Cola cum Fróis

Escrevo pela necessidade de me livrar das palavras | @_dudufrois

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Seu Fróis, minha estrela cadente

Essa noite, um pouco mais cedo, fui dar umas voltas nas ruas do meu bairro. Ficar o dia inteiro dentro de casa não ajuda em nada. Precisava respirar o ar da noite, tirar alguma motivação da lua crescente, ou do céu estrelado do Vale do Paraíba... Num momento de distração desceu diante dos meus olhos uma estrela cadente. Linda e efêmera, eu pisquei e ela passou toda apressada, num sopro, pique a vida da gente.

Dizem que quando se avista uma estrela cadente é que a passagem da terra pro céu foi bem sucedida. Nem me liguei em fazer pedido. Pensei se tudo isso era mesmo real. Ela escorreu tão rápido pelo tecido escuro do firmamento que só consegui lembrar de sorrir.

Meu pai se foi num belo domingo de sol. O céu era azul, azulzinho. Da cor dos teus olhos. E fazia uma friaca tenebrosa... A madrugada de sábado foi a mais gelada de todo o ano. Quem sabe de toda a minha vida. Era dia dos namorados. Dia do terrível massacre que deixou 50 mortos numa boate em Orlando, cidade norte-americana que a gente não chegou a conhecer porque não nos deram o visto. Foi também o dia de derrota do Galo frente ao Cruzeiro, de vitória do Porco sobre o Corinthians (seus dois times: Atlético MG e Palmeiras) e do vexame da seleção brasileira contra o Peru, sendo eliminada da Copa América na fase grupos. Logo ele, que me ensinou a amar o futebol...

Foi sepultado em 13 de junho, dia de Santo Antônio, uma das poucas figuras religiosas do qual era devoto e que carregou consigo no segundo nome desde o batismo lá em 1939.


Efêmeras foram também as voltas que eu e a molecada da rua davam na caçamba da Montana, toda adesivada de fogo. A gente ficava brincando no portão de casa, trocando ideia e esperaaaaando o senhor chegar. Não me recordo da maneira como aquelas voltas no quarteirão começaram, mas parecem agora que duravam somente algumas piscadas de olhos, alguns flashs de adrenalina e risada.

Assim como os dias ao teu lado, que passavam depressa em qualquer lugar que me levasse: na oficina, na feira, na casa dum amigo, num restaurante ou, de vez em quando, lá pra Capital: São Paulo. Tudo era novo, contigo tudo era muito intenso. Já eu, ainda era muito menino pra te acompanhar. E logo antes que as estrelas do céu dessem as caras, você me deixava em casa. As vezes, nem ficava para o café...

Bom, acho que cresci um pouco, ainda que bem distante dos teus 1,80. Não te alcancei nem no tamanho do pé, nem no comprimento das unhas. Quem sabe nos cabelos brancos algum dia desses, né? 

Já até me guiava sozinho pelas constelações, mas sua presença continuava essencial pra minha órbita. Talvez por você ter conhecido e morado em tantos lugares, por suas casas serem sempre repletas de mapas, papéis, chaveiros e pneus; eu quis rodar sozinho meus oitocentos e cinquenta quilômetros. Quis mergulhar em águas que você não havia entrado. Sair do tedioso ritmo lento que o relógio marca aqui ao acompanhar o canto dos galos da vizinhança.

Confesso que meses atrás fiquei um bocado feliz com nossa conversa no telefone que quase chegou aos 10 minutos de duração. Recorde oficial! "Vai ver a distância aproxima mesmo as pessoas". Pura ilusão. O celular não capta emoção, nem conecta seus olhos com os meus. Saí em busca de liberdade, contudo, refém das empresas de transporte coletivo, passei a levar 16 horas para lhe dar um simples abraço de segundos. Até porque a gente nunca teve muita paciência para essas coisas aí, né. 

Efêmero memo, aos moldes da nossa despedida, senão eu perderia o meu ônibus.
Breve, como a última ligação, em que eu senti um desânimozinho na tua voz.
Ligeiro, tal qual a estrela cadente que corria no céu.
Passageiro, tipo os pensamentos que sopram na mente de vez em quando.
Que nem a lágrima que escorre no rosto.
Pois o sentimento, esse sim, é eterno. 

Ê vida, que voa!

Para sempre te amarei,
Wanderley Antônio de Menezes Fróis