixa a cabeça outros passam tirando sarro
Mas a história muda na praça, quero ver você fazer graça
Lá na parte da cidade 24h ocupada
Cultura alternativa na pura cannabis sativa
Com a mente e a voz ativa, que sente a cidade viva
Vive a rua que é sua companheira fiel
Atua e sua, crua e nua,
Welcome to Torre de Babel!