Cola cum Fróis

Escrevo pela necessidade de me livrar das palavras | @_dudufrois

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Cadeiradas na Costela


O tempo nublado fez com que não houvesse sol naquela cinzenta tarde de sábado, no centro de Florianópolis. O ensaio do bloco de samba-reggae Africatarina reunia cerca de quinze ritmistas e chamava a atenção dos curiosos que passavam pela Praça XV e pelo terminal velho. Uma porção de pessoas foi se reunindo ao redor da batucada. Mestre Edinho, ao centro da roda de tambores, era quem ditava o ritmo dos repiques, caixas e surdos. Sempre que alguém se aproximava dos ritmistas ele já perguntava imediatamente, exibindo seu costumeiro sorriso:

- E aí, quer vir tocar com a gente?

Uns rejeitam, alegam estarem apenas olhando. E então, antes de meterem o pé, tiram uma foto ou gravam um pequeno vídeo pra postar na rede social. Mas há também aqueles que aceitam o convite do mestre, sempre disposto a ensinar. Tudo ali na hora mesmo, no boca a boca, na simples linguagem oral percussiva, enquanto o ensaio acontece. Se a pessoa pega o ritmo e assimila a batida do instrumento, pronto, eis um novo integrante do bloco.

Já corria uma hora de ensaio quando um sujeito de baixa estatura, vestindo uma camisa desbotada do Grêmio se aproximou e ficou observando o batuque, bem de perto dos instrumentos, quase encostando em uma das integrantes que concentrada tocava sua caixa. Sem interromper o ritmo do samba-reggae, o mestre foi lá e perguntou ao homem com a maior boa vontade se ele queria aprender a tocar. O sujeito negou o convite e permaneceu imóvel, de olhar fixo para as caixas.

O mestre então pediu ao homem que se afastasse um pouco. O rapaz não entendeu, ou se fez de desentendido, e continuou por ali. O ensaio foi interrompido e o mestre então pediu com educação e voz firme para que sujeito se afastasse, pois ‘estava atrapalhando’. Os membros do grupo começavam a perder a paciência com o cara, que com cara amarrada finalmente se afastou um pouco, continuando ali por perto.

O repique chamou, a batucada respondeu, subiu o ritmo e assim o ensaio ia voltando ao normal. O sujeito com a camisa do tricolor gaúcho estava visivelmente embriagado e começou a falar sozinho na praça. E não pareciam palavras lá muito agradáveis. Entre palavras incompreensíveis que ele soltava, o homem bradava que Florianópolis não tem samba, que nunca teve, que Santa Catarina não era terra de carnaval… E que era coisa de baiano, de macumbeiro…

Pra quê, né? Alguns integrantes do grupo ouviram, não gostaram nem um pouco e ficaram encarando o sujeito, que ora se aproximava, ora se afastava. Quando o mestre parou o som para passar uma outra música, o rapaz com a velha camisa do Grêmio aproveitou o silêncio dos instrumentos pra falar alguma outra merda. A galera do bloco nem deu muita bola e o ritmo logo voltou. Um grandalhão mal encarado de camisa regata, que até então apenas assistia o ensaio encostado no muro foi lá tirar satisfação com o homem.

Os dois discutindo e a batucada rolando... Não se ouvia muita coisa entre o toque das marcações, apenas a troca de ofensas e ameaças. O grandalhão disse que se não fosse o ensaio quebrava ele ali mesmo, em plena praça. O senhor gremista, muito menor e mais velho, não demonstrava medo algum e desafiava o gigante do alto de sua coragem etilicamente impulsionada. Na iminência da agressão física o pessoal dos tambores parou de tocar e alguns foram lá pedir calma aos dois cidadãos. O mestre também foi lá conversar com o gigante, ao mesmo tempo que um rapaz que tocava surdo, também grande e forte, foi tirar satisfação com o gremista.

- Fica de boa, fica na tua!

