Cola cum Fróis

Escrevo pela necessidade de me livrar das palavras | @_dudufrois

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Rolê no centrão de Florianóplix

Ainda não devidamente enraizado mas já a vontade para falar de lugar, narrei minhas impressões cá nestas terras manezinhas. Não fui só, junto a mim estavam também outros estudiosos.

Tendo a escadaria da grandiosa Catedral Metropolitana de Florianópolis como ponto de encontro para a saída de campo duma disciplina que eu tô cursando, já voltei a mente pra influência histórica da religião católica sobre a formação das cidades brasileiras. Só que além de receber missas, casamentos e celebrações religiosas; e se tornar um ponto turístico, a catedral também virou uma espécie de marco social onde as pessoas se encontram, vão para o local para verem e serem vistas; marcam encontros, atos, protestos e até mesmo aulas de antropologia.

Catedral Metropolitana de Florinópolis 


Talvez pela grandiosidade da obra arquitetônica, as suas escadarias se tornaram referência geográfica da capital catarinense. Assim como a Praça XV, que se localiza logo em frente da igreja. Cenário da passagem apressada diária de milhares de pessoas, o local também é ocupado e, portanto, possui suas características particulares de público. Por lá é comum encontrar o espaço das barraquinhas de comida e artesanato, mais próximo à catedral; o espaço dos idosos que passam o dia jogando baralho e dominó, também próximos à igreja; o espaço dos moradores de rua, mais espalhados ao longo da praça, que se misturam com turistas e trabalhadores do centro que vão se refugiar ali; e os diversos tipos sociais que se encontram e se integram em meio ao centro histórico de uma cidade de quase meio milhão de habitantes. O espaço de cada um desses grupos sociais não é demarcado visualmente, mas habita o consciente coletivo de cada conhecedor do local.


antiga Casa de Câmara e Cadeia


Caminhando então pelos lados da Casa de Câmara e da Cadeia antiga, que hoje estão em reforma, a população vai se diversificando em cores e idades. Por se tratar de horário comercial, e aquela região abrigar muitos escritórios, o vai e vem de pedestres e carros é intenso pelas ruas estreitas. A localização dos chamados cursinhos pré-vestibular contribui para o fluxo. Porém, a vida ao longos dessas ruas dura conforme o horário comercial. Após o expediente a região vai ficando vazia, já que não existem grandes condomínios residenciais, e os prédios, mais antigos, não têm, em sua maioria, estacionamento e mais do que dez andares. O interessante é saber que uma ruela em especial da região ganha sobrevida à noite devido a concentração de bares: é a Travessa Ratclif. Ela atrai sobretudo jovens e pessoas que saíram do trabalho e vão para lá fazer o chamado “happy-hour”. Além disso, o local também é frequente palco cultural de sarais e apresentações regionais, dentre elas uma tradicional roda de samba da ilha.


Travessa Ratclif


Do outro lado da praça podemos notar com nitidez a diferença entre o passado histórico - e sua busca pela preservação - e a contemporaneidade. Nos prédios enxergamos antigas construções, com os traços da arquitetura europeia que colonizou a cidade. No entanto, nos mesmos prédios, na parte do solo, no qual é feito o contato direto com a população que por lá circula, vemos a apropriação atual do comércio de grandes franquias de lojas sobre o patrimônio histórico. Ou seja, num enquadramento distante, quase que panorâmico o centro da cidade aparece como que em sintonia com as raízes culturais de sua colonização. Entretanto, ao aproximar o olhar para a visão de um consumidor comum - seja ele morador ou turista - o que vemos não são mais elaboradas construções; e sim banners, anúncios, letreiros e placas de ofertas das diversas lojas ali instaladas.


o novo Mercado Público


Chegando ao agora reformado mercado público podemos nos dar conta de maneira mais clara da situação referida. Restaurado conforme sua construção original o mercado está pintado e com aparência nova. Adentrando o local, já podemos encontrar fast-foods, além de bares e restaurantes de maior requinte. Isso seleciona de tal forma o espaço dando a impressão de quase um shopping com ares coloniais. Ou seja, a estrutura mantida; só que o que é comercializado se altera de acordo com a demanda do mercado, desta vez o financeiro.


Rua Vidal Ramos


Shopping realmente é a rua Vidal Ramos, o chamado shopping a céu aberto. Tendência também importada de fora, ela se tornou uma espécie de Open Mall ao abrigar lojas com pouco mais requinte do que as outras, espalhadas pelo centro de Florianópolis. Seu público é ainda mais selecionado, de acordo com o preço do que é vendido. Toda largura da rua é pensada para que o consumo ocorra, que nem em shopping. Carros andam devagar numa passagem estreita. Pedestres circulam com folga e com ampla visão da entrada das lojas. A iluminação é mais elaborada, e banquinhos, como que em uma praça de alimentação, integram o detalhado cenário da Vidal.


feirinha do Largo da Alfândega


Voltando para o terminal de ônibus trombamos a feirinha da Alfândega, que é onde a circulação de pessoas é mais intensa, diversificamos ao máximo o nosso contato com as pessoas. Entregadores de panfletos são comuns. Seu conteúdo vai de puteiros à cursos de capacitação profissional. Abordagens por ali também são frequentes. Distrações, muitas vezes com o celular, em meio a aglomeração, podem interromper o intenso fluxo contínuo. Desde ambulantes até vendedores de chips das maiores operadoras de celular. O comércio de pequenos acessórios artesanais também é numeroso e é feito em sua maioria por estrangeiros.

De resto, é o andamento do contingente natural da cidade de Florianópolis. Engravatados quase que se esbarram em andarilhos. Estudantes bem-humorados contracenam com turistas curiosos... As estreitas ruas do centro histórico são barulhentas por isso. Conversas, pessoalmente e no celular, anúncios e o barulho de passos se entrelaçam, deixando quase que imperceptível o som dos carros não-tão distantes. Música as vezes faz parte do som ambiente, onde artistas vão fazer da calçada apertada de cada dia de trabalho o seu palco.