- Traz sorte, né?
Tentei, em vão, buscar em minha mente o momento que tinha ouvido essa associação esotérica. Talvez quando molequinho, quando diziam que eu era sortudo que só. Talvez eu só tivesse me desencontrado da borboleta azul. Mas agora ela estava ali, sumindo e reaparecendo, bailando dentre as árvores magras e carregadas de folhinhas. Alguns cipós num tom marrom seco ajudavam a compor o cenário daquele voô tranquilo.
imagem meramente provocativa
- Cuidado com a cobra aí!, falou um tiosão, só pra assustar o guri que se agarrava num cipó. Ele riu sozinho.
Essa brincadeira besta levou meus pensamentos. Me perguntei o que realmente eu estava fazendo ali. Vai que, sei lá, surge uma cobra de verdade. Vish, roubou minha brisa. Comecei até a andar mais devagar, como se reparasse minuciosamente nas pedras e folhas da caminhada. Pensava duas vezes antes de botar a mão num tronco.
E foi na segunda indagação interna, logo após a primeira e reflexiva vistoria, que eu brequei o movimento de apoio que ia fazendo num galho da trilha. Estava ali, camuflado. E olha que não era nenhum inseto malandro. Tinha ali, na bifurcação do galho maior em dois galhos de igual proporção, um baseado fechadinho, inteiro, ainda não aceso. Minha reação foi de tentar lembrar quando é que eu tinha sonhado com uma cena parecida. Acho que algumas vezes. Ou será que eu vi isso num filme doidão?
Guardei pra acender num momento especial. E foi já devidamente purificado, ainda com o corpo todo molhado, que a gente iniciou o ritual. A cachoeira tinha umas pedras mais entocadas, que guardavam a mesma energia da vista do poço, um Poção. Repleto de misticismo e tranquilidade, como a dança com a brisa que a borboleta azul voltou a protagonizar, agora girando por entre as grandes pedras do poço. Com uns tímidos raios de sol, os últimos do dia, o azul claro das asas dela se revestia de um dourado marinho. Ou melhor, ribeirinho. Direto da Cachoeira do Poção, aqui na Ilha da Magia.