Tudo parecia resolvido. Cada um para um lado. O sujeito com a camisa do Grêmio foi em direção a catedral. O grandalhão rumo à Alfândega. Os ritmistas voltaram a tocar. Mas o grandalhão não quis deixar barato. Aproveitou o momento de distração e se lançou atrás do gremista, que ameaçava ter uma peixeira, escondida. Os dois seguiram discutindo de perto em direção à rua, a 50 metros de uma cabine da polícia. Um taxista foi lá apartar o bate-boca. Os batuqueiros do bloco revezavam olhares entre o rosto de seu mestre e a discussão que se aproximava da rua. De longe, os ânimos pareciam mais tranquilos, realmente parecia que dessa vez ficaria por isso mesmo.


Apenas parecia. O gigante foi até a Alfândega e arranjou por ali uma cadeira velha de madeira, bem danificada. E o senhor, que momentos antes provocara os batuqueiros, agora estava sozinho, próximo a um dos bancos da praça XV. O grandalhão de regata aproveitou o descuido do tiozão, que só percebeu que iria levar uma cadeirada na costela quando a própria cadeira (e os braços do grandalhão) vinham em sua direção. O gremista ainda tentou resistir. Só foi cair no chão na quarta cadeirada. Na sexta, os pedestres que por ali passavam contiveram o gigante em fúria, fazendo com que a sétima cadeirada acertasse apenas o chão da praça. E por lá ficaram. A cadeira e o senhor. O grandão logo saiu fora.

Já o gremista foi se levantando ao poucos, com dificuldades em permanecer de pé. Caminhava mancando vagarosamente. O ensaio, que já estava no final, não teve mais clima para continuar. O tempo estava com cara de chuva. Depois da cena, o mestre agradeceu a presença de todos e pediu para que lhe ajudassem a guardar os instrumentos na Fiat Doblô, estacionada ao lado da praça. Disse também, com um sorriso meio amarelo, que espera que o próximo ensaio seja mais tranquilo.

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Welcome to Torre de Babel

Num não-tempo, sem espaço próprio como sujeitos universais e anônimos que somos, eu e meu parça Welton fomos de motoca pra São Paulo, e lá demos aquele piãozinho, apézão mesmo. Já faz uns dois anos essa mão aí, que depois de muita ideia trocada, umas risadas e uns gole, entre diálogos e interações com vários tipos, várias cenas flagradas dos discretos e desinibidos personagens da maior cidade brasileira. Eu já nem morava mais lá, mas confesso que bateu aquela saudadezinha da babylon... Aí saiu um free, depois virou umas rima de final de caderno, e então se uniu com os videos curtos que eu vinha gravando no radinho. Segue o registro e a letra.



Quem tem mizuno sai de jet no pião da madrugada
Transporte público pagando o frete de obra superfaturada
É pé que passa apressado pedindo sempre passagem na viagem
Um, dois, três, quatro é quase cinco bilhão de passageiros
Nas linha da cidade que faz circular dinheiro e junto circula mágoa
De noite aqui sobra chuva, de dia aqui falta água
Por que o rio tá enterrado, largado, no condado acordado
Terra que não cochila, tem que andar ligeiro e não pode vacilar
Muita calma polícia, muita calma ladrão
Pra que o rolê não termine apenas em Consolação

É a madruga que te suga do Helipa à Brasilândia
Pois é na rua que cês frita achando que é gozolândia
Mas é que a lua traz consigo muito além da escuridão
Trabalhador que troca sonho pra tirar seu ganha pão
E entre shopping e sede de banco,
Num tom de pele que é menos branco,
Faz da passagem, à margem, tornar seu lar,
E deita ali com as reciclagem se apropria do não-lugar,
Onde o farol das nave chave ofusca vários olhar
Quando a Gomide tromba a Augusta na busca de achar um bar
Lotado de alma vazia, fumaça no ar que respira,
Garoa que não alivia, só não pira nas pira da noite logo que vira, Pela sombra vai na tranquila, relaxa, que o mundo gira
Nas calçadas escura e imunda que abunda fim de cigarro
Aperta o passo pra chegar na multidão de solitário
Na avenida feita pra carro, a luxúria quer mais um trago,
Enquanto uns baixa a cabeça outros passam tirando sarro
Mas a história muda na praça, quero ver você fazer graça Lá na parte da cidade 24h ocupada

Cultura alternativa na pura cannabis sativa Com a mente e a voz ativa, que sente a cidade viva Vive a rua que é sua companheira fiel Atua e sua, crua e nua, Welcome to Torre de Babel!

