Essa repercussão negativa (e tendenciosa) na imprensa em geral mostra nada mais do que a realidade da cidade de São Paulo hoje. Se num lugar onde a violência aparece diariamente em forma de mortes e assaltos, não é no maior evento gratuito que isso iria desaparecer. Falta segurança sim. Mas não na Virada do dia 18 pro dia 19 de maio propriamente,. Falta segurança em todas as outras 364 viradas também. Afinal, quem se sente seguro numa madrugada de Sampa? E eu acho que mais e mais polícia não é nenhuma solução.
Como eu não vim aqui falar sobre segurança pública na cidade de São Paulo, eu digo sim que a Virada foi excelente. Excelente pra cultura, pra música, pro centro, pro povo e pros artistas também. Como o próprio nome diz; foi a Virada CULTURAL. Um dia inteiro para espalhar cultura pela cidade. 24 horas de atrações gratuitas por aí.
Cortejo que ocorreu pelas ruas do centro.
Tinha de tudo. Tinha até alguns palcos que eu não achava nem um tanto quanto "culturais". Mas o povo gosta disso também. E tinha teatro, tinha cinema, tinha intervenção urbana, tinha sarau, tinha rock, brega, rap, samba, mpb... Tinha gente! Muita gente! Dizem que cerca de 4 milhões de pessoas. Cada um de seu lugar, cada um com sua história. Acho que foi a maior diversidade que eu já vi.
Vi na mesma esquina o prefeito da cidade e um morador de rua marxista e totalmente bêbado. Vi um catador de latinhas descalço dançar sertanejo com um sujeito todo bem vestido, e que até deixou a mulher de lado. Depois apareceu um menino de mircoshorts que pegou a latinha de cerveja cheia do tal catador e saiu rindo. Quase deu briga. Do meu lado Nelson Triunfo conversava com fãs, do outro uns moleques subiam na marquise de um prédio com latinhas de spray. Na minha frente caminhava a protagonista da novela das 21h que passou tempos atrás na tv. Do outro lado da rua, 10 ou 15 meninos corriam de alguma coisa. E todo tipo de droga rolava livremente. Naquele dia pelo menos, tudo era legalizado. Ninguém reprimia ninguém pela droga que usava. O cenário era realmente diverso. Realmente multicultural.
Só acho que essa superconcentração no centro atraiu tanta gente, que dificultou o acesso a várias atrações. Andar na rua ás vezes era difícil. E olha que o palco mais próximo ficava à uns três quarteirões. Acredito que nas quebradas da cidade tem muita praça legal, tem muito espaço legal, que pode servir perfeitamente de palco pra algum evento. Acho maravilhoso ocupar o centro, mas tem que ter também a opção pra quem não quer sair do seu bairro. Nem que sejam essas tais pistas eletrônicas. Fica a sugestão aí.

Show dos Racionais na tarde de domingo
Agora em relação aos shows que eu fui, só tenho uma coisa a dizer: foda! Foda ver Rappin' Hood cantar rap e samba praquela multidão. Que swing legal que rolou, que balanço gostoso. Foda também era ver a Rio Branco pulsar RAP. O espaço era do RAP. E ver Edi Rock envolver geral em plena madrugada também é foda. Foda eram os sarais que rolavam em torno do viaduto Sta. Efigênia. E o Z'áfrica Brasil então? PEI! O teatro na Roosvelt também foi foda, apesar do atraso e do som extremamente alto. Foda mesmo era o palco Julio Prestes! Pegar um pouco de Sérgio Reis foi muito bom aquela hora da manhã... Mas ver Criolo e Racionais MC's passando aquela mensagem pro povão... Ah, aquilo sim era foda. Aquilo sim é cultura pro povo. Aquilo sim é a cara de São Paulo. Aquilo sim é a Virada Cultural. E aquilo não pode ter sido tão ruim assim como eu vi dar no noticiário dia seguinte.
O que fica do evento sem dúvidas é o poder que o povo tem. É que a gente dessa cidade é muito maior do que a grandeza de seus prédios e avenidas. Como é bom ver o povo na rua, sem pressa, sem stress de trabalho. O lugar do povo é na rua, e o da cultura também. Não só na virada cultural. Sempre que possível a população deve ir ás ruas. Sempre que possível a cultura tem que ser passada pra frente. Sem medo. O ano todo! Ah se o povo soubesse o poder que têm...
Por fim, deixo abaixo a música que ouvi tocar duas vezes na virada, e que seu refrão ficou grudado na minha cabeça (junto com a fumaça alheia pela qual estou tossindo até agora) durante uma semana. Sente a só vibe: