Esse elenco jamais será esquecido!
Outro triste marco no esporte esse ano foi a morte do pugilista norte-americano Muhammad Ali, o homem do século passado.
- Mas pera aí, e o Pelé?
Pelé é conhecido como o atleta do século passado. O maior do esporte mais popular no mundo. Ninguém jogou como ele. Ali, além de ser o maior nos ringues, era o maior fora deles. Recusou lutar na guerra do Vietnã, por se opor à dominação étnico-racial estadunidense no país. A guerra foi um desastre. Ali foi punido, perdeu dinheiro, ficou um longo período sem lutar, mas não abaixou a cabeça. Tal qual Malcolm X e Martin Luther King, foi um líder negro em um dos lugares mais racistas do mundo. Cassius Clay, como Ali fora batizado, faleceu em 3 de junho.
Se liga nesse clipe do Rashid, do som Quando Éramos Reis, mesmo nome do filme que homenageia Muhammad Ali:
Ainda na linha mundial, 2016 nos levou Prince, David Bowie e, mais recentemente, George Michael. Todos grandes artistas, ídolos do pop. Em terras brasileiras a voz grave de Cauby Peixoto também silenciou este ano.
Silenciou ainda os corpos musicais dos brasileiros Papete e Naná Vasconcelos. Ambos grandes percussionistas, reconhecidos internacionalmente e quase anônimos aqui no país.
Olha só Papete nos dando uma verdadeira aula de percussão e ritmos brasileiros com pandeiro, atabaque e berimbau; no programa Som Brasil, em 1988:
E mais dois mestres se foram neste ano. Mestres na cultura popular. Verdadeiros griots. São mais duas bibliotecas que desaparecem. Uma na arte do cordel, com a ida do paraibano Mestre Azulão, em 12 de abril. Outra na ginga da capoeira, camará, que perdeu o baiano Mestre Ananias em 21 de julho.
Deixo aqui um vídeo de uma roda de capoeira em Minas que explica por si só o título de mestre de Ananias Ferreira:
Nas letras, a perda também foi considerável. Umberto Eco e Ferreira Gullar se foram, mas deixaram seus valiosos escritos. Confesso que ainda não tive muito contato com a literatura do escritor italiano, mas sua obra acadêmica já me despertou o interesse. O maranhense me fascinou pela bela poesia. Nem um pouco pela crítica de arte ou análise política.
No audiovisual, quem nos deixou este ano foi o diretor argentino que vivia no Brasil: Hector Babenco. Ele realizou memoráveis filmes sobre nossa realidade social como Pixote - A lei do mais fraco, e Carandiru.
Cena do filme Carandiru, em que Sabotage contracena com Rita Cadillac
Só que a principal perda mesmo foi a de Mário Sérgio Ferreira: cantor, compositor e cavaquinista do Fundo de Quintal, o grupo que revolucionou as rodas de samba do Rio de Janeiro. Ele era paulista, de alma carioca. Embora fã dos caras, nunca cheguei a encostar numa apresentação do Fundo. 'Quase' fui umas três vezes. Ora pelo preço, ora por compromisso, ora por atraso mesmo. Em uma delas, na Virada Cultural da capital paulista deste ano, em maio. Cheguei no Sesc Pompéia para retirar o ingresso gratuito e fui informado que já estavam esgotados. Peguei ingresso prum outro show qualquer, que eu nem cheguei a ir. Voltei refletindo na oportunidade que eu acabara de perder, pensando seriamente em curtir o show do lado de fora, talvez tentar falar com os caras. Sei lá. É o Fundo de Quintal, né, velho! Não sabia quando teria essa oportunidade novamente. Na semana seguinte, em 29 de maio, num domingo, falecia Mário Sérgio.
Que 2017 seja mais calmaria, né? Menos atentados, menos chacinas, menos tragédias, menos perdas!
E mais força, que é pra gente enfrentar juntos o que vem por aí, porque o show tem que continuar...
Mas iremos achar o tom,
um acorde com lindo som
e fazer com que fique bom
outra vez o nosso cantar
e a gente vai ser feliz
olha nós outra vez no ar...