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Carona de volta para Florianópolis

Apesar da ida ter sido um tanto conturbada, continuei firme na ideia de pegar carona. Conhecer pessoas novas, viajar com mais liberdade e poder descer lá na quebrada eram algumas das vantagens pesadas na balança. Dessa vez o combinado era sair pela manhã da capital paulista. E eu, como um sujeito que não é lá muito amante das primeiras horas do dia, principalmente nos finais de semana, fiquei receoso em perder o horário e furar com o mano lá do aplicativo. Como partiríamos cedo num sábado, tive a genial ideia de virar a noite na sexta-feira paulistana. Assim eu me cansaria fisicamente, dormiria na viagem e não atrasaria o cara que ia armar a caroninha.

O tradicional samba da rua Treze de Maio era o meu destino. Pela facilidade de acesso e com muitas saudades de uma roda na rua, encostei lá com minha irmã. Não sem antes tomar uma gelada, merecida, é claro, no bar da esquina. E ela nem pra me acompanhar... A garoa teimava em fazer parte da noite. Eu só pensava positivo, pra não ficar doente, afinal, não ia ter canja de galinha. Enquanto ela procurava uma amiga, me aprocheguei da batucada. A rua tava cheia. Mas até que o caminhão da limpeza passava com facilidade. Aquele pagode reunia uma bela variedade social, com grande presença dos nego veio do Bexiga, ali no miolo, e também dos universitários do centro da cidade, bebendo seus drinks.

Minha irmã partiu. E o samba continua... A garoa ameaçou a virar chuva. E eu me encostei no muro da igreja de Nossa Senhora de Achiropita, ao lado duma rapazeada da minha idade que também curtia o rolê. Foi dali que ouvi o samba do Vai-Vai para o próximo carnaval. Mais cadenciado, é lógico, né, mas já deu pra sentir o peso do bagulho que vem por aí. E assim a turma do Madeira de Lei resolveu brecar, talvez para poder virar com tranquilidade o conteúdo de seus respectivos copos. Só, entre as gotículas de água e a fumaça que pairava na calçada, achei melhor caçar o que fazer, até porque meu relógio ainda nem marcava duas da manhã.

Vai no Bixiga pra ver...

Desci a Santo Antonio, longe de pensar em casamento. Vim desviando das poças e falando sozinho até desembocar lá na Roosevelt. Os bares estavam mais cheios que a praça. E eu estava com mais fome do que vontade de beber. Acendi um careta. O mano que tava na rua viu. Me olhou, mas não pediu. Eu passei reto, fingi esconder o maço. Me arrependi logo na próxima esquina do gesto egoísta, e retornei pra falar com o cara. Ele se pá guardava carros ali. Tava com mais dois. Dei dois cigarros, dizendo que estava pensando em parar de fumar.

- Ah, então dá o maço de uma vez, né?

Eu dei risada. Tinha comprado o Derby naquele dia, e não pretendia me desfazer dele tão facil assim. Segui minha caminhada Augusta acima, sem dar guela, entre filas de balada e viaturas policiais. Num determinado trecho lá, já quase chegando na Paulista, o fluxo de gente aumentou devido aos vendedores ambulantes de goró e seus clientes. Driblei caixa de isopor, lixeira e bicicleta, quando escutei um: "Ei, parça!".

- Cê num tem uma sedinha aí?

Opa. Fiz a noite do mano mais feliz, já com a intenção de retornar pra casa. Só fui ver que eram 3:30 nos relógios lá da Paulista. No caminho de volta, tinha um viatura na calçada da Nove de Julho. Mó breu. Clima pesado na cidade. Achei que ia enquadrar. Tinham matado quatro ou cinco, lá na Sul, na noite anterior. O cara nem olhou. Dobrei a esquina aliviado. Saiu um mano do ponto de taxi e já me questionou:

- Vai querer o que?

Agradeci e segui em frente. Ele insistiu, só que eu nem cheguei a decifrar a frase, tava cansadão já. Deixa a mercadoria dele pra quem tá no apetite, né. Subi até a cozinha mentalizando comida na geladeira. Lembrei de umas bananas que eu tinha. Das bolachas da minha irmã. Quando fui ver mesmo já era mais de 4 da matina. Encostei pra descansar um pouco, duas horinhas...

Levantei quebraaaaaado. E fui. Não podia rolar atraso! Tomei um banhão, peguei minhas fita e saí de estomago vazio. Claro que as bananas e bolachas tavam na mochila, né. O ponto de encontro ia ser lá na entrada do metrô Butantã. E dali até a estação mais próxima era chão, hein marvado. Fui tentar os busão que passam na Nove de Julho. Algum deles tinha que ir pra lá! Santo Amaro, não. João Dias, não. Jardim Ângela, não pô. Aí vem um comboio da Rota, à milhão. Eu olho no relógio e descubro que tenho meia hora pra comparecer no local marcado com pontualidade.

Num desses ônibus que pararam eu li 'Francisco Morato'. É perto, né motora? Avisei o maninho lá da carona que eu ia demorar um pouco. Não tinha trânsito, mas a cada ponto era uma parada que a lotação fazia. Assim foi até a Cidade Jardim, onde ela cruzou a ponte mas não seguiu reto até o metrô. Ish, era hora de saltar. O cara me ligando e eu dizendo que estava quase lá. Mentira não era. Eu só não sabia muito bem pra que lado andar.

Segui o fluxo de pessoas e logo um guardinha daquelas casas arborizadas da Zona Oeste me confirmou a direção correta. Apertei o passo, troquei a mala de ombro e fui. Foi fácil de achar o maluco, até porque o veículo da carona era uma Kombi, azulzinha, muito bem pintada. Tava ele e um outro mano, com um óculos tatuado no antebraço. Cumprimentei os caras, recusei o café na garrrafa térmica e ainda fiquei sabendo que, além daquelas tralhas lá atrás, um casal também viajaria conosco.

Enfim, partimos. Antes de sairmos da grande São Paulo a chuva encontrou a gente. O tempo tava cinza, e parecia que não iria mudar tão cedo. Na frente, os dois rapazes bolavam um cigarro atrás do outro, que, as vezes, chegava até mim. Relaxei assim que aprendi a travar a porta da Kombi. O papo no carro era sobre comida. Aí que eles explanaram que tinham comprado uns pães, que tavam ali atrás, que podia pegar. Só então aceitei o café da garrafa. Bem doce. O motorista disse que a mãe dele tinha feito. Lembrei do cheiro do café da minha mãe. Até que o assunto passou a ser família, a saída da casa dos pais...

Partiu região Sul! 

Ao lado do cara que vinha guiando, tinha um patrício mais ou menos com a minha idade. Ele contou que tava desanimado com o cursinho, que não queria pagar faculdade e partiu pra viajar. A ideia era chegar no Uruguai, mas não sem antes dar um mergulho em Floripa, né. Disse não ter nem onde ficar quando desembarcasse na ilha. O casal, ao meu lado, ja emendou que ficariam na casa de amigos, que parecia ser uma casa grande e tals. O meninão já tinha arranjado hospedagem, pelo menos por uma noite.

Seguimos de boas até o Vale do Ribeira, onde descobri que tinha uma gatinha viajando com a gente, no meio das bagagens. Pensei mesmo ter ouvido uns 'miau'. Ali também foi onde a kombizinha começou a vacilar. Parece que a terceira não tava engatando. Paramos num posto em Jacupiranga para dar uma olhada no câmbio. A primeira marcha também não estava entrando. O mano se enfiou embaixo da perua e saiu disposto a encontrar um mecânico. Antes, nos avisou que, além daqueles pães, tinham algumas salsichas. Armou. Tava na lara, mesmo.

Eu já tava no meu terceiro pão com salsicha quando ouvir o mecânico falar, com a voz abafada pela kombi:

- Ish, essa peça só lá na cidade.

Ele foi buscar de motinha, disse que era uns 20 minutinhos, mas já parecia ter passado mais de meia-hora. A moça tinha capotado lá dentro do carro. O namorado dela tava sentado ao meu lado, com uma cara de desânimo semelhante à minha. O rapaz do óculos no braço tinha ido procurar café pra botar na garrafa. E o motorista da kombi ora procurava sua gatinha através dos vidros, ora se deitava embaixo do veículo.

O mano enfim chegou e montou rapidinho o bagulho. Levou uma onça do piloto. Nós seguimos viagem rumo a serra do Cafezal. Tranquila, tirando algumas curvas em que o parça lá cismava em comer o acostamento. Chegamos ao Paraná, passamos pela região de Curitiba e, ao seguirmos rumo Santa Catarina, li de relance que era o último posto antes da serra, o próximo só depois de 50 km. Nem dez minutos depois o cara me solta que a gasolina estava acabando.

Paramos noutro posto, ainda no PR pro cara ver se abastecia. Só que aquele não era um posto de combustível, pelo menos não mais. Tinha apenas um restaurante, umas casinhas e uma oficina de caminhão, lá atrás. Nosso motorista até tentou comprar gasosa de um sujeito que trabalha no restaurante, mas um cara que chegou alguns minutos antes de nós já estava fazendo isso. A sorte é que no diálogo com a rapazeada lá de dentro ele conseguiu uma carona até o próximo posto, em Garuva, uns 45 minutos dali.

Durante as duas horas de espera que tivemos naquela kombi pude ouvir dois cd's que trouxe da casa da minha irmã. Um do Ataulfo Alves, outro de uma sambista paulistana que ela tinha ganhado no Sesc. Eu e outro moleque fumamos uns 4 baseados naquela espera. Os últimos, do lado de fora, porque o rádio da perua agora tocava rock. Deixamos a gata e o casal lá, mais a vontade, enquanto a gente tomava um ar e soprava a fumaça ali fora. O maninho entrou, disse estar com frio, e tava mesmo. Fui até o outro lado do posto, mijar ali na moitinha e aguardar um doido descer do outro lado da rodovia com três galões de gasolina no braço.

le gusta la gasolina

Depois que sentei na calçada, não demorou 10 minutos pro nosso piloto descer de um caminhão que encostava na beira da pista. Fui ajudá-lo, pois não aguentava mais aquela espera agoniante. Fomos cair na estrada outra vez com o dia já escurecendo. Ele contou que ninguém queria parar pra lhe dar carona de volta, que estava quase desistindo quando o caminhoneiro parou. Exausto e chapado, eu não acompanhava mais a música, nem os miados da gatinha, muito menos a conversa que rolava. Confesso que dei algumas pescadas.

Lembro das cidades catarinenses passando, da paisagem noturna, da chuvinha pingando no vidro. Alguns pedágios vieram e os caras ficaram na brisa de que toda atendente de cancela se chamava Maria. Só que, não. Descobrimos na quarta vez que era só coincidência. Passei a prestar atenção no caminho somente ao ver despontar no litoral a formosa Ilha de Santa Catarina. Naquele momento começaram os comentários entusiasmados a respeito da ilha, de suas praias e da vida noturna. A movimentação em novembro já era grande.

Ao sair da Br-101 avisei o piloto que morava na primeira a esquerda. Ele passou reto. Pedi pra descer ali na passarela do Monte Cristo mesmo, já era. Ele parou, mas como tava chovendo ainda resolveu me deixar mais perto de casa. Fizemos a volta por Campinas e pedi pra parar na frente da padaria. Subir a estreita ruazinha da Chico Mendes na kombi lotada de tralha com um motorista chapado às 11h30 da noite não me pareceu uma boa ideia. Mas tava 'polim'. A chuva até ameaçava parar. Peguei meus bagui, paguei o cara e agradeci.

Na entrada de casa uma barata veio me recepcionar. Liguei pra minha mãe avisando que cheguei bem. Larguei as coisas no chão e capotei no colchão sem lençol. Devo ter sonhado com a poltrona dum puta um ônibus-leito.